Lá estávamos nós dois, percorrendo a parte mais escura da floresta procurando os Nieblings (a raça de Guts)que haviam sido capturados por humanos. Conforme avançamos na profunda e fechada floresta, vimos mais criaturas surreais, Guts me dava informações sobre as espécies que apareciam no caminho. Por exemplo, demos de cara com um Ente, que é uma árvore realmente viva e com consciência própria, com um rosto no tronco e braços de galho. O Ente, que se chama Godilek nos disse que por ser conectado com toda a floresta, sabia onde encontrar os caçadores. Ele falou que estes estariam numa cabana de madeira no fim da floresta.
Depois de passar por alguns obstáculos naturais (Rios, buracos, relevos,etc) chegamos no fim da floresta que dava bem no começo da montanha que eu deveria subir para chegar ao castelo de Kisala. Escondemo-nos atrás de arbustos e esperamos. Vimos eles saírem da cabana, eram homens fortes e carrancudos, portando consigo arcos, aljavas e outras armas de corte. Aproveitamos a saída dos caçadores para adentrar a cabana. Ao pisar no primeiro degrau que levava à porta, sinto algo agarrar meu pé e tudo ficar de ponta cabeça. Eu caí em uma armadilha de corda, ficando pendurado de cabeça para baixo. Pego minha espada curta e cerro a corda, o que me faz cair de costas nos degraus de madeira. Minhas costas doem, mas não podemos parar agora.
Abro a porta. É uma cabana comum, na medida do possível. Há celas espalhadas em um canto, em uma delas vejo vários Nieblings, uns dez ou mais, a cela está presa ao chão. Ao verem Guts ali comigo, trocam sua expressão triste por um sorriso. Mas agora cai a ficha, a jaula está fechada logicamente. Procuro as chaves pelo lugar. Nada. Claro que eles não deixariam as chaves aqui, como sou idiota. Passaram-se alguns minutos desde que entramos, isso me deixa preocupado. Ouço passos nos degraus causando aquele rangido desconfortável. Temos de nos esconder bem rápido, mas aonde? Vejo um sofá do outro lado da cabana, vou até lá e me escondo atrás, Guts vem logo atrás de mim.
A porta se abre, e eles começam a entrar, se gabando por alguma caça bem sucedida. Eles se espalham pela sala principal. E começam a conversar, eles só diziam besteiras, mas algo me chamou a atenção.
— Viram o último discurso do Professor Phoebius? — Perguntou um deles, nenhum dos outros se pronunciou, devem ter acenado com a cabeça. — Foi na cidade de Mogis. Ele disse que descobriu como funcionam os Wytoks e mestiços. A tribo Wytok chegou na ilha muito antes, nessa época havia caído um meteoro aqui, que transmitia uma energia estranha para quem chegasse perto. Com o tempo, ele perdeu toda essa energia, virando apenas pedra. Daí nós chegamos, houve o conflito Wytok-Draxar. Bom, o ponto em que quero chegar é: Wytoks tem essa alteração no corpo e vão passando isso de geração em geração, como também somos humanos, podemos ter certa compatibilidade com o que há no corpo deles, não muito, claro.
— Não já sabíamos de tudo isso? — Disse outro homem.
Não é o sangue exatamente, tem algo nele, algo diferente, que o deixa azul. — Disse o primeiro homem. Agora que paro para pensar, não vi meu sangue ainda, será que ele é azul ou vermelho? Pode ser esse o motivo de eu estar na montanha. Então eu seria Wytok ou cria de um com um humano comum? Estava tudo indo bem, ainda não sabiam de minha presença, até que dou um pequeno espirro, o que acaba me denunciando. — Tem alguém aqui! Matem! — Gritou ele. E agora o que faço, é só questão de tempo até me acharem. Pego minha espada e pulo de trás do sofá entre eles. São três, estão me olhando, todos são barbudos com cabelos desgrenhados e carrancas feias, um deles empunha uma machete e ri de minha cara. — Vamos te cortar e dar aos cães!
Eles avançam, o problema é que eu não sei manipular minha arma. Eles golpeiam, me esquivo do jeito que posso, mas estão me jogando contra a parede, rebato alguns ataques que estes tentaram desferir, eles são fortes. Estou encurralado. Estou encurralado, tudo que posso fazer é me proteger. Um formigamento passa por meu corpo e sinto um calor crescer. Um clarão explodiu em toda a sala. Os caçadores agora estavam com as mãos nos olhos, sem conseguir enxergar. Passo por entre eles, sigo em direção á chave. Mas eles me escutam. Guts aparece e joga sua pequena lança contra o caçador que estava na frente dos outros, chamando sua atenção. Isso me dá tempo de abrir a cela onde estão os Nieblings. Todos fugimos dali.
Acho que não é a ultima vez que encontrarei com esses homens, eles não parecem ser do tipo que deixa um alvo escapar. Eu devo ser um alvo agora. O que importa é que estamos de volta à vila de Guts. Todos os Nieblings me agradecem, agora sou uma figura importante? Só sei que ganhei um banquete, o único problema é que comi muitos pratos, ou pratinhos, como preferi chamar, afinal eles são pequenos. Quando eu me dirigia ao meu caminho, Guts me chamou.
—White. — Ele levava consigo sua pequena lança e uma mochila. — Vou com você e te ajudarei no seu caminho.
— Você não tem que liderar a vila? — Ele pigarreou algo sobre colocar um novo líder, alguém que não deixaria isso ocorrer novamente. Bom, não vou me opor a isso. — Então, suba no meu ombro e vamos. Rumo ao castelo. — Aponto para cima, não é possível ver o topo da montanha.
Enquantoandávamos até a montanha comecei a pensar sobre o que aconteceu na cabana doscaçadores, aquela sensação, aquele poder, a luz que saiu de mim. Isso seria umpoder Wytok? Tudo que está acontecendo comigo me dá sinais, isso me deixa muitofeliz. Chegamos à base da montanha. Olho pra cima. A subida é toda rochosa, nãoparece haver muitos pontos para escalar, muito menos descansar. É, essa vai seruma longa escalada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ritual
RandomO que você é capaz de fazer por liberdade? A jornada de uma pessoa determinada a alcançar uma saída.