Capítulo 36

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Capítulo 36 • Pov Regina

Voltei pra casa com um sorriso largo no rosto, eu e Addie trocamos número e ficamos de marcar algo com Zelena algum dia.

Abri a porta e fui direto pra cozinha, vendo Zelena terminando de passar pano na minha geladeira, deixando-a brilhando. Ela sabe o quanto eu amo aquela geladeira. Toda a cozinha estava arrumada, tudo nos seus devidos lugares.

-Hum, nada mal. - ela me encara cruzando os braços.

-Como é que é? Você me obriga a limpar a sua cozinha, fazendo-me de faxineira, e diz isso?! - fala tentando uma postura séria.

-Nossa, você é horrível querendo ficar séria. Você só combina sendo palhaça! - rimos. -Cadê a Emma?

-A coitada ainda está no escritório. - sorrio e vou em direção do mesmo, batendo na porta e entrando em seguida.

-Oi, amor. - lhe dei um selinho.

-Oi... - suspirou.

-Ta bom, depois você estuda mais. - ela sorriu e fechou um dos livros que estava sobre a mesa. -Mas... você irá ver se tem alguma matéria que precise melhorar, tudo bem? - ela assentiu e sentou-se no sofá, me chamando. Sentei e ela encostou a cabeça em meu ombro.

-Vou recuperar minhas notas, é só... é muita coisa acontecendo, aí eu perco a paciência e não faço nada. - respirou fundo.

-Sabe que pode conversar comigo qualquer coisa, não sabe? - ela assentiu. -Como está? - perguntei, pois sei que ela quer falar algo. Ela precisa disso.

-Eu estou bem, amor. É só difícil me olhar no espelho e não relembrar tudo que passei. - me encarou e deu um sorriso sem humor. A deixei continuar, pois senão ela mudaria de assunto. -Eu me olho e vejo uma cicatriz em minha coxa, eu a toco e lembro de tudo, sabe? Tenho cicatrizes em meu corpo, fazendo-me lembrar de tudo, de cada acontecimento, cada golpe desferidos com raiva... - seus marejados, me parte o coração. -Ainda tem isso! - levantou os braços, mostrando os pulsos. -Tenho cicatrizes profundas que eu mesma fiz! - realmente, as cicatrizes são profundas, nítidas. -Fora que a polícia está sem notícia de Graham. - disse, fazendo-me engolir em seco. -Ainda tem Mary e sua perca de memória! Ela se recusa acreditar que permitiu que Graham fizesse isso comigo, a forma que ela fala, me faz sentir pior do que já estou. Pra ela é um absurdo uma garota de dezesseis anos, grávida. - suspirou -Para muitas pessoas é um absurdo, mas ela é minha mãe, entende? Dói ouvir isso da boca dela, e saber que ela teve grande parcela de culpa. Eu tentava, amor! Juro que tentava, mas ela nunca me ouvia. Eu a chamava pra conversar e ela dizia que não podia, pois tinha compromisso com Graham e me deixava em casa, apesar disso, eu ainda ficava acordada esperando ela chegar, com medo dele ter feito algo contra ela. E eles chegavam aos beijos, ela ficava furiosa por me ver acordada e me mandava subir. - era a primeira vez que ela falava de quando morava com eles, Emma nunca quis fala sobre. -Eu tentava de tudo! Ele ficava muito próximo, não escondia os olhares sobre mim, e por muito tempo foi só isso. Mas aí ele tentou me tocar e quando ela não acreditou em mim, eu fiz meu primeiro corte. - deixou que as lágrimas rolassem. Arrisquei perguntar:

-Por que não contou pro David?

-Ah Gina... ele me ameaçava, ele dizia que faria mal a meu pai e a Ruby, eu não permitiria isso. Eu sabia o que era sofrer na mão dele e não queria isso pra minha irmã, e também não queria que ele fizesse algo contra meu pai. Ele tentava me tocar e quando eu não queria deixar, ele me batia. Se eu estivesse conversando com algum menino, ou até menina, ele me batia. Eu não podia fazer nada, e teve uma única vez que o deixei me tocar, por não querer apanhar novamente, pois eu tinha apanhado no mesmo dia. - meu coração estava tão apertado. -Daí eu parei de usar short até pra dormir, mesmo com a porta trancada, pois eu tinha medo. Se minha mãe não estivesse no trabalho, ela estava se agarrando com o Graham pela casa. - até que ela parou e ficou pensativa, e mais lágrimas começaram a rolar, ela parecia lembrar de algo. Apertei sua mão e ela me encarou ainda calada, pensando em falar ou não. Ela suspirou. -Na primeira vez que ele tentou... depois que minha mãe não permitiu, Ruby ficou comigo e perto de anoitecer, ela foi embora e minha mãe saiu. E naquele dia, ele me bateu como  nunca antes... - ela parou, pois sua voz estava muito falha. -E-eu fiz... fiz um corte, saiu muito sangue e eu não fiz nada, me apoiei na pia e fiquei observando... - não aguentei e liberei as lágrimas, que estava prendendo há muito tempo. Lhe abracei apertado, enquanto escutava nossos soluços. Essa conversa me fez lembrar do vídeo, que apesar de ter jogado o celular, eu ainda vi e escutei.

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