O poder do amor

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Sem dúvidas aquele era o mesmo rapaz, o namorado de sua amiga Dayane. Bob olha para Bruno e logo diz:
- Conheço seu filho... Bom, nos falamos pouco, mas eu já o vi e sou amigo da namorada dele. Ela disse que ia se mudar e não faço ideia pra onde ela... LEMBREI! Ela me falou que ia para casa dele, lembro também dela dizendo que ele estavam com algum problema e tentaria resolver.
Bruno consegue ver uma luz piscando na escuridão, sabia onde seu filho morava mas já fazia muito tempo que não ia para lá. Com um sorriso no rosto e seu coração acelerado ele se levanta da mesa.
- Bob, por favor, fique aqui e cuide do estabelecimento... Não, feche o restaurante e amanhã trabalhamos.
Aquela cara de choro sumiu, agora um sorriso estava estampado no rosto daquele homem. Ele sai correndo indo para sua casa, decidiu não contar nada a sua esposa, pois não sabia o que iria descobrir sobre seu filho. Não importava qual situação ele estivesse, como um bom pai iria ajuda-lo a todo custo, mas nada poderia separar o amor que aquele pai sentia por seu amigo e filho, os dois eram bastante unidos e essa situação iria servir para fortalecer os laços de amizade e amor.
Ao chegar em casa a sua esposa estava no banho, Bruno não disse nada quando pegou a chave do carro e saiu, mas ela escutou o som do motor e o barulho do portão abrindo e fechando. Ela estranhou a atitude de seu marido, pois ele sempre lhe dizia onde ia. Estranhou mais ainda o motivo dele sair do trabalho e pegar o carro, assim que termina seu banho ela pega seu celular pra ligar para ele, porém este não atende. Bruna fica sem saber o que pensar, porém não deixa de fazer suas tarefas e assim que ele chegasse iriam conversar sobre o que havia acontecido.
Algumas horas depois, Bruno chegou a casa de seu filho, bateu palmas, mas ninguém atendeu, gritou por ele e obteve o mesmo resultado, não tinha ninguém em casa o jeito era esperar.
A mesma senhora que cuidou do cachorro de seu filho escutou os chamados do pai, foi verificar e, ao ver que ele retornava para dentro do carro, saiu para fora do portão e o chamou:
- Olá, o senhor está procurando por alguém?
Bruno caminha com rapidez até a idosa e a cumprimenta estendendo a mão:
- Bom dia. Me falaram que meu filho estava morando aqui e vim ver se ele estava bem, saberia me dizer que horas ele chega em casa ou onde ele foi?
Aquela senhora segura não mão dele e começa a falar:
- Eu não sei, já faz dois anos que ele não aparece por aqui. Ele deixou o cachorro comigo, mas uma mulher veio aqui e o levou, ela disse que o rapaz voltou de uma viagem e queria o cachorro de volta . Acho que os dois estão morando juntos agora.
Alegria de Bruno estava sumindo, pensou que iria encontrar seu filho, mas ao invés disso só percebeu que ele estava mais longe do que pensava.
- Sabe me dizer quem está morando aí?
- Bom, era a namorada dele... mas pelo que a outra mocinha falou ela não presta, não. Ela traiu o rapaz com um amigo... ele era tão gentil com ela, nunca imaginei que algo assim poderia acontecer a um rapaz como ele.
- Sabe me dizer o nome da moça que está morando aí? Onde ela trabalha ou onde ela possa estar?
- Acho que ela trabalha numa floricultura, foi o que eu vi pelo uniforme que ela usa quando sai de manhã, se quiser passo o endereço.
Outra vez Bruno se enche de esperança, talvez essa moça soubesse onde seu companheiro estava, enfim veria seu filho.
- Por favor, eu ficaria agradecido.
Aquela senhora se dirige para dentro da residência e em poucos minutos volta com um cartão na mão e o entrega ao pai do garoto, não se aguentando com o sorriso de felicidade dele, ela também sorri. Os dois se despedem e correndo ele volta para o carro, liga o motor e segue para seu destino, ao chegar ele se dá conta de que nem perguntou o nome da moça que agora morava na casa de seu filho. Ele pega o celular e liga para Bob, que já havia fechado o restaurante e estava em casa lendo a bíblia e, para não ter sua leitura atrapalhada, ele deixou o celular no mudo e não percebeu a luz ascendendo no momento da ligação.
Bruno teria que descobrir por si mesmo quem era a moça. Ele sai do carro e anda até a floricultura e quem o atende é a própria Dayane.
- Olá, senhor, procura algo em especial?
- Bom... eu estou procurando uma pessoa que trabalha aqui, mas não sei o nome da moça.
- Só ela poderia lhe ajudar?
- É. Ela tá morando numa casa que era do meu filho e eu só queria saber se ela sabe onde posso encontra-lo
Dayane acha muita coincidência essa história, então para ter a prova pergunta ao rapaz o nome de seu filho e assim ele responde. A pobre garota sente uma leve tontura  e tenta se recompor e, assim que faz, fica sem saber o que dizer por um momento. O pai do seu amor não fazia idéia  de que o filho estava na prisão, pensou consigo mesma: “se eu falar, ele pode me odiar ainda mais.”
- Olha, sou eu que estou morando lá, mas não faço idéia de onde ele possa estar.
- Uma senhora disse que ele estava morando com uma mulher ... ela foi pegar o cachorro dele na casa daquela senhora. Você não sabe quem poderia ser essa mulher?
- Acho que é a advo... – Dayane para de falar e se dá conta que quase fala mais do que deve, então continua: - É a Mônica, eu acho. Eu não sei onde ela mora, mas as vezes ela liga pra mim do telefone fixo, se o senhor quiser posso falar que está procurando seu filho.
Bruno quase da pulos de alegria e lágrimas escorrem de seus olhos ao dizer:
- Ficarei agradecido... anota meu número, assim você pode me ligar quando tiver alguma informação.
- Tudo bem, assim que ela ligar eu aviso ao senhor, Bruno.
Ambos se despedem logo depois deles trocarem contato, ele segue para o carro e vai  para sua cidade, porém num instante ele percebe que não disse seu nome para a moça, então como ela poderia saber? Sem dúvidas seu filho disse sobre ele e a mãe para a garota, mas por que não disse nada dela para eles?
Seja como for, isso era o que menos importava, a qualquer momento poderia receber alguma noticia de seu filho e isso era o que ele mais desejava.
Quando Bruna viu seu marido estacionando o carro na garagem, saiu da cozinha e foi até ele, percebe que sua expressão está animada, mas ele não diz nada por um momento, apenas a abraça e ela retribui, então ele fala:
- Acho que em breve veremos nosso garoto!
Bruna se desfaz do abraço e leva as mãos a boca, estava surpresa e feliz, seus olhos lacrimejavam.
- Você sabe onde ele está? – Perguntou ela sorrindo, agora suas mãos estavam juntas uma a outra na altura do queixo e seu marido dá um sutil suspiro.
- Não, mas descobri alguém que pode saber. É uma mocinha que mora na casa dele... mas parece que ele se mudou e foi morar com outra e ela ficou lá, dei meu número a ela e se souber de alguma coisa ela vai me ligar.
Outra vez eles se abraçam e agora junto com o abraço um beijo apertado.
- Nosso menino! Meu Deus, eu já pensava no pior, homem!
- Deus me livre, vira essa boca pra lá, Bruna.
- Dois anos que ele não nos dá notícias e você quer que eu pense o quê?!
O casal, desde aquele dia, não perdeu a esperança de receber mais notícias sobre o amado filho.
A natureza mantém o mesmo ciclo: o filho deve enterrar o pai, mas nada pode descrever a dor de um pai enterrar seu filho, mas o pior disso é um filho perder o pai e não poder enterra-lo. Dayane poderia muito bem dizer onde o rapaz estava e tudo terminaria alí, Bruno poderia se despedir do filho e ele veria o pai pela última vez, mas seu medo foi maior que a razão e Bruno morreria e seu filho nem saberia, o mais inacreditável era que o pior ainda iria acontecer e não iria demorar.
Depois de quatro meses, Bruno acabou morrendo no hospital. Sua esposa entrou numa grande depressão e dois meses mais tarde veio a falecer.
Bob agora era dono do estabelecimento que antes pertencia a Bruno, estava triste pela morte de seu grande amigo, apesar da dor ele foi forte e seguiu com a vida e isso não quer dizer que os pesadelos pararam. Por causa da falta de experiência que tinha na cozinha e funcionários que não iam trabalhar por pura vagabundice, ele fechou o ponto, a sorte era que aquele terreno onde se encontrava o restaurante era de Bruno e depois de sua morte ficou para seu filho, então nada foi perdido.
Mas Bob se encontrava desempregado e junto disso tinha a falta de dinheiro, sua casa começou a ter cortes na agua e luz, nesse momento a fé de um homem começaria a ser abalada, mas com Bob foi diferente, pois não desanimou e todos os dias acordava cedo atrás de emprego, conseguia apenas uns bicos que eram o suficiente para se manter.
Numa quinta feira ele recebeu uma ligação de Elivan, que aparentava estar bem animado.
- Alô, Bob! Estou voltando para cidade, pelo jeito a minha volta não foi tão demorada. Quero muito te ver, meu amigo, tenho muitas novidades para te contar e quero contar o mais rápido possível.
Bob se alegra com tal notícia, ele estava em casa arrumando algumas coisas no quintal quando o celular tocou.
- Mal posso esperar para saber, vejo que trás boas novas, podemos nos ver amanhã? – ele perguntou, animado.
- Mas é claro! Assim que eu chegar na cidade te aviso, um abraço.
- Abraço pra você também.
No dia seguinte os dois combinam de se encontrar numa praça e Elivan não foi sozinho, levou sua namorada, Natalie. Bob ficou feliz por ele ter encontrado um novo amor, ela parecia ser uma boa pessoa e era visível o quanto ela gostava de seu amigo.
Elivan e Bob conversam sobre tudo que aconteceu em suas vidas nesse tempo que não se viram, notícias boas e ruins foram ditas, mas a melhor de todas foi a de que Elivan estava com um projeto para ajudar pessoas com o mesmo problema de Bob, que ele chamou de T.P.R – trauma dos pesadelos reais –  muitas pessoas perdiam a vida por causa disso ou então entravam em depressão e por fim optavam pelo suicídio, com esse projeto as pessoas iriam ser ajudadas e teriam um acompanhamento de perto, se caso elas tivessem algum vício seria a primeira coisa a ser tratada, pois a mente estaria limpa da substância. Bob se encantou com isso e logo queria participar, muitas outras pessoas já estavam dispostas a entrar, até mesmo aquela mulher que perdera o marido e que seus filhos estavam dando de tudo para vê-la bem.
Elivan estava comovido com as coisas que aconteceram com seu amigo: a morte de Bruno e da sua esposa, a falta de dinheiro, por isso o chamou para morar com eles. Natalie mais uma vez viu o quão grande era o coração de seu amor e isso só fez com que ficasse mais apaixonada por ele.
Naquela conversa o nome de Rebeca sequer foi mencionado.
Os três saíram do local e foram para a casa de Bob pegar suas roupas e documentos, agora a casa estava a venda, e, como nem tudo são flores, naquela noite ele iria enfrentar a Impura em um combate pior do havia tido contra a Julgadora.
Quando se deitou para dormir, não parava de pensar na sua filha e nos bons momentos que tivera com ela. Ele dormiu com um sorriso no rosto, mas ao acordar viu que estava em um hospital sujo, as paredes estavam manchadas de mofo, o chão sujo de sangue seco e havia um fedor horrível. Escutou um barulho de uma mulher gritando, parecia que estava em trabalho de parto, e decidiu investigar para ver se a mesma estava bem.
Quando estava próximo ao quarto de onde o barulho estava vindo, Bob é atacado por algo com dentes enormes e afiados parecidos com lanças, seu braço ficou machucado e sangrando bastante, mas, apesar da dor, ele percebe que depois do ataque a criatura some.
Ele vê que numa sala alí perto havia um kit de primeiros socorros e entrando nessa sala para usar os equipamentos e se curar, outra vez ele escuta os mesmos gritos. Com mais cuidado, ele se dirige para lá, e, quando a criatura o ataca novamente, ele se joga no chão e desvia do ataque. Num instante uma jaula enorme o prende, todo o ambiente fica escuro e no centro uma luz branca se faz, Bob se aproxima, vê uma metralhadora com a palavra “amor” escrito nela. De repente seu corpo começa a sangrar e Bob vê que há vários cortes em sua pele.
Um buraco se faz no chão, deixando apenas a parte onde ele estava pisando, com cuidado Bob se aproxima da borda, vê que uma luz parecida com a de uma lâmpada ilumina o fundo do buraco, lá ele vê algo parecido com uma mulher aparentemente nua.
- Pula! – gritou a mulher e depois saiu dali.
Bob pula no buraco e, ao cair, nada lhe acontece e ele segue para o mesmo caminho por onde a mulher havia ido, que dava a uma plataforma onde no final havia uma espécie de arena circular com uma maca. Sem pensar ele corre até lá e bem à sua frente aparece a Impura, que sorrindo mostra seus dentes afiados. Bob tanta usar o “amor”, porém a arma estava vazia e era a única que ele tinha.
- Bob, seu tolo. – Ela ri com deboche.
A Impura o pega pelo braço e o joga perto da maca, e, enquanto ele a olha assustado, vê que suas pernas crescem e ela acaba por cair sem ter equilíbrio, era visível seu órgão genital, que estava sujo de sangue e esperma, baratas, lacraias, vermes e moscas estavam saindo de dentro da monstruosidade, mas isso não era nada para se importar, pois o que realmente o assustou foi os gritos de dor que aquela criatura deu, sua vagina pulsava como se algo estivesse pra sair e, quando sai, Bob perde a noção, pois vê sua filha, suja de sangue e sem olhos que gritava feito um monstro louco e, como se não bastasse, sai mais uma e outra de dentro da Impura.
Ele guarda a arma na cintura e pega a maca, indo de encontro as réplicas nojentas de sua querida filha, elas até tentam o atacar, mas sendo empurradas pela maca acabam caindo da plataforma para um abismo. As pernas da impura voltam ao tamanho normal e ela arranca a maca das mãos de Bob e arremessa contra o nada. Caminhando furiosa a passos firmes e rápidos, ela se dirige a ele e ele corre até o centro e, sentindo a arma esquentar, ele a tira da cintura e começa a despejar tiros contra o monstro, que não sente tanto dano.
- SUA ARMA NÃO É TÃO POTENTE ASSIM, SEU FROUXO! - o monstro diz, rindo.
Ela volta a crescer as pernas, mas dessa vez não cai, e várias Anas sujas saem de sua vagina. Bob teria que lutar contra várias ao mesmo tempo, e usando a metralhadora contra as réplicas ele tinha sucesso, mas na Impura parecia que nada acontecia.
As balas pareciam não ter fim, até que notou que quanto mais Anas sujas matava, mais munição era acrescentada. Com coragem ele se aproximou da Impura, chegando bem de baixo e vendo sua vagina ele atira sem dó, ela grita de dor e ele não para de atirar, percebendo que quanto mais atira, mais bichos saem junto com sangue.
- QUE NOJOOOOO! – Bob grita, fazendo careta.
Depois que a munição acaba, a vagina explode destruindo a monstruosidade e Bob sente o gosto de sangue e podridão cair em sua boca, o fazendo vomitar.
- Graças a Deus eu nunca te chupei!
O local fica todo escuro e a metralhadora “amor” vira uma luz que entra no corpo de Bob, em seguida um chuveiro aparece e todo local se torna limpo, havia uma placa próximo ao chuveiro onde estava escrito: “vem ficar limpinho”.
- Com certeza eu vou.
Nesse momento Bob acorda, era de madrugada e por um tempo ele fica apenas olhando para o teto sem pensar em nada. Naquela madrugada, às 3:25, ele não conseguiu dormir mais e ficou deitado até o amanhecer.
Quando Elivan acordou de manhã Bob já tinha preparado o café da manhã e colocado na mesa, mas ele não estava na cozinha, então decidiu então o procurar por toda a casa e não encontrou. Preocupado com o amigo, ligou em seu celular e, assim que Bob atende, Elivan fica aliviado.
- Estou no jardim, aquele tem belas flores. Ana iria gostar bastante.
Sem perder tempo, Elivan se dirige para o jardim. Bob estava vestindo uma calça de moletom e uma camisa de manga cumprida azul, enquanto que Elivan estava de roupão. O dia estava agradável, o sol estava fraco naquele horário. Os dois amigos estavam sentados numa cadeira de madeira, se deram bom dia e ambos começaram a admirar o jardim sem dizer uma única palavra, era como se não precisassem dizer nada, pois cada um sabia dos problemas do outro e só ter a companhia de um bom amigo era suficiente. Elivan ainda estava frustrado por não conseguir ajudar o amigo e Bob, apesar de ter mudado bastante, ainda sentia culpa pela morte de Ana e pra piorar não conseguia se lembrar como ela havia morrido.
Aquele jardim de uma maneira inexplicável mostrava a eles tudo sobre cada um, ficaram cerca de meia hora apenas olhando o belo jardim com aquelas flores lindas de cores variadas, até que Bob falou:
- Eu estou tendo sonhos diferente, às vezes não fujo dos monstros, eu os enfrento. Sonhei que enfrentava um dos monstros e não foi a primeira vez que sonhei com isso, já enfrentei dois e os venci.
Elivan da um sutil sorriso, feliz ao ouvir que seu amigo estava superando seus pesadelos, mas o destino é incerto e tudo pode acontecer. Realmente Bob estava progredindo e de uma maneira surpreendente, mas essa história está longe de acabar e Bob ainda teria que passar por muita coisa.
- Estou feliz por você, meu amigo. Mostra que você está vencendo seus medos, então continue os enfrentando, não tenha medo de nada, você deve manter a coragem e vence-los.
- Mas ainda tenho medo do cara do machado, ele me assusta.. chega até me dar pavor. Sempre que o vejo, a minha primeira vontade é correr e sumir da presença dele, sem falar nas vezes que ele mata Ana e aí piora, porque meu medo cresce ainda mais e a culpa também, porque não consigo salva-la... Às vezes nem tento salvar minha própria filha e, quando tento, acabo por matar Ana sem querer.
- Entendo, meu amigo, mas se você enfrentou outros monstros, então deve haver alguma forma que você possa enfrenta-lo, você só precisa saber como.
Ele estava certo, Bob conseguiu vencer dois monstros, mas como ele conseguiu fazer isso? Era isso que ele deveria descobrir primeiro para depois repetir o mesmo com o Lenhador e talvez, por fim, acabar com esses pesadelos.
Os dois homens saem do jardim e vão para dentro da casa, Elivan e Natalie tinham que trabalhar e Bob saiu para procurar um emprego ou qualquer coisa que viesse a ocupar sua mente, ficar sem fazer nada sempre o fazia piorar, pois ficava pensando sempre na morte da Ana e assim a culpa aumentava.
Naquele dia Bob não encontrou nem ao menos um bico para fazer e isso o deixou desanimado, voltou para casa de Elivan e fez uma faxina ajudando os empregados da casa, dessa maneira conheceu um pouco mais de Elivan, pois os funcionários não reclamavam do patrão, ao contrário: era só elogios e o mesmo foi com Natalie.
Por volta das 18h Elivan chega sozinho em casa e sem muitas explicações pega Bob e o leva para o carro, ele não responde a nenhuma das perguntas do amigo, apenas diz: “calma, logo você saberá”. 
Elivan estava levando Bob para um grupo de ajuda a pessoas que estavam passando pelo mesmo problema que ele, alguns não eram tão graves como se pensava, outros eram mais graves que a situação do próprio Bob. Marcas no corpo, sinais de demência, agitação, auto-flagelação, a culpa dessas pessoas e seus pesadelos eram de assustar até mesmo os mais corajosos dos homens.
Não havia uma faixa etária no grupo, ia desde adolescentes até adultos de meia idade. Semana passada alguém havia se matado e os integrantes ficaram assustados, com medo de terem o mesmo fim... mas por um lado até sentiram inveja dessa pessoa, pois na morte seu sofrimento havia acabado.
Bob ficou tímido com o grupo, não queria dizer nada e apenas ouviu no início. Havia tantos casos parecidos com o seu, ele pôde ver que não estava sozinho. Ele viu que ninguém ali tinha esperança, algo que ele entregou na graça de Cristo, então pensou que se mostrasse o amor do criador eles poderiam ter forças para superar esse problema, mas logo que começou a falar de Deus os outros debocharam e satirizavam.
- Isso não é igreja, “cumpadi”. Melhor cair fora, porque aqui ninguém acredita em Papai Noel. – disse um homem aparentando ter seus trinta anos, todos ali não estavam nem um pouco dispostos a ouvir nada do que Bob tinha pra dizer.
- Onde é que tá seu Deus, se você tá aqui? – Perguntou uma garota que naquela madrugada tentou se matar enforcada no quarto, por milagre ou sorte o pai chegou antes que a tragédia ocorresse.
Bob tentou responder, mas antes alguém tomou a frente na palavra:
- Eu vim aqui pra resolver meus problemas, aí vem um retardado falar de fantasias!
Bob sentiu-se mal e culpado, só queria ajudar, mas, aparentemente, só piorou a situação deles.
- Só queria mostrar a vocês algo que vem me ajudando bastante, de nenhuma maneira quis lhes prejudicar ou algo parecido. – O tom de voz do rapaz era baixo, seus ombros estavam tensos, ao terminar de falar ficou apertando os dentes pelo nervosismo.
- Cara, se liga! Acha mesmo que já não tentamos isso?! Pedi pra Deus salvar meu filho do acidente de ônibus, o garoto morreu de infecção hospitalar. Depois foi a minha mãe que foi assassinada dentro do ônibus por um assaltante, depois de tudo isso... – o rapaz respirou fundo tentando não chorar pra poder continuar: - Me joguei na frente de um ônibus em movimento, o que mais me enfurece foi que o tal Deus resolveu abrir os olhos e me salvar, porém se fez de cego e não salvou as pessoas que eu mais amava. Agora me diz, onde estava seu Deus para que você viesse até aqui?
Tais palavras fizeram Bob se questionar sobre Deus, ele mesmo tentou se matar por inúmeras vezes e sempre houve alguém para intervir, com sua filha foi bem diferente. Deus não a salvou e muito menos ele, será que Deus dá mais importância para uns do que para outros? Essa foi a pergunta que martelou em sua cabeça, a resposta logo veio dele mesmo: Todos são importantes para Deus, os que morreram agarraram a oportunidade de conhecer a graça de Deus, mas os que ainda não conheceram irão conhecer de alguma forma, aceitar ou não é a nossa única participação nesse trabalho, pois o resto Cristo já fez. Ao dizer isso Bob só foi zombado mais uma vez:
- Ótimo, agora manda ele me apresentar essa tal graça, assim eu morro de uma vez!
Os outros começaram a rir, Elivan observava tudo e não disse nada. Viu algo bom nessa situação, Bob estava superando e os outros não. Se de alguma forma eles conseguissem dar uma chance para seu amigo dizer o que o ajudou, talvez alguns dali pudessem também seguir em frente com uma vida melhor.
No final, quando todos já estavam indo embora, um rapaz foi até Bob o convidando para conversar a respeito daquilo que ele estava dizendo. Elivan achou que fosse uma boa ideia, assim poderia saber se o que ajudou Bob poderia ajudar outras pessoas também.
E lá foram os três até um carrinho de lanche que ficava do outro lado da rua, o rapaz pagou os lanches e mais os sucos. Já era umas 19hrs, estava um pouco frio na rua, mas nada que fosse incomodar.
- Por favor, me fala mais do que estava falando lá dentro. Já tentei de tudo para parar com os malditos pesadelos, o problema real não são eles, sabe, mas a culpa que eles trazem que me atormenta. – disse o rapaz com um brilho de esperança naquelas palavras.
- Bom... tente entender que não é algo que funciona como mágica e sim algo em que precisa persistir, apesar de muitas vezes parecer difícil. Se importa de me contar um pouco da sua história? E qual é seu nome?
- Me chamo Francisco, tenho quinze anos... moro com a minha avó, Lucinda, desde os nove anos, quando vi meu pai matar minha mãe com uma panela de inox na cabeça. Ele era usuário de drogas, usava qualquer coisa que o deixasse fora de si. Não consegui fazer nada para protegê-la, na verdade aquele golpe de panela era para ser pra mim, pois sem querer derrubei o copo de suco de cenoura e meu pai ficou irado, me chamou de asno bípede e disse que eu precisava de juízo, então pegou a panela do fogão e veio na minha direção, mas minha mãe chegou na hora e o ameaçou dizendo que se ele me tocasse iria chamar a polícia... Então ele se virou pra ela e com toda a força bateu a panela na cabeça dela. Minha mãe morreu na hora e vi um pedaço do crânio dela sair. Depois disso não lembro o que aconteceu,  desmaiei, e quando acordei meu pai estava morto com um corte na perna e furos na barriga, os ferimentos foram causados por vidros e minhas mãos estavam cortadas. Depois desse dia, não paro de ter pesadelos que de alguma forma me lembram daquela noite.
Os olhos do jovem lacrimejavam ao lembrar com tanta perfeição das cenas de violência, Elivan com todo seu conhecimento teria dificuldades em ajudar o garoto, mas Bob obteria um melhor resultado numa simples conversa.
- Sinto muito por essa tragédia em sua vida. O sentimento de impotência às vezes eu penso que é pior do que a culpa, porque de alguma forma pensamos que poderíamos ter evitado, mas não evitamos. O sentimento de solidão vem e isso machuca e faz a gente pensar em coisas ruins, mas aí que estamos errados simplesmente porque nunca estamos sozinhos, sei que o que falo parece loucura, mas é a verdade. Sua mãe morreu para lhe proteger, ela deu a vida a alguém que ela amava, a mesma coisa que Cristo fez. Ele morreu para que tenhamos uma nova vida, uma vida ao lado Dele, pois essa é a vida verdadeira. Quando olhamos para a Cristo na cruz, vemos que ali foi demonstrada a maior prova de amor. Cristo morreu para que um dia pudéssemos estar ao lado dele, a mesma coisa sua mãe fez, ela deu a vida por você para que vivesse feliz e longe da violência de seu pai. Eu sei que é perder um filho, não digo que sua dor é menor que a minha, mas o que sua mãe fez eu faria mais de mil vezes.
O lanche nem sequer foi tocado, a conversa fez com que perdessem a noção do tempo. Elivan se encantou com as palavras de Bob e mais ainda Francisco, que com aquilo tinha uma outra perspectiva das coisas, uma luz brilhou em seu coração. Depois da conversa eles foram para casa, naquele dia Francisco voltou a viver.
Elivan quando estava indo para seu carro junto de Bob não conseguiu segurar sua admiração pela facilidade que seu amigo teve ao ajudar o rapaz e perguntou:
- Quem foi que lhe apresentou essa graça?
Apesar de estar entusiasmado com o que viu, Bob respondeu Elivan tranquilamente:
- Foi um amigo, o Bruno. Ele quem me ajudou com algumas coisas e viu que eu não andava bem, então viu nisso uma oportunidade para me mostrar o amor de Deus. Infelizmente ele morreu... o pior de tudo é que ele tem um filho e o rapaz nem sequer sabe da morte dos pais.
Elivan se lembrou que já teve essa conversa com Bob, e viu que ele estava preocupado com o rapaz que nem sequer sabia da morte dos seus pais. O mais impressionante nisso era que Elivan já conhecia um pouco esse rapaz, porém não sabia seu nome. Bob também o conhecia e sabia seu nome. Ah, então é fácil! É só Bob dizer o nome, ué. Não! Mesmo se Bob dissesse o nome, Elivan não saberia, pois ambos conheciam a mesma pessoa de um modo bem diferente e outra: Bob não sabia que o filho de Bruno estava preso, já Elivan sabia que ele estava preso, porém nem sequer conhecia Bruno. Mas havia um objeto que poderia ajudar e muito essa questão: a foto que Bruno deixou com seu amigo, aí sim os dois poderiam informar o rapaz. Mas Bob nem sequer imaginava que Elivan soubesse de quem poderia ser e a mesma coisa Elivan, então do que adiantaria mostrar a foto?
A história desse presidiário está bem longe de começar de verdade, e seu final...
Ao chegarem em casa Natalie já estava lá preparando a janta, ela recebe Elivan com um caloroso beijo e um abraço apertado, Bob viu que seu amigo encontrou algo difícil de achar: o amor verdadeiro de uma mulher que lhe quer bem. Os três ajudam a moça com o jantar e Bob começa a cantar a mesma música  que cantou com Bruno, Natalie sabia um trecho e seguiu Bob na canção.
- Acho melhor aprender essa música, se não ficarei sem os acompanhar com a minha linda e magnífica voz! – disse Elivan, brincando dizendo de uma forma pomposa.
Natalie, para deixar ele sem graça e ver a cara de menininho que ele fazia, disse:
- Amor, nem no chuveiro sua voz é bonita.
Os três riram, era um momento alegre e descontraído que em poucos dias iria acabar. Assim como todos nós temos nossas recaídas, Bob teria a sua, uma caída tão violenta que causaria a dor em uma outra pessoa.

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⏰ Última atualização: Jul 03, 2018 ⏰

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