Abacaxi Rosa

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Toda pessoa almeja algo para o futuro. Não importa que seja um bom emprego, uma família ou uma vaga na faculdade. Até mesmo bens materiais, como uma piscina, um celular bacana ou um objeto de decoração. Eu sou o último tipo de pessoa. Sim, o maior sonho da minha vida era ter um abacaxi rosa, daqueles bem brilhantes e bregas, que ficam apenas pegando poeira nas prateleiras de lojas de 1,99.
E aqui estou eu, com 20 anos na cara e meu lindo novo investimento na mão, na fila de um caixa lotado, esperando para ser atendida por uma atendente rabugenta.
Era tudo que me faltava. Dá vontade de gritar para o mundo "EU ESTOU TENTANDO REALIZAR A DROGA DE UM SONHO AQUI, DÁ PRA COLABORAR?!".
É uma lástima que o Universo não me responda, até que sou uma boa pedinte.
Então eu o vejo. Um caixa vazio ao final da loja. Saio da fila de fininho e vou na direção da outra cabine. Um homem que parece ter o triplo da minha idade está sentado na cadeira de forma despojada e lê um jornal meio amassado. Dou o meu melhor sorriso falso e coloco a compra na sua frente. Ele nem tira os olhos da sessão de esportes. Pigarreio. Deixe eu me expressar melhor; minha intenção era de pigarrear. O que realmente aconteceu foi totalmente o contrário.
Eu pura e simplesmente comecei a engasgar com o doce ar Oxigênio e começar a tossir como uma pessoa com problemas pulmonares. Ele virou para mim com os olhos arregalados e até deixou as folhas caírem no chão quando tentava, de forma inútil, me fazer recuperar o fôlego.
Após uns cinco minutos de tosse incessante, meus pulmões voltaram a se comportar como pulmões e eu pude continuar com a minha compra. O atendente nem reclamou, apenas passou o produto pela maquininha e me deu o troco.
Fui para o apartamento, encantada com o meu novo objeto decorativo. Coloquei-o em minha cabeceira. Não combinou com os livros que estavam ali. Certo, sem problemas. Pus na mesinha de centro da sala. Meu gato passou de raspão pelo artefato e quase o derrubou. Decido então colocá-lo na mesa de jantar. Perfeito.
Ok, poderia ser melhor.
Droga, isso não combina com nada.
Tomo a decisão de devolver o abacaxi rosa para a loja.

Acordo no dia seguinte bem disposta e vou logo resolver o meu problema rosa. Ao chegar no estabelecimento, encontro o mesmo atendente do dia anterior. Vou até ele e percebo sua surpresa com a minha vinda. Explico a situação e digo que quero devolver o produto. Tudo que ele faz é respirar fundo.
- Eu sinto pena desse tipo de pessoa.
Pisco, confusa com sua fala.
- Não quero ofender a senhora, mas sabe o que acaba de fazer? Acaba de fazer a mesma coisa que os outros. Desistir facilmente. Eu vi como a senhora olhava para esse abacaxi rosa. Toda semana, a senhora passa por aqui e o fica encarado. Era um brilho nos olhos que cegava qualquer um. Agora, olhe para si. Está decepcionada, consigo e com o abacaxi. Tudo por causa de uma primeira impressão equivocada. Volte para casa e tente novamente. Se não der certo, pode ir à loja pela manhã. Mas não desista. Agora é hora de acordar.
A música irritante do meu despertador invade a loja e transforma tudo em pó. Acordo em um pulo e vejo que adormeci no sofá. O abacaxi rosa continua na mesa.
Era tudo um sonho.
Sorrio para mim mesma.
- Acho que não ficou tão ruim, afinal.

Delírios de Uma Mente AnsiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora