Cicatrizes

27 2 0
                                        

Marca de faca no braço. Um pequeno pedaço da minha cabeça queimado por vela quando ainda era bebê. Cicatriz que levou quatro pontos na perna esquerda quando caí da escada do porão com um prego afiado em um dos degraus, arrancando a carne enquanto eu girava. A última tenho na testa, quando vovô me fez montar em um cavalo, é... O que houve depois com certeza já deve imaginar. Todos esses citados foram momentos "felizes" que minha infelicidade constante estragou.
Sou um mero balão estourado, que foi cicatrizado. Sou quase como você, mas creio que já tenha ficado "cheio" muitas vezes, estar cheio não é um grande feito, por isso esvazio sempre.
¡És vacía siempre!
Há um tempo atrás achava que o mundo estava corrompido e que as pessoas tinham veneno, não em frascos como em filmes de drama, mas em pensamento como em filmes de bárbaros. Elas eram trágicas, psicopatas, antiéticas e maléficas. Uma ideia romântica tola. Então, percebi que nem todas são inteligentes ao ponto de conseguirem ser da forma que apontei, elas não nasceram na época errada mas necessitam evoluir mais, pensar um pouco fora de uma pequena caixa invisível. Se pudessem me escutar, me sentir, talvez eu conseguisse alertá-las de que não são tão "importantes" assim.
Se encher de certeza de ser completo, não apenas te faz incompleto, como também o faz ser um projeto concluído antes de ter começado. Em partes, o faz insignificante.

No universo tem cicatrizes, somos o que veio muito após o Big Bang que (até ser provado de que não existiu) é uma teoria válida. Antes de dormir, todos os dias, desde que comecei a tomar antidepressivos, criar teorias virou meu principal porquê de ainda estar viva (mesmo morta).
E se na verdade vivemos em um planeta feito por uma espécie mais evoluida à 800 trilhões de anos-luz, e servimos apenas como observatório da evolução? Como animais em um zoológico e ratinhos de laboratório? Não, mais complexo que isso! É sobre todo recurso escasso, extinção, adaptação e surgimento de novas bactérias.
Será que irão evoluir ao ponto de extinguir toda a vida humana, usar nossos míseros e sujos cadáveres como alimento. Até extinguirem por antibióticos orgânicos matadores, fazendo aquelas bactérias com mente racional de 5 metros de altura e 181 metros de largura em uma manada agrupada ir pro esquecimento das espécies aniquiladas.
Como saber? O que podemos agora é deduzir!

Voltando...
Todas as marcas que tenho só foram possíveis porque corri riscos. E correr riscos foi o que mais temi em toda minha irrelevante vida. Há uma semana estou me drogando bem mais que antes, a ansiedade e compulsão aumentou, minha saúde física parece estar mais afundada que minha existência. O mundo ou o medo. Não é como ouvir música trancada no quarto, assistir pornô alto na sala, colocar velas no porão, usar o banheiro e não dar descarga, colocar todos os antidepressivos em um copo e tomar de uma vez. Não é como um efeito colateral. É pior. As piores cicatrizes, não foram as mencionadas acima, essas são faceis de conviver se não olhar no espelho. Minha versão que hoje, não é aquela garotinha apaixonada, que via verdade no que os adultos falavam. E na sua primeira tentativa de expressar o que sente, eles lhe cortam a cabeça. Uma pobre comunista juvenil, que apenas gostaria de ouvir um dos reis (como a maioria das crianças veem os adultos), que para mim, conseguiam amar. "Ela é apenas uma amiga"; "Você é uma criança, não sabe o que fala"; "Pobre menina, confundindo sua relação de amizade! O que estou falando? Você nem sabe o que é relação!"; "Aquela menina é apenas sua amiga, nunca ouse se influenciar por esses gays, lésbicas e mais". Essas e outras milhares, amargamente dissolvidas no meu subconsciente. Eles se sentem superiores e acham que as crianças são "inocentes", eles já foram jovens um dia e se recordassem bem, saberiam que estão errados no conceito de inocência e experiência. Então, aprendi que quando se é criança ouvir pouco esses adultos narcisistas ignorantes é o melhor e a atitude mais madura á se fazer. Isso, antes deles lhes tirarem a capacidade de pensar! Pense na seguinte metáfora:
- Uma tábua, uma faca amolada, uma peça de carne bovina e sua mão sobre a mesa. Se você fôr um adulto comum, a cada valor e atitude correta, terá um belo e suculento bife! Para cada conselho estúpido terá um corte em um dos dedos. No final do churrasco todos os seus dedos estarão dissipados. Se chegar a idade adulta, seja convencional e terá então na mesa carne não convencional!

Tive tantos traumas que hoje não consigo chorar sem bater minha cabeça na cabeceira da cama. Não queria atenção - é o que todos dizem ao ver uma pessoa imensamente infeliz querendo desencravar sua dor - no orfanato, molhava meu manto preto pelas perdas, dores e incapacidade; Nenhuma criança sentia as coisas como eu, nem Alice no país das maravilhas e suas drogas e confusões mentais. Não sangravam pelos ouvidos (os meus sangravam/sangram ainda) quando acordavam e saiam correndo pelo Casarão gritando. Queria apenas alguém que pudesse me ouvir, verdadeiramente, tentar me compreender, ou ter essa mínima curiosidade por saber porque meus ouvidos sangravam. Sabe o que aconteceu? Nunca tive essa pessoa. Ninka? Apenas a garota que me dava seu pedaço de bolo e brigadeiro por ter intolerância a lactose, e me acordava na madrugada pra irmos observar as estrelas; A noite era a melhor parte do dia, a beleza do céu que dizia tudo em silêncio. Me lembro vagarosamente o que me disse na última noite que nos vimos com os olhos castanhos me olhando, enquanto deitávamos no chão. Adeus:  "vai dar tchau aos senhores amanhã, indo para a grande cidade, onde tem muita luz e poucas estrelas! Ficarei com saudades do seu infinito". Minha paixão pela física nasceu ali. E depois descobri que meu "céu infinito" era apenas 1% das estrelas. Estava certa de algo, mesmo sendo poucas não vemos uma sequer estrela aqui, não como no interior. E sinto saudades delas, sinto dela.

Creio que um dia conhecerei a senhora liberdade, amarei a noite como nunca fantasiei antes! Espero que o céu me ouça, converse comigo, porque a solidão é calada demais e ocasionalmente me irrito com ela. Mas enquanto isso, sigo escrevendo para ninguém. Sem ofender ninguém. Pois, ninguém deve ser alguém importante.

12 de julho
Josye, chegou um parque novo na cidade, nunca fui á um parque de diversões, e provavelmente estou velha demais para isso. Se você ler este lembrete, por favor, desconsidere minha idade e me dê permissão para ir, lá tem uma roda gigante com exatos 45 metros. E com certeza é a maior que nunca vi. Fiquei sabendo que também têm uma enorme barraca de algodão doce gigante arco-íris, isso sim, eu nunca vi mesmo!

Nada mal, ir à um parque sem amigo algum, posso me divertir sozinha com tickets infinitos, não mais que alguns seres em órbita e ir umas 10 vezes na roda gigante, nem sou tão velha assim, mesmo tendo corpo de 16 e mente de 160.

Há uns 2 anos me livrei completamente de redes sociais em geral, pela minha incapacidade e baixa autoestima e por achar que vou estragar minha reputação (que não tenho, também se tivesse, à perderia) postando asneiras e tolices incompreendida pelas pessoas. Vou voltar com o chat, que desinstalei após terminar com o Icaro.
Quem é Icaro? Eu também gostaria de desconhecer! Já citei ele neste fichário que insisto em escrever - desconhecendo o porquê - mas, depois adentro á fundo em mais um vestígio. Vou me preparar para voltar com o chat, e ver quais mensagens não foram vistas nos últimos quatro meses sem comunicação. Não estou preparada para surpresas, já que meu pessimismo inundou todas práticas e boas expectativas que tinha.

Esperança AgoraOnde histórias criam vida. Descubra agora