capítulo 4 | mais (in)conexões

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— Kaya, vem aqui! — Estava na cozinha passando geleia de morango fresca na minha torrada, pronta para comê-la no café da manhã quando ouço Roxanne chamando-me aos berros.

— O que é tão importante para que você me grite às nove horas da manhã? — pergunto eu, com um certo teor de chateação, já que tudo o que eu queria era dar a primeira mordida em minha torrada.

— Eu preciso te apresentar a Ariadhini e a Beatrice, são minhas melhores amigas e eu tenho certeza que elas adorariam te conhecer.
E eu estava pensando...Seria uma festa do pijama hoje à noite uma boa ideia? — disse Roxanne, com as mãos na cintura, quase puxando seu minúsculo baby doll. — E...Você não me disse nada sobre o que rolou ontem, você está chateada comigo?

— Eu acho que seria uma boa ideia uma festa de pijama, faz tempo que não vou em uma.
E não, não estou chateada com você, mas peço que isso não se repita, por favor, eu não gosto de...

— Meninas? Já imaginava, acho que eu estava ainda sob alto efeito da bebida, perdi a noção. — Disse Roxx, interrompendo minha frase e parecendo saber tudo o que eu diria.

   Logo depois, Roxanne pegou seu casaco fino e disse que iria ao mercado comprar algumas coisas para mais tarde.

...

   Já estávamos esperando as meninas há 30 minutos, a Senhorita Loirinha afirmou que elas sempre chegavam atrasadas em todos os lugares que elas tinham compromissos.
  Eu já estava batendo os pés no chão de tanta impaciência quando de repente ouvi o estridente som da campainha, anunciando a chegada das convidadas da noite.

— Amiga, que saudades! — Disse a morena alta de seios falsos para Roxx, provavelmente a tal Ariadhini, que com certeza era hispânica.

— Há quanto tempo o trio não se une, meninas? Acho que a uma eternidade. — Afirmou a "ruiva" de cabelos tingidos de vermelho.

— Agora o trio virou quarteto, não é, Kay? Cumprimente as meninas, elas não mordem.
Só se algum cara pedir, sussurrou ela, acrescentando a frase.

— Oi meninas, eu sou a Kaya, prazer em conhecê-las. — Estendi o braço para cumprimentar a morena e ela rapidamente transformou o formal cumprimento em um abraço amigável. Apreciei o gesto caloroso.
— Acho que você é a Beatrice, correto? — Olhei para a ruiva e sorri, recebendo de volta o sorriso que comprovou que esse era mesmo o nome da moça.

— Hoje vai ser uma noite do cacete, meninas. Venham, vamos fazer as unhas dos pés e fofocar um pouco.
Sabe o que aquela Emma tem feito depois do colégio? — Foi dizendo Roxx, enquanto caminhava pela espaçosa sala de seu apartamento.

   Enquanto as amigas da loira se entrosavam e riam escandalosamente, eu observava cada olhar estranho de Beatrice para Roxanne, que me parecia um olhar de desejo, como se algo estivesse rolando. Espero que ela não me olhe assim também. Deus me livre, pensei.

   E lá estavam as duas, sozinhas na cozinha, aparentemente fazendo um brigadeiro para nós comermos assistindo A Saga Crepúsculo, o clichê de uma noite de festa do pijama. Beatrice estava cada vez mais chegando perto de Roxanne e ela não se afastava, pelo contrário, apenas chegava mais perto. Tudo parecia estranho naquela casa, a Loirinha realmente era pirada e fazia de todos uma presa indefesa anseiando que seu predador feroz a atacasse para satisfazer o prazer de sua carne. Ela era insana, uma boa companhia.

  As duas chegaram à sala em um clima estranho de saia justa com um pote de plástico cheio de brigadeiro quente, quase pelando. Enquanto Ariadhini estava apenas pensando em comer todo o doce, eu estava me perguntando o porquê daquele clima e o que aconteceu naquela cozinha para que as duas parecessem dois filhotes envergonhados um do outro.

   Comecei a puxar assunto com Ariadhini, que mostrava suas raízes latinas toda vez que ia xingar e trocava o "filha" por "hija" ou quando dizia expressões que nem eu mesma sabia decifrar.
— Você parece ter grana, o que faz na Lower East Side? — dizia ela enquanto encarava meus scarpins pretos jogados do lado do sofá.— Belos sapatos, são da Vogue, não é? — Disse Ariadhini, curiosa.
— Sim, são, foram os olhos da cara. — e ela fez uma cara esnobe de quem apenas queria colocar meus sapatos em seu pé. Exatamente a cara que eu fazia quando Hayley me mostrava sua coleção de tênis. Eu odiava porque nunca conseguia juntar dinheiro o suficiente para comprar tantos tênis. E ela tinha um armário cheio deles quando eu mal tinha dois pares.

  E enquanto ela falava, às vezes dava uma olhadela rápida para o pijama de Roxanne, se é que aquele pano minúsculo poderia ser chamado de pijama. Era um conjunto preto delicado de sutiã e calcinha presos por uma mini corrente e com um robe fino transparente por cima para servir como um casaco, era divino, apesar de revelador. Às vezes eu olhava quando ela estava debruçada de costas sobre o sofá conversando com raiva e dando uma boa vista de sua traseira.
   Até que fui despertada por Beatrice, que me deu um olhar malicioso.

— Olhando demais, não acha? Se bem que é uma bela bunda. — Deu um riso maléfico e voltou seu olhar para Roxanne, que se mostrava ludibriada com o "elogio". Era incrível o jeito que elas se olhavam, transformando aquele clima pesado e estranho completamente, como se nada tivesse acontecido.
  
— Roxanne, preciso ver se recebo o e-mail da produtora, posso pegar seu notebook? — disse Ariadhini, encarando minha cara confusa de quem não estava entendendo do que ela estava falando. — Eu danço profissionalmente para artistas e recentemente tive a oportunidade de ser a nova dançarina de uma cantora famosa, então estou esperando informações sobre o contrato. O que eu consigo eu quero. — Disse ela, confiante e soberba.
Mas com um corpo desse, quem não conseguiria o que quer? — Pensei logo ao ouvir suas exibições.

   Deixamos Ariadhini na sala e fomos para a pequena varanda do apartamento, que tinha cadeiras de madeira fina e bancos acolchoados. Com certeza o assento externo mais confortável que havia sentado em toda minha vida.
   Aproveitando o clima de conversa, sentei ao lado de Beatrice e comecei a indagar a relação dela com Roxanne.
— Então...apenas amizade?
— Não sei o que você considera como "apenas amizade". — Enquanto dizia, Beatrice tentava me confrontar com seus olhos que furavam mais do que qualquer faca existente no universo. Como réplica, eu a encarava a todo momento.
— Seja lá o que você esteja fazendo, não a magoe, isso pode ser perigoso. — disse eu, com palavras afiadas para que ela tema fazer algum mal a Roxanne.
— Não sei o que pensa de mim, mas com certeza não sou esse certo tipo de pessoa. Obrigada. — Ela rapidamente levantou me deixando falando sozinha em sinal de incômodo. Talvez eu havia falado demais.

   Estava indo em direção à cozinha quando ouvi os gritos de Ariadhini vindo da sala.
— Meninas, venham agora! Por favor!
Chegando à sala vi a triste cena de faíscas fortes saindo de um notebook. Aria tinha acabado de queimar o sistema operacional com refrigerante de laranja.
— Roxanne, amiga, me perdoa. Por favor. Eu não fiz de propósito, quando fui abrir o e-mail, fiquei tão empolgada que sem querer eu acabei derrubando o copo de refrigerante em cima das teclas. Eu sou um desastre. Amanhã de manhã eu levo para o conserto. — Disse Ariadhini, com as mãos na testa, quase chorando pelo ocorrido, ela realmente parecia estar mal, dava para ver que ela não fez de propósito mesmo.

— Não chore, amiga, ele já estava um pouco velho e uma hora ou outra eu teria que levar para o conserto de qualquer jeito. Não precisa levar, eu vou amanhã naquela loja de eletrônicos perto do cinema, acho que lá consertam também.

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poυr eɴ ѕαvòιr

O destino é traçado enquanto as montanhas se movem. Não é coincidência, tudo é questão de acreditar.

Trancada a Nove ChavesOnde histórias criam vida. Descubra agora