Capítulo 2

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  E então sucedeu que uma caravana fortemente escoltada logo partiu de Damasco transportando certificados de propriedade e ouro para aqueles que dirigiam cada um dos empórios de Hafid. De Obed, em Joppa, a Reuel, em Petra, cada um dos dez administradores recebeu a notícia da retirada e do presente de Hafid em pasmado silêncio. Finalmente, após fazer sua última parada no empório em Antipatris, estava finda a missão da caravana.

    O mais poderoso império comercial de seu tempo não mais existia.   

 Com o coração pesado de tristeza, Erasmo mandou avisar ao amo que o depósito estava vazio e que os empórios não mais ostentavam a orgulhosa bandeira de Hafid. O mensageiro regressou com um pedido de que Erasmo se encontrasse imediatamente com o amo, próximo à fonte, no peristilo. 

   Hafid estudou o rosto de seu amigo e perguntou:

- Fez tudo?

- Tudo, meu senhor.

- Não se aflija, meu bom amigo, e siga-me.

  Apenas o som de suas sandálias ecoava no gigantesco aposento quando Hafid levou Erasmo para a escadaria de mármore que ficava ao fundo. Seus passos diminuíram momentaneamente   ao se aproximarem de um solitário vaso de fluorita numa prateleira de madeira de árvore e ele observou que a luz do sol tinha mudado a cor do vidro, de branco para púrpura. Sua face, envelhecida pelos anos, estampou um sorriso.

  Então os dois velhos amigos começaram a subir os degraus que levavam ao quarto sob a cúpula do palácio. Erasmo notou que a guarda armada não mais existia. Finalmente ganharam o patamar e pararam visto que ambos estavam quase sem fôlego pelo esforço da subida. Depois seguiram para o segundo patamar e Hafid retirou a pequena chave do cinto, destrancou a pesada porta de carvalho e forçou-a com o corpo, com o que ela se abriu, rangendo. Erasmo hesitou até que seu amo acenasse para entrar e, então, avançou timidamente para o quarto onde ninguém tivera permissão para entrar, por cerca de trinta anos.

  Cinzenta e empoeirada luz irradiava de pequenas torres acima de Erasmo, que se agarrou ao braço de Hafid até que seus olhos se acostumaram à semi-escuridão. Com um leve sorriso, Hafid observou Erasmo, que, locomovendo-se lentamente, saiu num quarto vazio, exceto por um pequeno baú de cedro iluminado por um feixe de luz solar num canto.

- Não está desapontado, Erasmo? 

- Não sei o que dizer, senhor.

- Não está desapontado com os móveis? Certamente o conteúdo deste quarto tem sido assunto de conversa de muitos. Você nunca especulou sobre o mistério que envolve tudo que aqui se encontra e que eu guardo zelosamente por tanto tempo?

  Erasmo assentiu com a cabeça.

- É verdade. Tem havido muita conversa e muitos rumores, pelos anos, quanto ao que nosso amo guarda escondido aqui na torre.

- Sim, meu amigo, e muitos deles eu ouvi. Tem-se dito que aqui se guardam barris de diamantes, lingotes de ouro, ou animais selvagens, ou pássaros raros. Certa vez um persa, mercador de tapetes, deu a entender que talvez eu mantivesse aqui um pequeno harém. Lisha riu, ao imaginar-me com uma coleção de concubinas. Mas, como você pode ver, nada há aqui, exceto um pequeno baú. Agora, venha para cá.

  Os dois agacharam-se ao lado do baú e Hafid cuidadosamente começou a soltar as correias de couro que o envolviam. Ele inalou a fragrância do cedro e, finalmente, empurrou a tampa, que se abriu sem dificuldade. Erasmo curvou-se à frente e espiou sobre o ombro de Hafid o conteúdo da arca. Olhou para Hafid e balançou a cabeça espantado. Nada havia na arca além de pergaminhos... pergaminhos de couro.

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