Capítulo Um

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JULHO DE 1999


― Oi! ― uma mulher loira e alta abriu a porta do quarto de hospital, aparecendo com o marido, ambos cada um com um bebê, animada mas sussurrando.
― Taylor, Louis! ― outro homem foi cumprimentar aqueles que chegaram, também tão animado quanto e também sussurrando. 
― Como vocês estão, Harold? Como a Katherine está? E a bebê? ― o marido da primeira não conseguia conter o entusiasmo.
― As duas estão bem, está tudo bem, ótimo, na verdade. ― o novo pai também não conseguia esconder a alegria e a emoção.
― A Francine e o Tyler também não podiam esperar para conhecerem a nova amiga deles. ― Taylor mostrou o pacotinho inconsciente em seus braços e Louis fez o mesmo.
Atrás de Harold, uma mulher de cabelos negros e olhos fadigados descansava numa cama com lençóis incrivelmente brancos, abraçando um amontoado de cobertorzinhos.
― Louis, Taylor... ― Harold olhou para os bebês nos braços dos amigos. ― Tyler e Francine. Conheçam nossa filha, Caitlin Frederer.
Os outros adultos se aproximaram da mais nova mamãe, encarando aquela coisinha incrivelmente pequena e com um rosto parecendo um joelho, como a maioria dos recém-nascidos; mas todos concordaram que, mesmo com aquela aparência, havia algo especial sobre ela.
― Ela é tão linda. ― Taylor sussurrou, incrédula, olhando com orgulho para a amiga cansada. ― Parabéns, Kathy.
― Obrigada. ― a citada abriu um sorriso com aquele brilho de mãe de primeira viagem; cheia, estressada, exausta, porém realizada. ― Eu não acredito que isso esteja acontecendo.
― Confie em mim, depois de três meses de noites mal dormidas, você começará a acreditar. ― Louis brincou, feliz que agora seus melhores amigos entenderiam o que ele estava passando há seis meses.
Aquelas famílias, Drundstein e Frederer, eram amigos desde muito antes de serem "famílias". Vindouros da mesma escola, os homens também cursaram a faculdade juntos, viraram sócios e abriram uma firma de advogados. Taylor Drundstein era uma professora de filosofia e Katherine Frederer uma recém-formada em Artes. Pouco depois dos eventos aqui citados, as novas famílias compraram casas lado a lado em uma vizinha ótima em San Francisco, criando os filhos lado a lado para serem amigos assim como eles. Tyler, Caitlin, Francine e menos de dois anos depois, Bianca, aprenderiam a falar juntos, andar juntos, brincar juntos, até que começassem a conquistar suas independências, mas eles fariam até isso juntos. Entretanto, nada seria capaz de ficar perfeito por muito tempo; a tempestade chegou mais cedo para alguns do que para outros, mas, eventualmente, chegou para todos.

AGOSTO DE 2009





― Ai, eu 'tô tão chateada que as aulas voltam amanhã. ― Caitlin suspirou enquanto desenhava vários passarinhos em seu caderno.


Sua melhor amiga e sua irmã mais nova, ambas juntas a ela na casa da árvore, concordaram.


― Quem você acha que vai ser nosso novo professor de história? ― Francine, a amiga, perguntou enquanto esperava Bianca, a irmã de Caitlin, fazer sua jogada no xadrez.


― Desde que não seja aquele bobo do senhor Waters, eu vou ficar feliz. ― Cait respondeu, ainda concentrada em seu desenho.


― Háhá! Ganhei! ― Bianca se vangloriava, fazendo Francine bufar.


― Eu quero revanche! ― a loirinha protestou, formando um beicinho.


― Tudo bem, mas eu ganhei nas últimas três vezes. ― a mais nova replicou, mas cedeu ao desejo da outra.


Enquanto as meninas reorganizavam o tabuleiro e Caitlin terminava seu desenho, elas ouviram passos pesados na escada do lado de fora e, logo mais, três batidas na porta.


― Quem é?! ― Francine gritou.


― É o Tyler, me deixem entrar. ― ele pediu, provocando um rolar de olhos e um suspiro da irmã gêmea.


― Você não 'tá vendo o cartaz de "não é permitido garotos" na porta? ― ela novamente perguntou.


― Não sou cego, Francie, mas eu 'tô com tanto tédio, jogar Guitar Hero sozinho é muito sem graça. ― o menino se justificou, trabalhando para que sua voz parecesse triste e ele fosse visto como coitado.


― Vou com você. ― Caitlin gritou para Tyler ouvir, mas logo se voltou para as outras meninas. ― Já terminei meu desenho.


― Ah, obrigado Cait, você é a melhor. ― Ty se atreveu a abrir a porta por alguns centímetros, mas sem ao menos ver o olhar da irmã, porém senti-lo, fechou ela rapidamente assim que a amiga passou.


Caitlin e Tyler entraram na casa deste com passos apressados ao sentirem o cheiro de biscoitos assados, animados com a expectativa de comê-los.


― Mãe? ― o garoto gritou para encontrá-la. 


― Estou na cozinha! ― ela respondeu com o mesmo tom.


Os amigos se entreolharam e sorriram, correndo até o cômodo que a mãe de Tyler indicou.


― Gente, eu já disse para não correrem pela casa! ― a mulher os repreendeu quando eles chegaram, fazendo as crianças ficarem cabisbaixas. ― Agora, me deem um beijo.


Os dois foram para cada lado dela e beijaram suas bochechas.


― Como está tudo na sua casa, Cait? ― ela perguntou quando voltou aos seus afazeres.


― Papai e mamãe andam brigando bastante. ― a menina respondeu na maior naturalidade, chocando a mãe do amigo.


― Ah, eu tenho certeza que eles vão se resolver. ― ela tentou a confortar.


― Eu acho que não. ― Caitlin disse, novamente, com muita naturalidade e com uma expressão de paisagem.


Taylor Drundstein quando encarando aquele tipo de situação ficava simplesmente transtornada. Se fosse ela tendo problemas com o marido, tentaria ao máximo não externar isso de forma tão intensa para os filhos como os Frederer costumavam fazer com as suas meninas. O casal eram seus amigos do coração, mas eles cometiam tantos erros quando se tratava de paternidade/maternidade que fazia Taylor sentir vontade de abraçar Caitlin e Bianca para sempre.


― Bem, que tal vocês dois irem para a sala e assistirem um pouco de televisão enquanto os cookies assam, hein? ― ela abriu seu sorriso materno, acariciando os ombros do filho.


― O novo episódio de Feiticeiros de Waverly Place é agora! ― a menina se lembrou, causando seu amigo ficar tão animado quanto ela.


― Vamos! ― Tyler exclamou, apostando uma corrida até a sala.


― Não... ― Taylor iria repreendê-los, mas eles deixaram o cômodo antes de ela terminar, e ela abriu um sorriso bobo. ― corram.


Aquela poderia ser a milésima vez na sua vida que Taylor assistia os dois pequenos saírem correndo, mas toda vez que aquilo acontecia a memória de quando os dois eram menores do que seus cachorros de estimação e corriam com suas pernas curtas e gordinhas voltava para a sua mente. Ela amava a amizade que o filho e a vizinha tinham, e orava todos os dias para que aquele amor e cumplicidade entre os dois nunca mudasse.



Before The SunsetOnde histórias criam vida. Descubra agora