15. A vida precisa de tempo para mudar e a gente também

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NÃO É O ÚLTIMO CAPÍTULO!

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É meados de julho e o verão vive seus dias mais quentes e brilhantes. O sol cobre cada superfície de Seoul; ele é forte, potente e nada piedoso. Ele também cai sobre as escadarias de pedras e os bancos de madeira do campus, assim como por todo o restante do caminho que nos leva até o prédio dos dormitórios. O cimento que cobre o percurso parece expulsar todo o calor direto para as nossas pernas e o único vento que balança nossas vestes é um bafo quente e pedante.

É como o inferno, mas é muito melhor do que o lugar em que estive nas últimas semanas.

Desvio de universitários destrambelhados e caminho vagarosamente ao encalço de Sorn, meus ombros ardem e meus olhos são dois fiapos de vista insossos. Penso em parar no meio do caminho, entre uma escadaria e outra, como também penso em sentar aqui mesmo, nos degraus de passagem. Mas o pensamento vem e vai embora, se pararmos agora, talvez não consigamos reunir coragem e força o suficiente para continuarmos depois.

— Tem certeza que não quer trocar? — Tento pelo que deva ser a quarta vez. Sorn insistiu em me ajudar com as malas assim que me viu descer do táxi, mas acho que não esperava que a escolhida fosse tão pesada assim. — Você pode ficar com a mochila.

— Não! — Ela brada, as bochechas repuxadas em um sorriso alegre e determinado, mas terrivelmente exausto. Seu ritmo é muito mais lento do que o inicial. — Já estamos quase lá, só mais um pouquinho.

— Se mudar de ideia, fale.

— Não vou. Estou ótima! — Ela se vira por um instante, só para que eu veja seus cabelos curtos bagunçarem com o movimento. — Hoje o dia está bonito, você finalmente voltou, nossos cursos de verão estão prestes a começar... Eu me sinto revitalizada. Sério, me sinto imbatível!

Acabo rindo, mesmo que o riso saia arrastado, quase sem energia. O discurso otimista e perseverante de Sorn tem a ver com todos os cursos de desenvolvimento pessoal que fez nas férias. Parece que esse foi o único jeito que ela encontrou de despistar a maioria dos convites de reuniões familiares.

— Mudou tanta coisa no campus, você precisa ver. — Diz entre lufadas depois de um tempo, enquanto suas pernas quase trançam com os passos bambos. Sua chegada foi há dois dias, antes da maioria dos estudantes. — Reformaram o refeitório, pintaram as paredes dos dormitórios, abriram um novo café e agora tem uma máquina de biscoitos na biblioteca.

Não consigo lhe responder, estou cansada, mesmo que o que diga seja realmente impressionante. Quer dizer, é como se uma vida inteira tivesse se passado até eu chegar aqui outra vez.

— Também fizeram um espaço reservado para animais de rua, sabia? — Seu rosto está virado para frente e, por conta disso, sua voz é um tanto abafada agora, ouça-a longe. — Quem cuida é o pessoal de Medicina Veterinária.

Assinto, mesmo que ela não veja. Começo a sentir meus joelhos vacilarem e tento então prestar atenção nos passos que dou, um de cada vez. É como se a qualquer instante eu possa tropeçar de graça. Sorn engata em mais uma enumeração de mudanças pela universidade; há novas plantas nos corredores e um anfiteatro especial para as apresentações dos estudantes de Teatro. Existe também alguma coisa sobre a entrada principal do campus e distribuição de brindes aos alunos, mas não consegui absorver muito bem a informação.

— Eu fui lá ontem e é tipo um kit com canetas gel e cadernetas de anotações. Eu estava esperando alguma camiseta, sabe? Eu adoro essas camisetas grátis, porque sempre são grandes e ótimas para usar de pijama.

Acompanhante de Aluguel • JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora