Nós

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   Podia ver Jungkook... e ele estava no banheiro. O ácido corroia suas vestes, ele tentava agarrar a borda para subir, mas inutilmente. Aquilo era nojento. Não devia olhar.
Mas ele queria olhar, queria vê-lo se afundar no liquido  mordaz, cruel e corrosivo. Ele o merecia: merecia afundar-se, merecia ir se juntar àquele pobre rapaz inocente.
Em pouco ele ficaria livre de ambos — da vítima e seu algoz; do namorado e do bisbilhoteiro — corroidos na substancia quimica... Deixá-lo que se afogasse no sujo.
Era bom que estava desaparecendo para sempre, e ele nunca mais pensaria nisso. Mas o podia ver respirando com dificuldade, o que também o fazia respirar com dificuldade; sentia sufocar-se junto com ele, e depois... (era sonho, tinha que ser sonho!) o namorado estava em pé no chão firme, proximo à banheira... e era ele que se afundava! Estava com ácido por todo o corpo e ninguém o vinha salvar, socorrer — a ninguém se podia agarrar, a menos que o namorado lhe estendesse os braços. Só ele o poderia salvar! Ele não queria se afogar, não queria ficar sufocado, ter o corpo corroido, não queria desaparecer do mesmo modo pelo qual o rapaz-bisbilhoteiro desapareceu. E se lembrava por quê ele esteve ali: era porque fora assassinado; e foi assassinado por que representava o adultério. Ele próprio quis matá-lo, pois o namorado lhe ensinara o mal e os caminhos do mal, dizendo-lhe
“não deixarás viver um ancipite”.
Assim pois, o namorado não fizera outra coisa senão o proteger e ele não podia vê-lo morrer. Ele não errara. Agora precisava dele, e embora fosse louco, não o deixaria ali para morrer. Não podia deixar.
O liquido asqueroso fazia movimento de sucção em tôrno de si, beijava-lhe os lábios; se abrisse a bôca o engoliria. Mas precisava abri-la para gritar, e realmente gritava: — Jungkook! Jungkook! salve-me!

Então se viu fora da banheira, em sua cama, em seu lugar, o corpo encharcado, mas era suor. Agora sabia que fora sonho, mesmo antes de ouvir a voz dele junto à cama.
— Não houve nada, meu amor. Estou aqui. Tudo está bem.
Sentiu a mão lhe acariciar a franja — mão fria, como o suor que principiava a secar. Quis abrir os olhos, mas o ouviu:

— Não se preocupe, amor. Torne a dormir.

— Mas quero lhe dizer...

— Já sei. Vi tudo. Fêz o que devia, Jimin. Agora está tudo bem.
Sim, devia ser assim. Eles estavam ali proteger um ao outro. Antes de readormecer, havia decidido. Nenhum dos dois falaria a respeito do que houve naquela noite. Nem agora, nem nunca. Não importava o que ele fizera: o lugar dele era ali, junto a Jimin. Talvez fosse mesmo louco, ciumento e assassino — mas era tudo para ele. Tudo quanto desejava. Tudo o de que necessitava. E enquanto adormecia, bastava-lhe saber que ele estava a seu lado.
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Tarde, de sexta. Jimin fez a barba. Fazia-a apenas uma vez por semana, sempre na sexta-feira.
Não gostava de fazer a barba por causa do espelho e suas linhas ondulantes. Todos os espelhos têm linhas ondulantes que atrapalham a vista.
Talvez seus olhos é que estavam em mau estado. Sim, era isso, pois gostava de se olhar no espelho.
Gostava de ficar em frente do espelho grande, nu.
Certa vez Jungkook o viu em frente ao espelho, estava se masturbando. Sentia falta do namorado, mas não queria incomoda-lo com seus desejos sexuais. Pensava no namorado, suas mãos, labios e cheiro eram o que lhe dava estimulo, sentia-se enojado pois sabia que Jungkook não gostava do que fazia, mas estava tão embargado com o momento que esquecera que ele dormia no quarto ao lado, quando uma pancada na cabeça com a grande escova de cabelo impediu-lhe de gemer mais uma vez seu nome. Deu com força e doeu muito. Jungkook lhe dissera que aquilo era muito feio — fazer aquilo e ainda olhar-se no espelho.

Ainda se lembrava de como lhe doera e como a cabeça ficou latejando. Daí em diante sentia dor de cabeça cada vez que se olhava a um espelho. Finalmente foi a um oculista e o oculista disse que ele precisava de óculos. Os óculos ajudaram, mas ele continuava a ter dificuldade em ver com clareza quando olhava em espelho. Deixou de olhar, e só o fazia quando era impossível evitá-lo. Jungkook tinha razão. Era feio a gente estar a se basturbar e ainda olhar-se todo nu.
Quando se olhava ao espelho, queria ser outra pessoa.
Era como se fosse duas pessoas — a criança e o adulto. Quando pensava em Jungkook voltava a ser criança, usava vocabulário de criança, pontos de referência de criança e suas reações emotivas eram infantis. Mas quando era ele mesmo — não, em verdade, por si mesmo, fundado num livro — era homem maduro. Suficientemente maduro para compreender que talvez fosse vítima de uma forma benigna de esquizofrenia, de uma provável neurose latente.
Concedido: a situação não era das mais saudáveis...
Sorte de Jungkook era ele saber quando ser homem; saber alguma coisa de psicologia e também de parapsicologia.
Teve sorte quando apareceu Min Yoongi
Se não tivesse agido como adulto, Jungkook estaria agora numa trapalhada!
Passou o dedo pelo fio da navalha. Estava afiada, muito afiada. Cuidado para não se cortar! Sim, e teria de escondê-la quando acabasse de fazer a barba, escondê-la num lugar onde o namorado não a pudesse descobrir. Não podia deixar ao alcance dele uma coisa assim afiada. Razão por que ele mesmo cozinhava e lavava a louça. Jungkook ainda gostava de limpeza — o quarto deles era limpo como o que há de mais limpo — mas era ele quem se encarregava da cozinha. Não que Jungkook lhe tivesse ordenado alguma coisa diretamente: ele apenas se encarregou de tudo.
Jungkook passou a maior parte do tempo em repouso no quarto e não tinha grande coisa a dizer. Talvez a consciência o atormentasse.
E assim devia ser. Terrível, um assassíno. Mesmo que não se esteja bom de juízo, sabe-se que é. Ele devia estar sofrendo um bocado...
Jimin também sofria. E não era a consciência que o atormentava — era o medo.
Esperou, toda a semana, que alguma coisa saísse fora dos eixos. Acometiam-no frequentes sobressaltos. Cada vez que parava um carro perto da casa. Até mesmo a sua simples passagem pela rua era bastante para o deixar nervoso.
Nenhum vestígio suspeito. Jimin se sentia razoàvelmente seguro.
Jimin sentou-se e folheava um dos seus livros de psicologia . Havia pouca luz: devia ser cinco horas. Acendeu a lâmpada.
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Calma, calma, nós sabemos que merecemos uma surra hahaha sumimos do nada, né? Pedimos desculpas por isso :(
Tentaremos ao máximo não demorar da próxima, mas às vezes... sacomené kkk
seríssimo, nos perdoem e não desistam da gente!!
aliás, esperamos que tenham gostado do -pequeno- capítulo, ansiosos pelo próximo?? hmm, talvez algo peculiar aconteça haha no spoiler!!
até o próximo?? ♡

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⏰ Última atualização: Jun 24, 2018 ⏰

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Psicose • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora