De: Seu admirador secreto

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      Irene estava acostumada a escrever cartas que nunca enviava. Não era época desse tipo de coisas, ninguém mais enviava cartas.
      Ainda assim, Irene, de apenas quatorze anos, sonhava um dia poder trocar correspondências com alguém. Ela era do tipo romântica à moda antiga. Colecionava cartas amorosas que escrevia para admirados tão secretos que sequer se dignava a olhá-los por mais de dois segundos nos corredores da escola.
     Escrevia fielmente todos os dias, umas três ou quatro cartas, as guardava em envelopes improvisados com folhas de cadernos.
     Ninguém nunca soube, nem mesmo sua mãe, já que as escondia embaixo do colchão, às vezes, no alto da prateleira mais alta (em dias que sabia que sua mãe trocaria os lençóis da cama).
     Um dia, ao revirar seu caderno, Irene encontrou um envelope diferente dos que confeccionava. Tinha seu nome como destinatário e o remetente se denominava "Seu admirador secreto". Ainda havia adesivos masculinos simbolizando selos e um tímido coração ao lado de seu nome.
     Irene não podia acreditar! Ela, que há tanto tempo quanto conseguia se lembrar, mantinha escondidas centenas de cartas para seus admirados e nunca, sequer uma vez, conseguiu enviar uma.
     Ela tremia, sentia-se covarde e constrangida. Era como se alguém houvesse descoberto seu segredo mais íntimo e agora o tivesse jogado em sua cara, ridicularizando-a!
     Estava resolvido, ninguém brincaria com seus sentimentos mais profundos. Ela não quis abrir a carta. Ao invés, pegou a carta e a escondeu juntamente com suas próprias cartas e tentou esquecer o que ocorrera.  

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