Capítulo 16

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Eles foram atrás de mim, ainda a tempo encontraram-me em casa, tentaram tranquilizar-me com todas as palavras mas foi tudo praticamente em vão.
Tudo que eu menos queria naquele momento era ouvir lamentações e palavras de conforto que estavam longe de confortar-me. Eu pedi para alguém levar-me à paragem de autocarros, para partir o mais rápido possível. O Lincon e a Carla disponibilizaram-se e fui com eles. O senhor Oscár e a Manuela tinham abandonado o trabalho então tiveram que voltar, mas prometeram estar presentes no dia do funeral.
Nesse momento, estamos os três no carro. O Lincon está a conduzir com o maior cuidado do mundo, a Carla está no banco de trás comigo, tentando acalmar-me. Mas em todo minuto que passa, eu mostro que é impossível ficar calma, pelo menos agora.

O caminho que temos pela frente é longo, por isso o Lincon parou para abastecer o carro mais uma vez, enquanto a Carla aproveitava para comprar água e mais algumas coisas para comermos no caminho.

- Come qualquer coisa Sofia. - Carla, disse passando-me um pedaço da tosta que comia.

- Não quero, obrigada. - respondi, mostrando desinteresse total que levou-nos num silêncio puro.

- Então, pelo menos bebe um pouco de água, tu precisas de força. - Sofia insistiu.

- Não... - da minha boca não saía outra palavra além dessa.

Tudo que a Carla pedia, tudo que falava era em vão porque naquele momento eu aó conseguia pensar no meu tio. Como ele está a encarar essa situação, se está a sofrer como eu estou ou se está pior.
No caminho, a Carla também ligou na tia Francisca e contou tudo, mas de um modo baixinho de forma que eu não entendesse. Ela simplesmente achava que eu poderia estar pior do que estou agora, se ouvisse ela a falar sobre a tragédia que aconteceu.

Já passaram 6h e ainda não chegamos. O tempo que estamos dentro desse carro, o vento que a cada segundo insiste qm bater no meu rosto, tem ajudado-me a encarar melhor essa situação, pelo menos agora eu já não estou a chorar. Só consigo fazer perguntas sem respostas para mim mesma. Talvez, até precisava mesmo dessa viagem, desse vento sincero e do silêncio no carro.
A Carla pegou no sono, o Lincon parou algumas vezes para descansar mas agora está novamente a conduzir e eu, desde que sentei não consegui trocar de posição. Na verdade, tudo que eu mais queria é não ter saído de casa.

Já estávamos no Huambo. O Lincon avisou-me assim que chegamos. Conseguia reconhecer os pequenos bairros e passávamos, e por mais um instante eu me envolvi nas lágrimas que tinha guardado.
A minha tia era uma mãe pra mim, era tudo mesmo e agora sem ela aqui sinto que o mundo sem querer acabou pra mim.

Fronteiras do sonharOnde histórias criam vida. Descubra agora