Capítulo 4

74 4 1
                                    

As férias já estavam no fim e o regresso as aulas se aproximavam de mim. Hoje, quando o sol diminuir, vou comprar os materiais e depois fazer a confirmação da matrícula, na famosa Universidade de direito Agostinho Neto.
Graças aos meus tios nunca fui de ter muitas ilusões na vida. Não que me contento com o pouco que tenho mas sim, porque opto pelas coisas simples que são sempre as mais bonitas. Sempre andei num bom caminho que é diferente de muitas jovens na minha idade. Por essas e por outras, nunca dei espaço para relações amorosas na minha vida. Depois de muitas reflexões e pensamentos, preparo-me para sair de uma vez por todas de casa. Tomei o banho, e ao escolher a roupa vi que já estava na hora de separar algumas peças, que já não uso para doar aos necessitados. Os meus tios faziam sempre isso, pelo menos uma vez por ano.
Vesti uma blusa vermelha da polo, acompanhada de uma calça preta e calcei umas sandálias brancas, e sentia-me muito bonita. Para realçar, passei a maquilhagem e já estava pronta, e totalmente faminta.
Vou à cozinha, preparo o pequeno almoço, fritei ovo com salsichas e tomei o chá verde que muito adoro.
Finalmente saio de casa e apanhei um táxi que deixou-me no kinaxixi, onde fui ao Luís De Carvalho que era a tabacaria que sempre encontrei os melhores materiais de escola. Comprei o que queria e ao sair do lugar, encontrei-me com o meu professor de direito António Mafuta.
- Olá Sofia! Tudo bem?
- Tudo sim senhor professor e consigo?
- Também está.
Ele acrescentou que esse ano já não daria aulas na Universidade Agostinho Neto. Como era um bom professor fiquei triste mas, depois de me ter explicado o motivo da saída, felizmente dei-lhe os parabéns e desejei muito sucesso, porque ele merecia.
O professor António Mafuta, recebeu uma proposta de trabalho, no Brasil e não podia rejeitar. Agradeci-o pelo bom ensino e a rigorosidade que tinha com os alunos, que alguns era exagero mas para mim serviu muito. Estava apressado então, despediu-me.
Quando cheguei na Universidade, entrei na secretaria e fiz o que tinha de fazer. Nos corredores, aonde estavam coladas as listas dos alunos que foram apurados e dos que não foram, tinha várias pessoas desesperadas e outras felizes. Encostei e vi a lista da minha sala e descobri o porquê de humores diferentes. Logo depois pude ver também que muitos desistiram. Éramos 125 alunos e agora somos apenas 23. Não entendi o porquê que muitos tinham desistido, se na vida devemos lutar até não poder mais. Mas depois lembrei que nem todos tinham a mesmas condições de vida e que outros só estavam de passagem. A cadeira de direito não é fácil, exige muito desempenho e assiduidade.

Por fim, abandonei o espaço e voltei pra casa.
Queria tirar o dia para ler novos livros, mas tive uma idéia mais útil. Já está na hora de começar a trabalhar. "Pensei".
As minhas colegas e amigas nunca tiveram necessidade pra tal porque sempre foram sustentadas pelos pais e sempre tiveram tudo que desejavam. Apesar dos meus tios me cuidarem tão bem e terem investido sempre em mim mas eu sinto necessidade de ajuda-los, agora que sou mais adulta.
O meu tio Sebastião é serralheiro, e a minha tia Helena costureira. Eles sempre fizeram meros sacrifícios para verem-me sempre no topo, ter uma formação, enfim, uma vida bem sucedida. Mas agora, a tia Helena está muito doente e não pode mais trabalhar. O meu tio continua a dar no duro para pagar os meus estudos e a casinha que vivo. Preciso de um emprego com urgência, para tirar esse peso no meu tio e orgulhar a minha tia querida.

Enquanto pensava, peguei no telemóvel e liguei pra minha tia para dar a notícia, receber apoio e alguns conselhos. E não aconteceu o contrário. Os meus tios moram no Huambo e fica muito difícil estar com eles sempre. O que causava uma enorme saudade dentro dos nossos corações. Conversamos bastante, recebi o maior apoio e muitos mimos. Eu já estava a morrer de saudades daquela voz serena da minha tia, que confortava qualquer pessoa. Para não chorar de emoção e outros sentimentos, despedi ela e prometi mandar sempre notícias, caso houver novidades.
Andei em direção ao quarto, e não tive outra opção a não ser entregar-me a cama.

"O bom de dormir é que temos sempre tempo para sonhar, porque assim que acordar, estamos prontos para realizar."

Fronteiras do sonharOnde histórias criam vida. Descubra agora