Capítulo 4 - Parte 1

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JANEIRO DE 2015




Com o toque das 16h, Francine fez o último alongamento da sessão que seguia o treino das líderes de torcida. Como a chefe, ela dispensou todas as garotas e terminou o treino, esperando pela garota de cabelo castanho no fundo.

Caitlin não lembrava muito bem como foi que a melhor amiga a arrastou para a equipe de líderes de torcida. Francine era extremamente envolvida em todos os eventos da escola, em vários clubes, organizava todos os bailes e os yearbooks. Ela só lembrava que queria ajudá-la em algumas daqueles coisas, e foi assim que ela começou a frequentar a escola por mais 1h além do horário das aulas e a vestir um top e uma saia minúsculos feitos de malha.

― Você está pronta para ir? ― a loira foi até a melhor amiga, que estava sentada no chão gelado do ginásio.

― Sim. ― ela assentiu, sorrindo. ― Vamos até o Tyler ou direto para casa?

― Até o Tyler. Ele não tem uma carona e vamos ter que aguentar o cheiro de cloro no ônibus. ― Francine fez uma careta de nojo e tremeu.

― É o aniversário de vocês, Francie, não fique tão brava. ― a garota riu, pegando sua bolsa esportiva, que era quase maior que seu próprio corpo. ― Vocês precisam passar esse tempo juntos.

― Mas já passamos tempo juntos todo santo dia! Só porque é nosso aniversário não quer dizer que o sentimento mude. ― a Drundstein protestou, já enquanto elas caminhavam pelo pátio e em direção à piscina coberta da escola.

Mesmo já estando suadas pelo treino, o vapor e a umidade do ginásio da piscina quando elas entraram invadiram suas narinas e suas peles, causando um certo desconforto assim como um certo relaxamento. O time de natação, tanto o masculino que treinava do lado direito, quanto o feminino que treinava do lado esquerdo, já parecia ter se dispersado e o treino acabado.

As garotas olharam ao redor, procurando pelo garoto, mas ele não parecia estar dentro de seu campo de visão. Entretanto, outra pessoa chamou a atenção de Francine.

Uma das integrantes do time de natação saía da piscina de forma graciosa, com seu uniforme de nadadora que denunciava todas as suas curvas, óculos de natação e uma touca de borracha. Ela retirou os últimos dois itens quando já estava com seus pés no piso da superfície, revelando seu cabelo cacheado e volumoso e seus olhos maravilhosamente castanhos.

O nome dela era Jane O'Hara. Ela tinha entrado naquele ano letivo, em setembro de 2014, vinda de Santa Barbara. Era colega de Francine em três disciplinas: história, álgebra e ciências. Tinham virado grandes amigas, especialmente depois de virarem parceiras de laboratório na última disciplina citada. Entretanto, o jeito que o coração de Francine batia sempre que via a novata não era característico de uma amizade.

― Oi. ― a voz masculina de seu irmão gêmeo atrás dela a assustou, mas fez a amiga ao seu lado sorrir.

Francine ficou visivelmente desorientada e sem jeito, pigarreando e olhando para todos os lados.

― Hã... vamos para casa? ― ela perguntou a Tyler, ainda confusa.

― Claro, só deixa eu pegar as minhas coisas primeiro. ― ele a respondeu e apontou para o vestiário com o polegar. Antes de ir, porém, ele viu alguém se aproximar, ao contrário da irmã, que ficou olhando para ele. ― Oi, Jane.

Só aquele nome fez Francine se virar, novamente, com muita intensidade e surpresa.

― Oi, gente. ― a garota anunciada por Tyler os cumprimentou e se virou apenas para os gêmeos. ― Ouvi dizer que hoje é o aniversário de vocês, parabéns!

― Muito obrigado. ― o Drundstein agradeceu, e deu um leve empurrão na irmã, tentando fazer com que ela saísse da transe em que estava, devido a presença de Jane.

― Nós vamos dar uma festa mais tarde, você quer ir? ― Francine a convidou assim que recuperou seus sentidos.

― Claro! ― a menina parecia entusiasmada. ― Onde será?

― Na nossa casa, Avery Street número 30. ― a loira lhe deu o endereço, fazendo a outra abrir um enorme sorriso.

― Estarei lá! ― disse, logo se afastando para se despedir. ― Nos vemos mais tarde, então.

― Tchau. ― Francine parecia lastimada em dar-lhe aquele "adeus", mesmo sabendo que não demoraria para vê-la novamente.

Tyler e Caitlin se olharam, rindo das reações apaixonadas de Francine. A loira olhou para os dois com cara de paisagem.

― É, como se vocês tivessem o direito de falar de mim. ― ela revirou seus olhos azuis-esverdeados e depois se virou para o irmão novamente. ― Vamos lá, pegue suas coisas, se não vamos perder o ônibus.

Ele obedeceu a irmã, caminhando com cuidado pelo chão molhado até o vestiário, voltando dois minutos depois com uma bolsa esportiva muito parecida com as bolsas das garotas, porém maior e de cor preta.

O trio foi até o ponto de ônibus e esperaram pelo veículo. Quando entraram, frustraram o motorista, o cobrador e os passageiros pelos seus cheiros de suor e cloro, mas eles mal pareciam se importar. Eles se sentaram nos lugares do fundo, os únicos que possuíam mais de dois assentos lado a lado, para que pudessem sentar juntos.

Eles começaram a falar sobre os planos para a noite. De alguma forma, Tyler conseguiu passar por cima da irmã e fazê-la aceitar uma festa simples em casa, ao invés de uma festa de dezesseis anos toda elaborada, em um salão e decorada de uma maneira que fariam as pessoas pensarem que apenas ela estava de aniversário. A casa ainda teria belos enfeites e até profissionais contratados para os drinks, mas desse jeito a festa ainda seria para os dois.

― O que os seus pais vão fazer durante essa festa? ― Caitlin questionou, sabendo que uma celebração que envolvia Tyler e Francine não seria algo inocente.

― Bem, nossa mãe contratou esses bartenders que só fazem drinks sem álcool, mas é claro que estaremos lá para batizá-los, e eles também nos ajudaram com a decoração. ― Francine piscou.

― Fora isso, eles disseram que não vão interferir e que vão dormir na sua casa com o tio Harold e esperar que a casa esteja em pé quando o sol nascer. ― Tyler complementou, com um sorrisinho cínico.

Caitlin riu e balançou a cabeça negativamente.

― Vocês são horríveis. ― disse.

― Só queremos nos divertir um pouquinho. A vida é curta. ― Tyler deu seu sorrisinho torto, cujo ele andava usando muito nos dias atuais para conquistar aqueles em sua volta. E a Frederer precisava admitir, era realmente um sorriso muito sexy.

― Bem, eu não discordo de vocês. ― ela riu fraco e olhou pela janela, avistando o ponto em que eles desceriam, pronta para anunciar aos amigos. ― Estamos chegando.

Os adolescentes pegaram suas bolsas esportivas e suas mochilas, passando pelo ônibus cheio e, consequentemente, recebendo olhares tortos dos passageiros os quais eles atrapalharam com seus carregamentos, mas não havia nada que eles pudessem fazer. Eles desceram do veículo e começaram o seu caminho de quatro quadras até a casa dos Drundstein, que vinha primeiro no sentido em que eles caminhavam do que a de Caitlin.

De repente, alguns passos antes da caminhada terminar, os três ficaram parados. Francine e Tyler ficaram petrificados da maneira mais maravilhosa possível, arregalando os olhos e abrindo as bocas de uma maneira que eles não sabiam se sorriam ou apenas permaneciam chocados.

Na frente da casa deles, dois carros estavam estacionados com grandes laços em cima de cada um. Um Citroën C3 branco para Tyler e um New Fiesta vermelho para Francine. Caitlin sorriu para os amigos, já sabendo da surpresa que os pais deles planejaram muito tempo antes, ajudando os mesmos com todas as tramoias.

Os gêmeos correram para abraçar os pais, que estavam parados ao lado dos carros, mais alegres do que nunca com o aniversário de seus filhos e com a óbvia felicidade deles ao perceberem o que ganharam.

― Vocês são os melhores pais do universo! ― Tyler disse, ofegante com a corrida e com a euforia da surpresa.

― Não acredito que vocês conseguiram esconder isso da gente. ― Francine abriu um dos sorrisos mais gigantes já vistos pela humanidade, combinando com seus sentimentos.

― Bem, não conseguiríamos tal feito sem as nossas queridas Caitlin e Bianca. ― Louis apontou para a amiga dos filhos, que deu de ombros e sorriu de maneira convencida.

― Você sabia disso?! ― os irmãos gritaram em coro, incrédulos.

― Por que diabos vocês pensaram que eu e a Bianca começamos a falar de carros completamente do nada quando fomos para aquela hamburgueria? ― ela riu. ― Além de que continuávamos insistindo até que vocês falassem os que vocês gostavam. Foi tão óbvio!

― E Harold também ajudou ao esconder os carros na garagem dele quando os compramos, dois dias atrás. ― Taylor revelou, e cada palavra emitida sobre aquele assunto só alegrava e chocava mais os aniversariantes.

― Nós definitivamente temos as melhores pessoas ao nosso redor. ― declarou Francine, colocando as mãos no peito e formando uma expressão emocionada.

― Espera, temos mais uma surpresa. ― a mãe sorriu sorrateiramente, prendendo a atenção dos filhos. ― Venham conosco.

Dessa vez, nem Caitlin sabia do que se tratava. Taylor e Louis foram em direção à porta da frente, sendo seguidos pelos adolescentes. Eles a abriram, e ali dentro estava um garoto de aproximadamente 1.80, cabelo preto, olhos castanho-esverdeados, roupas rasgadas e um sorriso radiante.

― Kyle! ― Francine gritou de uma maneira capaz de despertar qualquer um em um raio de 50km, sem demorar a se atirar no garoto.

Kyle Drundstein era o primo de Francine e Tyler, filho do problemático irmão mais novo de Louis. Ele visitava o tio raramente, mesmo morando em Los Angeles, que é pertíssima de San Francisco. Entretanto, os primos procuravam qualquer oportunidade para irem para LA visitar o garoto, considerando que os três eram muito apegados.

― Surpresos em me ver? ― ele riu, acariciando os cachos loiros da prima e logo largou deles para abraçar Tyler.

― Cara, é tão bom te ver! ― o primo expressou, dando leves tapinhas nas costas de Kyle.

― Vocês realmente pensaram que eu perderia o aniversário dos primos mais legais do mundo? ― o garoto questionou, ainda risonho. Ele olhou para a garota ao lado de Kyle, percebendo sua presença e abraçando. ― Caitlin, quanto tempo!

― Eu sei, uns dois anos, certo? ― ela sorriu com a lembrança, questionando após sair do abraço.

― É, a última vez que estive aqui. ― Kyle assentiu. Seu semblante alegre acabou sendo substituído por um preocupado quando percebeu a ausência de outra garota. ― Onde está a Bianca?

Caitlin sorriu maliciosamente. Ela sabia que a irmã e o menino acabaram desenvolvendo uma certa quedinha um pelo outro desde a última visita de Kyle, algo meio infantil, considerando que a garota tinha doze anos. Contudo, Bianca mantinha mais contato com o primo de seus amigos do que Caitlin.

― Ela está na nossa casa, provavelmente estudando. ― respondeu. ― Mas ela virá aqui depois para se arrumar conosco e comparecer à festa.

― É cara, você vai testemunhar um acontecimento histórico. ― Tyler disse. ― Bianca Frederer em uma festa com a gente.

― Ela não gosta de festas? ― Kyle perguntou, franzindo o cenho com a estranheza daquela revelação.

― A Bianca sai conosco o tempo inteiro, desde que não envolva música, bebidas e pessoas dançando. ― Caitlin riu. ― Mas acho que ela vai gostar dessa festa em particular...

Kyle, sendo um garoto esperto e nada lerdo, captou a mensagem da Frederer e riu baixinho, um tanto envergonhado pela obviedade de sua ansiedade por ver a irmã dela.

― Ok, agora vamos botar a mão na massa, pois temos apenas algumas horas! ― Taylor comandou, fazendo todos correrem para dentro de casa e começarem os preparativos.


Before The SunsetOnde histórias criam vida. Descubra agora