Cap. 4. Opostos

153 45 301
                                    


   Saio cuidadosamente de dentro do forro, minhas costas doem, abro o baú e Narin me olha surpresa, sorri e depois faz uma careta ao ficar em pé.

  _Minhas costas doem, acho que estou ficando velha - ela diz enquanto se espreguiça - estou com fome.

  _Eu também, mais vamos esperar Levy voltar, os guardas podem ainda estar no acampamento.

  _Falando em guardas - Narin disse sentando no chão e se recostando nas almofadas - você conseguiu ver quem entrou aqui ? Eram homens do Talião? Como nos acharam?

  _ Não, na verdade, não sei. - Disse enquanto sentava ao seu lado. - Mas Eran estava junto deles, foi ele que entrou aqui junto com outro, não me lembro o nome dele agora, mas já o vi várias vezes conversando com Talião.

  _ Maya quando Eran vai se juntar a nós? Aliás, ele foi apaixonado por uma cigana daqui não foi? O que houve?

  _ Eu não sei, o combinado é daqui a uma Lua a partir de hoje, e sim, a mulher que ele gostava era daqui, mas não faço a menor ideia do motivo pelo qual eles romperam.

  _Eu já cheguei a gostar dele, mas...

  _Dele quem? - disse Levy entrando com duas tigelas - de quem você gostava?

  _Não te interessa! - Narin respondeu grossa - não se meta na minha vida.

  _Ei! Nao precisa falar assim com ele, e você Levy, não seja curioso.

   Ele me olhou feio e me entregou a tigela com caldo, se aproximou de Narin e entregou a dela, eles se olharam por um momento e ela em sua plena maturidade pegou a tigela e se virou, ficando de costas pra ele e de frente pra parede de madeira.

   Levy bufou e sentou na porta da carroça, enquanto comia seu pão, o barulho no acampamento já crescia e eu não via a hora de ver e falar com todos.

...
 

 

    Chegamos a cidade antes do entardecer, Samuel estava insuportável,  ele parecia desconfiado e estava inquieto, após uma busca por toda cidade não achamos nada.

   Apenas um carroceiro afirmava ter vendido o seu melhor cavalo para uma moça na noite de ontem, ela havia pedido pra que ele cedesse um lugar no estábulo para o cavalo dela que estava bem cansado, ele estranhou mais aceitou e hoje pela manhã o tal cavalo não estava mais lá.

   Assim que anoiteceu a cidade começou a ganhar vida, dei a noite de folga para os soldados que estavam cansados, a busca não cessara desde a fuga na noite de ontem. Alguns guardas voltaram pro castelo outros ficaram na cidade pra aproveitar, resolvi então  acompanhalos, fomos pra um taberna famosa pela cerveja forte e pelo ótimo atendimento.

   A noite passou rápido, e curiosamente em determinado momento a taberna foi esvaziando, até ficar quase sem ninguém, eu podia escutar os assobios e elogios do lado de fora a música alta denunciava uma festa na praça, paguei minha cerveja e agradeci a moça que me servia, que ao receber uma gorgeta maior que o de costume, deu um belo sorriso e saiu taberna a dentro.

   Eu estava cansado, desconfiava até que esse cansaço excessivo se devia a idade, ou até mesmo ao desgosto pelo meu atual cargo na guarda, eu servia ao mesmo rei á exatos trezentos e cinquenta anos, tinha sido promovido a vinte e cinco, e os últimos vinte não vinham sendo a mesma coisa. Viver para servir não me parecia ter a mesma glória de antes.

   Cheguei a praça e uma multidão de formava em um círculo quase perfeito ao redor de ao que parecia, uma apresentação cigana, sentei em um dos bancos de madeira, apenas ouvindo a música animada  que aquecia o peito e me lembrava do tempo que passei com os ciganos.

    De repente todos ficam em silêncio e uma batida de Derbak começou, foi ficando mais forte até que a melodia foi ficando mais agressiva, resolvi olhar a apresentação, foi difícil abrir caminho em meio a multidão e quando finalmente cheguei vi quem dançava, não acreditei.

  

Seven DevilsOnde histórias criam vida. Descubra agora