Eu não sei exatamente o que esperava quando falei a Jungkook sobre vestir roupas que o deixassem com cara de bom moço — como também não sei se ele levou a sério a instrução –, mas eu com certeza sabia o que não esperava. A jaqueta de couro, a camiseta branca e a calça jeans escura não chegam nem perto da ideia predeterminada, até porque elas só conseguem gritar uma única coisa: problema.
E algo me diz que ele fez isso por pura teimosia.
Não que eu esteja reclamando da vista...
Desde que nós chegamos ao restaurante e nos encontramos com os meus pais em uma mesa afastada da entrada, sua presença tomou conta do ambiente inteiro. Não só por causa de sua óbvia boa aparência e seu perfume frutado, mas como também por mamãe ser invasiva o suficiente para lhe direcionar dezenas de perguntas sem vergonha alguma; e o tornar, assim, o principal assunto do almoço.
Eu já esperava por isso, não havia qualquer outro motivo para esse encontro, mas não consegui me manter impassível quando a primeira pergunta do questionário nonsense de mamãe dançou entre nós. Eu me encolhi entre os ombros no mesmo instante, meus olhos correndo para qualquer lugar que não fosse Jungkook e sua possível resposta atravessada. As lembranças recentes de seu olhar sério em reação à minha curiosidade parecendo mais vivas do que nunca.
Entretanto, para minha enorme surpresa, ele cedeu.
Jeon Jungkook nasceu em Busan e é três meses mais novo que eu. Tem uma irmã mais velha formada em medicina, os pais cuidam de uma panificadora de bairro e seu objetivo de vida é trabalhar com produção de jogos. Odeia carros sedan e seus doramas favoritos são Vampire Prosecutor e Doctor Stranger.
A fina cicatriz em sua bochecha, que eu nunca havia percebido, foi feita por uma concha em uma de suas idas à praia. E assim que ele sorri aberto para minha mãe ao terminar a história, eu me pego prestando atenção em absolutamente tudo o que ele faz e fala. Talvez seja pela forma como ele exala confiança e conforto ou pelo fato dele se moldar com facilidade em todos os assuntos falados. É como uma caixinha de agradáveis surpresas quando menos se espera e não evito pensar que talvez ele seja assim de verdade, longe de todo esse lance de acompanhante de aluguel. Há uma segurança aparente, algo que lhe faz parecer muito mais interessante do que antes. E, sem que eu perceba, eu estou o observando com uma atenção redobrada em uma busca secreta por detalhes que nunca havia notado.
Olhos, boca, nariz, cabelo e orelhas. Tudo sendo analisando milimetricamente enquanto ele ainda parece afundado nas perguntas de mamãe. É fácil lhe observar do outro lado da mesa, sentindo seus pés encontrarem os meus sem querer. Daqui eu consigo ver como seus olhos amendoados brilham muito mais em ambientes fechados, como também consigo ver dois outros brincos nas orelhas que não havia percebido antes. E que talvez sejam propositais para fugir completamente da imagem de bom moço que pedi que fizesse.
Talvez a teimosia cretina de Jungkook tenha sido a principal responsável pela minha negligência aos seus detalhes. A pintinha logo abaixo do lábio inferior, a forma que seu cabelo bagunçado o deixa ainda mais bonito e como seu nariz se enruga de um jeito infantil toda vez que sorri. E talvez, mas só talvez, eu pense em como ele deveria sorrir mais vezes.
Eu me sinto mergulhar na sensação de estar redescobrindo Jungkook por inteiro, em cada mínimo detalhe, um segredo aqui e outro lá.
— Você pretende ficar em Seoul depois da faculdade ou voltar para Busan?
Sou arrancada de meu devaneio pela voz de mamãe. A pergunta vem ingênua, mas eu sei que há uma intenção clara por detrás disso. Há uma segunda, terceira, quarta intenção como em todas as outras perguntas feitas anteriormente.
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Acompanhante de Aluguel • Jungkook
Romance[CONCLUÍDA] Jeon Jungkook não era nada do que dizia o anúncio. Se Yerin precisasse o descrever em poucas palavras, usaria logo: universitário ferrado, mal-humorado e caro. Mas com as cobranças matrimoniais da mãe, o histórico de um término de namoro...