Capítulo Dois

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MARÇO DE 2013




Com o corpo cheirando a cloro mesmo depois de um banho rápido no vestiário, Tyler caminhava pela escola depois do seu treino de natação, com o objetivo de apenas pegar o ônibus e ir embora. Contudo, um evento mudou sua intenção.

No corredor, uma criatura esguia se encolhia no banco ao lado dos armários, pintando um livro para colorir. Uma criatura que Tyler conhecia muito bem – alguns diriam que até demais. Ela levantou seu rosto e o olhou fixamente com seus olhos castanhos e carinhosos.

― O que você está fazendo aqui ainda, Cait? Achei que a sua detenção fosse só até às quatro. ― ele perguntou para a melhor amiga, intrigado.

― Eu... só não quero ir para casa. ― a garota deu de ombros, suspirando. ― Minha mãe entrou com os papéis do divórcio e aparece lá em casa todos os dias para pegar as coisas dela aos poucos para o hotel onde ela está se hospedando, e toda vez que ela aparece e meu pai está lá eles brigam como dois animais de diferentes espécies na floresta competindo pela presa.

― E a Bianca? ― Tyler sentou ao lado dela no banco.

― A situação inteira está estressando ela também, mas você sabe, ela é a Bianca. ― Caitlin entortou os lábios. ― Ela está fingindo que não está lidando com isso, colocando as mãos no ouvido e tentando proteger a visão dela de que o mundo continua perfeito.

― Bem, você está meio que fazendo a mesma coisa que ela, você só não está em casa para tampar as orelhas. ― ele tentou ironizar um pouco, mas tudo que recebeu foi um olhar torto da garota.

― Estou lidando muito bem com a situação, muito obrigada. ― ela tentou demonstrar confiança, mas tudo que o Drundstein viu foi tristeza nos olhos dela; afinal, você não passa uma vida inteira ao lado de alguém sem aprender toda a sua linguagem corporal. ― E é melhor que eles se divorciem, prefiro isso a ouvir os gritos deles todo santo dia.

― CaitKat. ― ele a chamou pelo seu apelido carinhoso, adaptado do chocolate preferido da menina, olhando diretamente nos olhos dela.

― TyTy. ― ela encarou os lindos olhos azuis-esverdeados dele de volta, mas com uma cara de paisagem.

― Você não precisa fingir para mim que não se importa. Não para mim. Eu sei que você se importa.

― Vou me afastar de você. Você me conhece perigosamente bem. ― Caitlin apontou para ele e assumiu um tom humorístico que funcionou, já que o garoto riu antes de tirar o dedo dela da frente dele e colocar seu braço na volta dos ombros dela.

― Mas esse é exatamente o ponto, já que eu te conheço perigosamente bem, você não pode se afastar de mim, se não eu conto todos os seus podres. ― Tyler retrucou com a mesma tática, mas não demorou para voltar ao seu tom normal. ― Ei, que tal ao invés de ir para sua casa, você vai para a minha comigo agora? Você pode fofocar com a Francine ou fazer seja lá o que vocês duas fazem, depois jogar CS comigo e assistir 10 Coisas que Eu Odeio em Você quantas vezes quiser.

― Você vai deixar eu explodir as galinhas no CS? ― ela fez um beicinho convincente.

― Qualquer coisa para te agradar. ― ele encolheu os ombros e fez uma careta conformada. ― Ah, e chame a Bianca para ir também.

― Se você continuar sendo um amigo tão bom assim eu vou ter que te assassinar para não ficar em dívida com você, afinal nunca chegarei ao seu nível. ― ela o empurrou levemente com o braço e olhou para ele com carinho. ― Obrigada.

― Ei, esses quatorze anos de amizade têm que servir para algo, certo? ― Tyler parecia mais tímido após o agradecimento e o olhar lançado em sua direção.

Quase quatorze. ― Caitlin o corrigiu.

― Ah é, ainda lembro do dia em que você nasceu, 17 de julho de 1999, uma terça-feira adorável...

― Era um sábado, Tyler. ― ela riu da palhaçada dele.

― Shh, não estrague a memória falsa do meu eu com seis meses de idade. ― ele continuou brincando, e os dois ficaram cerca de mais dez minutos conversando dentro da escola antes de ir para a casa do garoto.

De algum jeito, mesmo depois de tantos anos de amizade, a vida deles só pareciam ficar cada vez mais interessante no ponto de vista um do outro. Ao invés de se cansarem, queriam passar cada vez mais tempo juntos. E, é claro, suas idades precoces e o fato de se conhecerem a vida inteira os cegou acerca dos motivos verdadeiros por um bom tempo, mas isso nunca os impediu de buscarem o que queriam: o bem-estar um do outro.


Before The SunsetOnde histórias criam vida. Descubra agora