Quase duas semanas depois que a caravana regressara à base em Palmira, Hafid foi despertado em sua cama de palha, no estábulo, e chamado à presença de Pathros.
Dirigiu se com rapidez ao dormitório do amo e parou, incerto, ante a enorme cama que reduzia o tamanho de seu ocupante. Pathros abriu os olhos e desvencilhou-se das cobertas até sentar-se ereto. Seu rosto estava descarnado e as veias inchavam-lhe as mãos. Era difícil acreditar que se tratasse do mesmo homem com quem falara apenas doze dias antes.
Pathros moveu-se para a parte mais baixa da cama e o jovem sentou-se cuidadosamente na beirada, esperando que o ancião falasse. Até mesmo a voz de Pathros era diferente, em som e timbre, daquela na última reunião.
– Meu filho, você ainda tem muitos dias para reexaminar suas ambições. Existe ainda, dentro de você, a vontade de se tornar um grande vendedor?
– Sim, meu senhor.
O ancião assentiu com a cabeça.
– Então, que assim seja. Planejara gastar muito mais tempo com você, mas, como pode ver, há outros planos para mim. Embora me considere um bom vendedor, sinto-me incapaz de vender à morte seu afastamento de minha porta. Ela tem esperado há dias, como um cão faminto à porta de nossa cozinha. Como o cão, ela sabe que finalmente encontrara a porta aberta...
Um acesso de tosse interrompeu Pathros e Hafid continuou inerte, enquanto o ancião lutava com a falta de ar. Finalmente, a tosse parou e Pathros sorriu com debilidade.
– Nosso tempo juntos é breve, de maneira que vamos começar. Primeiro, retire o pequeno baú de cedro de debaixo da cama. Hafid ajoelhou-se e puxou um pequeno baú com correias decouro. Colocou-o sob o contorno que Pathros traçou com os pés na cama. O ancião pigarreou:
– Há muitos anos, quando minha posição era inferior a de um guardador de camelos, tive o privilégio de socorrer um viajante do Oriente que fora atacado por dois bandidos. Ele insistiu em que eu salvara sua vida e quis recompensar-me, embora eu não procurasse nenhuma recompensa. Como eu não tinha família, nem economias, convenceu-me a voltar com ele para sua casa e família, onde fui aceito como um dos seus.
"Um dia, depois que me acostumara a minha nova vida, ele me apresentou este baú. Dentro havia dez pergaminhos de couro, todos numerados. O primeiro continha o segredo de aprender. Os outros continham todos os segredos e princípios necessários para tornar-me uma pessoa de grande êxito na arte de vender. Então, a seguir, foi-me ministrada, todos os dias, a palavra sábia dos pergaminhos, e com o segredo de aprender, do primeiro pergaminho, finalmente memorizeipalavra por palavra de todos os pergaminhos até que elas se tornassem parte de minhas maneiras e de minha vida. Elas se tornaram hábito.
"Finalmente, recebi de presente com o baú, contendo os dez pergaminhos, uma carta selada e uma bolsa com cinqüenta moedas de ouro. A carta selada não era para abrir até que meu lar adotivo estivesse fora de vista. Despedi-me da família e esperei até alcançar a rota comercial para Palmira antes de abrir a carta. A carta, em essência, mandava-me tomar as moedas de ouro, aplicar o que aprendera dos pergaminhos e começar uma nova vida. Mandava, ainda, partilhar sempre a metade da riqueza adquirida, fosse ela qual fosse, com outras pessoas menos afortunadas, mas que não desse os pergaminhos de couro nem os partilhasse com ninguém até o dia em que eu recebesse um sinal especial que dissesse quem fora o próximo escolhido para recebê-los.
Hafid balançou a cabeça:
– Não entendo, senhor.
– Explicarei. Permaneci a espera dessa pessoa e do sinal por muitos anos e enquanto esperava apliquei o que aprendi dos pergaminhos para acumular uma grande fortuna. Quase cheguei aacreditar que tal pessoa jamais apareceria antes de minha morte, até que você regressou de sua viagem a Belém. Meu primeiro pressentimento de que você fora o escolhido para receber ospergaminhos veio-me quando você apareceu sob a estrela brilhante que o seguira de Belém. Em minha alma tentei compreender o significado desse fato, mas resignei-me a não desafiar as ações dos deuses. E então, quando você disse que cedera a túnica, que significava tanto para você, algo dentro de minha alma falou e disse que minha longa procura terminara. Descobrira finalmente aquele a quem fora ordenado ser o próximo a receber o baú. Estranho mas, logo que soube ter descoberto a pessoa certa, a energia de minha vida começou lentamente a se esvair. Agora, vejo-me próximo do fim, mas minha longa procura terminou e eu posse partir deste mundo em paz.
– Ouça atentamente, meu filho, já que não terei forças para repetir estas palavras.
Os olhos de Hafid estavam úmidos ao aproximar-se de seu amo. Suas mãos tocaram-se e o grande vendedor inalou o ar com esforço.
– Lego-lhe agora este baú e seu valioso conteúdo, mas antes há certas condições com as quais você deve concordar. No baú há uma bolsa com cem talentos de ouro. Isso o capacitará a viver e comprar um pequeno sortimento de tapetes com os quais você pode entrar no mundo dos negócios. Poderia deixar-lhe grande riqueza, mas isso seria um terrível desserviço. Muito melhor é que você se torne o maior e mais rico vendedor do mundo, sozinho. Como vê, não me esqueci do seu grande sonho.
"Parta imediatamente para Damasco. Lá, encontrará infinitas oportunidades de aplicar o que os pergaminhos lhe ensinarão. Logo que arranjar um alojamento, abra apenas o pergaminho Número Um. Leia-o repetidamente, até entender por completo o método secreto que ele descreve e que você usará para aprender os princípios do êxito em vendas, contidos em todos os outros. Tão logo aprenda de cada pergaminho, pode começar a vender os tapetes que comprou e, se combinar o que aprender com a experiência que adquirir e continuar a estudar cada pergaminho como foi instruído, suas vendas crescerão em número a cada dia. Minha primeira condição, então, é que você prometa sob juramento que seguirá as instruções do pergaminho Número Um. Concorda?
– Sim, senhor.
– Bom, bom... e, quando aplicar os princípios dos pergaminhos, tornar-se-á muito mais rico do que jamais sonhou. Minha segunda condição é que deve constantemente distribuir a metade de seus ganhos com aqueles menos afortunados do que você. Não deve haver nenhum desvio desta condição. Concorda?
– Sim, senhor.
– E, agora, a condição mais importante de todas. Você está proibido de partilhar os pergaminhos ou a sabedoria neles contida com os outros. Um dia surgirá alguém que lhe transmitirá um sinal, como a estrela; suas ações generosas foram o sinal que eu procurava. Quando isto acontecer, você reconhecerá o sinal, mesmo que a pessoa que o transmite ignore ser ela a criatura escolhida. Quando seu coração lhe assegurar que você está certo, então passará para ele ou ela o baú e seu conteúdo, e quando isso for efetivado não haverá nenhuma necessidadede impor condições ao recebedor como foram impostas a mim e agora, por meu intermédio, a você. A carta que recebi muito tempo atrás ordenava-me que o terceiro a recebê-los podia partilhar sua mensagem com o mundo se assim o desejasse. Você promete executar essa terceira condição?
– Prometo.
Pathros suspirou de alivio como se um grande peso tivesse sido retirado de suas costas. Sorriu fracamente e colheu a face de Hafid na concha de suas mãos ossudas.
– Pegue o baú e parta. Não mais o verei. Vá com o meu amor e meus votos de êxito, e que possa sua Lisha finalmente partilhar toda a felicidade que seu futuro trará.
As lágrimas rolavam sem receio pelas faces de Hafid ao pegar o baú e atravessar a porta aberta do dormitório. Ele parou um instante do lado de fora, colocou o baú no chão e voltou em direção ao seu amo:
– O fracasso jamais me surpreenderá se minha decisão de vencer for suficientemente forte?
O ancião sorriu levemente e assentiu. E ergueu a mão em adeus.
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O Maior Vendedor do Mundo
Diversos''Um dos livros mais inspiradores, mais interessantes e mais úteis que ja li.'' -Norman Vincent Peale