Cap.6 . Esclarecendo.

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    Eu podia resumir meu estado de espírito em uma única palavra. Cansaço.
   
   Já fazia 5 dias em que eu havia fugido, arquitetar a fuga em si não tinha sido difícil, na verdade foi quase simples, se não fosse pela complicação na saída. 

   Isso significava que, alguém havia dado com a língua nos dentes, era preciso descobrir quem, enquanto ascendia uma fogueira via a égua pintada pastar, eu á tinha adquirido de um senhor na cidade eu a mantinha amarrada, infelizmente ela ainda se mostrava muito arrisca, e por isso não podia confiar em solta - la.

    Já o meu cavalo estava  solto pastando um pouco mais longe, Mancha não era o cavalo mais adequado para se montar, ele era considerado um cavalo de tração, embora seja o único aqui na região, apesar do seu enorme tamanho e força ele era obediente e fiel, o havia ganhado de comerciante ainda bem novo, desnutrido e machucado foi quase um milagre ele ter sobrevivido. Eu nunca soube em que condições ele tinha sido encontrado.

    Acordo com Mancha me cheirando, ele me empurra com o nariz e relincha ao meu lado,  me esforço para abrir os olhos e levantar, lavo o rosto e recolho minhas coisas, jogo terra encima da brasa da fogueira, deixando o local com o mínimo de vestígios possíveis.

    Ponho a cela na égua pintada e vou em direção ao acampamento cigano, Mancha  vem praticamente ao meu lado, e após quase meio dia de viagem chego ao acampamento. Desço do cavalo e já posso ouvir a gritaria, crianças correndo e mulheres ciganas lavando roupas e lençóis.

_Posso ajudar?  - uma elfa vem falar comigo, sorrindo ela limpa às mãos na saia - Você procura alguém?

_ Na verdade sim, sou amiga de Maya - digo sorrindo - ela já está aqui não está?

   O sorriso da cigana some e ela puxa um punhal da cintura, ponho a mão na base da espada até que avisto Maya batendo umas almofadas, grito por ela que vem em nossa direção ao me ver,  a cigana então relaxa.

_Desculpe o mal entendido - ela disse guardando o punhal - me chamo Sarai.

_Me chamo Ninive - disse estendendo a mão -  não se preocupe, eu faria o mesmo.

   Vou até Maya que já vinha chegando na entrada no acampamento e a abraço, ela estava diferente, mais sorridente e animada, ela me conta o que aconteceu nos últimos dias e chama alguém para que coloque a égua pintada  junto com os outros cavalos. Anotei mentalmente que precisava arranjar um nome pra ela.

    ...


_Você precisa descobrir aonde ela está!  - Talião diz irritado - É culpa sua que tudo tenha dado errado.

_Senhor se me permite dizer - diz Samuel se aproximando - quem está atrasando as buscas é Eran. Ele ao menor sinal de Maya muda o curso da investigação, ignorando provas e evidências, concordo que a inteligência dele não seja das maiores, mas, eu penso que, provavelmente ele deve estar trabalhando para mais alguém.

  _Você está insinuando que ele é um traidor ? - Talião disse levantado da cadeira, ficando cara a cara com Samuel - se você estiver errado, quem morre é você!

_ Posso começar a investigar?  - ele diz após um momento, controlando o sorriso.

_ Já deveria ter começado.

   Samuel pede licença e se retira da sala, e após se distanciar alguns passos, enfim se permite sorrir, na verdade ele não fazia ideia se Eran estava ou não trabalhando para as atuais fugitivas.

   Mas o povo já estava estranhando o sumiço de Maya e o plano de Talião estava saindo quase perfeito.

   O plano inicial era dar a oportunidade para Maya fugir e mata-lá na hora da fuga, ao povo seria dito que ela tinha sido morta em um atentado organizado por *Cepsaidh  local em que Maya nasceu, o que de todo seria mentira, era apenas um pretexto para declarar guerra novamente ao povo nômade.

   O plano acabou dando errado em partes, não contávamos com a ajuda de Nínive e Narin, e muito menos que elas fugiriam juntas.  O plano teria uma leve alteração agora, anunciariam que ela havia sido sequestrada, e que não sabiam de seu paradeiro, despertando assim a revolta e dando uma prévia ao povo do governo que estava por vir. O Rei não tinha filhos e era filho único, o que dava abertura á um golpe de estado perfeito. 

   Se não fosse por Maya. 
  
   Chegando ao campo de treino que ficava em uma propriedade escondida quase nos fundos do castelo, ele chama alguns guardas de confiança e começa a tramar a contra Eran.

Atenção!

Os cavalos sitados no livro realmente existem e possuem raças específicas.

~> O "Mancha"  é um Shire, conhecido também por "Gigante inglês"  um cavalo de tração, foi muito usado nas guerras medievais, principalmente por nobres cavaleiros (por suportar o peso das armaduras) e por princesas, muitas vezes era tido como um artigo de luxo, por seu tamanho e beleza.  Essa raça possui exemplares de até 2 m de altura, e é famosa pelas patas extremamente peludas e crina longa

    ~>Muitas vezes confundido com o Gypsy Vanner ou Gypsy Cob, que como o nome já sugere era usado pelos ciganos em geral para puxar carroças e ajudar no arado da terra para o plantio, não se sabe ao certo quando a raça passou a ter um padrão de tamanho e pelagem, sabe se a penas que a seleção feita pelos ciganos usava como critério a força e o bom temperamento do animal . A raça foi reconhecida apenas em 1996, ele possui patas bastante peludas e costuma a ser piebald (preto e branco), é bem menor que o Shire tendo cerca de 1,47 m a 1,68 m de altura.

~> A égua pintada, no qual Nínive se refere é da raça Appaloosa, muito usado para percorrer longas distâncias, regiões íngremes e áridas. Foi usado durante muitos anos pelos índios  americanos que viviam as margens do rio Pallose, até virar abjeto de cobiça pelo homem branco, foi o motivo de massacre de uma tribo inteira em 1877, levando inclusive a raça de cavalo a quase extinção. É um cavalo com uma altura padrão de 1,50 m a 1,52 m, sua pelagem é pintada, lembra bastante um sorvete de flocos ou mesmo um cão dálmata. 

Um provérbio cigano diz "Um bom cavalo nunca vem em uma cor ruim."

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