Capítulo 6

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    As coisas passaram tão rápidas.. que nem consegui acompanhar, minha mente já parecia estar anestesiada pelos acontecimentos que minha família passou. Dor e sofrimento nos acompanhando parecendo velhos amigos...

    No décimo mês desde a descoberta do câncer, minha mãe já tinha ido do estado surpresa ao estágio IV avançado, e ela piorava a cada dia.

    Todos estavam explodindo, mas quem estava me deixando louca era meu pai, que depois que a mamãe ficou doente apontava sua mira somente para mim, suas agressões verbais e até certo ponto físicas pioraram ainda mais com a chegada da minha avó Nádia. O difícil era esconder os hematomas, principalmente de tia Jane que estava cada dia mais desconfiada.

    Mamãe resolveu voltar para casa passar seus últimos momentos com a família, depois que os médicos falaram que descobriram tarde demais seu câncer e que agora em seu estado terminal só lhe restava alguns meses de vida.
    Toda a família estava em casa para dar força e mostrar o quanto à amavam, mas sempre acabava com ela acalentando todos com seus conselhos e carinhos.  Ela estava em paz com sua decisão e nos cinco meses que ficou entre nós... procurou mostrar que sempre estaria ali, mesmo que seu corpo não.

    Mamãe era a alma daquela casa.. seu sorriso; sem ela tudo parecia frio, sem vida, nulo...   Ela nunca deixou alguém ficar para baixo, tentava sempre achar o lado bom das coisas. E sem ela.. tudo ali.. era como se tudo estivesse desconexo...

   Era isso que estava pensando em meu quarto enquanto carros e mais carros chegavam com pessoas vindo do enterro para dar as condolências a família Thompson.    Eu não queria aquilo.. queria apenas me trancar em meu mundo e esquecer tudo...   esquecer o ano todo; seria tão mais fácil não sentir, não sentir nada... não sentir esse buraco dentro   de mim...  esse vazio...  essa falta de ar sempre que lembrava dela fria dentro de um caixão.

    - Oi. - me assusto com Lia deitando ao meu lado, nem tinha visto ela entrar. - Desculpe... não queria te assustar.

    - Tudo bem...eu não estava aqui...
    - Percebi... te chamei várias vezes antes de entrar.

    - Desculpe, eu não te ouvi... na verdade nem notei você entrando.
    - Eu sei pequena. - ficamos um tempo em silêncio, cada uma perdida em si.

    - Não tinha que estar lá em baixo.
    -  Você também Luna. - disse dando de ombros. - Estava cansada de todos me perguntando 'Está tudo bem?' 'Como você está se sentindo?' ou 'Você está triste?' , perguntas idiotas...

    - Onde está Lucy?
    - Com Dona Nádia. - disse suspirando. - Depois que chegamos vovó Molly sentou-se na poltrona da biblioteca e está lá fitando o vazio, não fala nada e não olha para ninguém.. vai lá com ela...

    - Daqui a pouco eu desço para falar com ela.
    - Tudo bem... bom.. vou descer, vamos? - levantou estendendo a mão para mim.

    - Você quer me tirar daqui né?
    - Só não quero que você fique sozinha... quero vocês pertinho de mim...

    - Ok.. ok.. vamos, vou lá falar com ela. - levantei e seguimos para a biblioteca.

    - Olhe ela lá... está do mesmo jeito de quando eu sai. - disse Lia apontando para a vovó Molly.

    Fui até ela, subi em seu colo e me aconcheguei em seus braços, respirei teu perfume e não consegui mais segurar o choro e ela também não... senti ela me abraçando forte tentando me proteger ou tirar a dor.

    - Vo.. vovó...
    - Ohh minha pequenina... eu sinto muito... chora meu bem, chora o quanto precisar meu anjo... eu estou aqui. - ela me embalava em seus braços para me acalmar.

Meu Primeiro AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora