• Capítulo três •

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Nos mares
Oceano Atlântico

1925

Vomito pela oitava vez em uma hora, e fico espantado por já não ter praticamente nada do que vomitar. Nunca me dei bem com barcos, sempre evitei ao máximo, mas depois de outras muitas horas de conversa eu e meus pais concordamos que eu tinha que voltar para a Alemanha, mas especificamente para o estado de Sarre, para ir atrás da minha verdadeira história. Portanto aqui estou.

Sempre fui curioso em relação a isso, mas nunca decidi verdadeiramente correr atrás além de criar teorias por trás. Agora, finalmente a caminho da meu país de origem, vejo que não estou tão preparado assim. E se meus pais foram ladrões? Espiões da Alemanha? Não saberia lidar. Após quase minha vida inteira nos Estados Unidos, se meus verdadeiros pais fossem inimigos da minha atual pátria seria um insulto a mim mesmo.

Limpo o vômito da minha boca com a manga do meu suéter e faço careta após ser obrigado a sentir um gosto amargo na minha boca. Vejo um homem se aproximando, ele usava uma boina e roupas simples igual eu, além de uma grande e ruiva barba.

- Colega, tenho um chá de gengibre nas minhas coisas se você quiser. - ele se apoia no deck ao meu lado. - Meus filhos também tem esse problema, e como eu trabalho com viagens acabei conhecendo alguns truques.

- Por favor. - é a única coisa que digo.

E é o suficiente, o bom homem da barba ruiva desce as escadas desse navio para buscar o chá de gengibre. Apesar de eu odiar gengibre, na situação que estou não consigo me ver na posição de quem esta podendo recusar meios de solução.

Sentindo uma elevação do navio, o vômito vem novamente. Bufo, muito bravo mas sem poder fazer nada. Essa viagem vai ser longa.




Olho para o pequeno quarto do único hotel dessa pequena cidade. Me sinto impressionado por encontrar a Alemanha inteira, não que eu esperasse bombas caindo ou casas aos pedaços, mas só não esperava tudo igual era antes. Se não foi a Alemanha toda, pelo menos o pequeno estado de Sarre conseguiu se reconstruir rapidamente.

Meu alemão esta péssimo, já que passei anos da minha adolescência tentando esconder qualquer resquício dele. Me comunicar esta sendo um desafio.

Desfaço minhas malas e pego o folheto do Orfanato onde passei um mês da minha vida, meus pais haviam guardado por lembrança. Esse vai ser o primeiro lugar onde eu vou na esperança de haver ao menos um documento com meu verdadeiro sobrenome, e acredito que essa seja minha única esperança, já que ficar perguntando por um casal que foi assassinado a onze anos atrás não seja uma opção.

O meu plano basicamente é: pedir o documento para a freira. Numa possível possibilidade dela negar eu vou pressionar tanto a serviçal do senhor até ela ceder. Simples assim.

Desço as escadas do hotel empolgado e ainda muito esperançoso. Pergunto para o atendente, um homem que aparenta ser apenas poucos anos mais velho que eu, se ele sabe aonde fica o Lar da Criança Henrique Liebich.

- Fica a vinte minutos de caminhada, senhor. - ele faz um sinal para que eu chegue mais perto, eu faço. - Mas cá para nós, o bordel fica no final da rua, abre a seis.

- Obrigado, mas sinceramente... - digo, porém sou interrompido.

- Me escute menino, eu aceitei a pressão da mulher por estar apaixonado, mas ninguém merece alguém novo igual você ter que cuidar de criança irritante, me escute... - Ele aconselha, batendo nas minhas costas.

Pellis ※Onde histórias criam vida. Descubra agora