• Capítulo dois •

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Estados Unidos
Nova York

1925

 Arrumo meu terno ao ver Sr. Bryant se aproximando. Ele olhava cada quadro com muita calma, como se estivesse em um passeio com a família, ele não estava nada ansioso ou nervoso. Óbvio que ele não estava, sua vida não dependia disso igual a minha.

  Arrumo meu cabelo pela décima vez em um intervalo de poucos segundos, eu definitivamente devia ter passado gel ou colocado um discreto grampo para prende-lo como minha mãe indicou. Quando era menor eu simplesmente raspava meus fios lisos sem me importar caso fossem me confundir com um bandido, porém hoje infelizmente as coisas mudaram.

Tento permanecer confiante, porém sem parecer arrogante ou visivelmente narcisista. Sr. Bryant definitivamente não é um homem descontraído ou simpático, pelo menos de longe não parecia; alto e um pouco gordo, seu resto de cabelo preto estava penteado para trás - resto, já que por sua calvície só sobrava uns vinte fios- e presos num elástico preto, suas sobrancelhas eram uma só, e juntamente com suas rugas e grande bochechas deixavam seu rosto com uma natural expressão de tédio. Sua riqueza era clara por conta do grande relógio que exibia no bolso e seu terno de grife preto igual carvão, e ficará mais preto ainda ao lado do meu, que por ser velho era um preto já meio cinza.

Respiro e limpo minhas mãos soadas no terno.

- Sr. Bryant? - o chamo enquanto me aproximo, ele desvia seu olhar para mim. -Fico profundamente feliz que tenha vindo!

Estendo minha mão e ele aperta, sua expressão continua a mesma deixando claro que ele não é um homem de forçar simpatia.

- Óbvio que vim, minha secretária me contou sobre as suas inúmeras ligações, o sr. é um menino muito insistente, não? - ele me mostra o que parece ser um pequeno sorriso. 

- Como se não estivesse acostumado, logo você, um homem tão famoso e requisitado, me sinto honrado na sua presença! - digo, rezando para que ele não veja minha frase como cínica, e sim uma simples brincadeira.

Um ar sai dos meus pulmões após ouvir sua risada pesada de alguém que fuma muito cigarro.

- Vamos começar logo Sr. Willson, ou ficaremos conversando para sempre. O que não me incomodaria, sou um homem que gosta de ser paparicado. - Ele ri novamente, e eu riu também, porém meu riso é bem mais nervoso e falso.

Bom, pelo menos comecei bem. Respiro fundo, estou confiante.




Humilhado, me sinto humilhado.

- Filho, me corta o coração te ver desse jeito. - minha mãe faz carinho no meu rosto. - pelo menos toma a sopa.

Olho para a sopa mas tudo que consigo ver realmente é a imagem daquele velho maldito xingando e humilhando as minhas obras. Comecei tão bem, o que fiz de errado além de amar a arte? Elas eram baseadas em algumas obras totalmente revolucionárias que estão bombando na Europa, como luminárias feitas de lava, moedas e notas transformadas comida e bolas de pelo de gatos virando produtos de beleza. Porém quando disse que esse era um estilo que estava fazendo sucesso na Europa - como uma forma de defesa após ele dizer que meus quadros não eram arte - ele viu isso como um insulto e ficou louco.

Jogo a colher no prato, apoio meus cotovelos na mesa e ameaço chorar, porém seguro. Eu sou uma bosta.

- Argh! - minha mãe resmunga. - Como eu queria ir atrás desse engomadinho e dizer que ele esta perdendo a oportunidade de agenciar o maior artista que a América já viu! - continuo na mesma posição, então ela se aproxima de mim e me abraça. - Ah Eli...  Você é excelente, e um dia alguém vai reconhecer isso.

Pellis ※Onde histórias criam vida. Descubra agora