Recessão de Sentimentos

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Decidido a acabar com a vida, pegou o galão de gasolina e a caixa de fósforos. Usaria uma arma de fogo caso tivesse. Não compreendia como havia chegado naquele ponto; abriu a tampa do galão...

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Uma semana antes.

O pior final da tarde de um homem acabava de se formar. Naquele exato momento a palavra demitido era proferida pelo chefe, o choque da notícia deixou-o quase mudo e a única resposta foi um imperceptível ok. No caminho para o R.H., pensava de forma desesperadora: Dez anos de firma! Como podem fazer isso comigo? E as crianças, como vão ficar? E minhas dividas? Questionou-se até chegar.

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Já dentro do carro, sua mente borbulhava mais e mais... Lembrou que a patroa já não era a mesma e que possivelmente a notícia geraria uma nova e longa discussão. Pensou em parar pra beber, mas álcool não resolveria o problema e provavelmente causaria um acidente. Decidiu enfrentar seu destino sem rodeios.

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Chegou em casa... triste, derrotado e sem chão. Abriu a porta, mas tudo que sentia foi subjugado por um alegre coro:

– Papaiii!

Enquanto abraçava as crianças pensou: filhos são um balsamo para a alma, não importa a situação! Risonho em ver a sua prole, perguntou:

– Como vão vocês moleque e mocinha?

– Bem! – respondiam os dois em coro.

– Pai, óia o que eu fiz? – o rapazinho mostrava o seu desenho.

– Olha o meu Papai! – mostrava a mocinha.

Depois de uma intensa briga por atenção, elogiou os desenhos das crianças e foi cumprimentar a patroa, que não lhe deu muita atenção. Decidiu contar o ocorrido após o banho. De mente e corpo limpo, revelou a situação. Pouco adiantou as explicações de como dar a volta por cima. O conflito já era certo e uma longa discussão foi iniciada, uma das piores que o casal já tivera.

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Na manha do dia seguinte, vestiu-se rápido e pegou o celular. Com um currículo e alguns documentos na mão, foi procurar um novo emprego. Não havia tomado café. Seguiu de jejum como se pagasse penitência, tinha pressa em resolver seu problema. As economias mal serviam para sustentar a família por mais de três meses. Não queria esperar o acerto ou o seguro desemprego, dez dias corridos não animavam. Assumiu a responsabilidade de pai e marido; o homem da casa! Tinha que arcar com elas.

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Já no SINE.

Achou algumas vagas de seu interesse, porém não poderia se apresentar para as entrevistas. Pois não tinha recebido o ônus de sua antiga empresa, ficou feliz em saber que ainda conseguiria um emprego nesses tempos de crise; caso o acerto não demorasse. Para não perder a viajem entregou sua carteira de trabalho no R.H. da empresa e ficou surpreso ao ver mais amigos na mesma situação. Sentindo-se desconfortável... foi para casa. Esperaria mais 4 dias para receber o acerto.

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Já na rua de sua residência, percebeu um carro da polícia em sua porta. Acelerou e estacionou o carro próximo a viatura, preocupado que algo de ruim tivesse acontecido com as crianças ou com a mulher. Para sua surpresa foi barrado por dois policiais e um oficial de Justiça. Acabava de ser autuado em uma medida protetiva de urgência, mal entendia o que havia ocorrido. Após ler o processo, foi pego de surpresa por alguns dos termos a seguir:

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