Fica Comigo

02 | Sobre a casa dos sonhos

Rose Rosewood estava jogada de maneira desconfortável em seu sofá estampado. Fazia tempo que a garota não encontrava conforto, fosse em seu apartamento ou em si própria.

A música Linger - The Cranberries escapava pelo alto falante de seu celular, em um volume não muito baixo. A garota ansiava que a melodia, que era uma das suas preferidas, fosse capaz de silenciar os pensamentos negativos de sua mente.

É assim que ficamos?

Você estava mentindo o tempo todo?

Foi só um jogo para você?

Rose Rosewood se sentia fraca.

Fraca por não conseguir levantar as costas doloridas do sofá para ir trabalhar, embora soubesse que se não o fizesse poderia perder seu emprego e consequentemente não conseguiria terminar de juntar uma quantia significativa de dinheiro para comprar uma casa. Sua casa.

A garota sempre sonhara em ter uma casa dos sonhos. Com escadas que a levassem para o segundo andar, com cercas brancas que seriam decoradas lindamente no natal e com um gramado bem cuidado, para que pudesse construir um jardim de rosas. Uma casa com no mínimo três quartos e um escritório cheio de peças de roupas que ela faria para se tornar famosa no ramo da Moda.

Rose começara a juntar no ano em que seus pais decidiram em conjunto que lhe dariam uma quantia de dinheiro todos os meses. Ela era uma boa garota, sempre centrada, responsável e estudiosa. E eles eram os advogados mais procurados, tanto em Westville, quanto fora da Cidade onde moravam.

Com uma parte da mesada, somada ao salário, não muito grande da cafeteria em que trabalhava, Rose conseguiu comprar o seu carro. Um Fusca clássico, conversível e rosa, do jeitinho que ela sempre desejara.

A garota amava rosa e quase sempre parecia viver em um realidade alternativa. Em um filme de conto de fadas.

Antes de tudo.

Ainda deitada no sofá, ela piscou os olhos, voltando a se atentar as coisas em sua volta. Em sua mente, aquele era o momento ideal para começar a procurar pela casa que tanto queria, sabia que provavelmente teria que pegar um empréstimo e então trabalhar muito mais para conseguir viver além de contas, mas havia virado questão de necessidade.

Ela não estava feliz, entretanto, depois de semanas apenas existindo em seu apartamento, ela sabia que a única coisa que podia fazer era aceitar.

Aceitar que sua vida havia mudado.

Seu celular apitou em cima de sua barriga. Rose estava recebendo uma ligação de sua mãe, Lila Rosewood.

A garota apenas deu de ombros, deixando o aparelho intocável. Ainda não estava pronta para conversar com sua mãe, afinal.