Capítulo 3 - Escócia

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''A bonita Ravenclaw das ravinas...''

Os dedos longos, finos e gelados corriam páginas e mais páginas de livros, dedilhavam pergaminhos e voltavam a se juntar, apertando-se. O suspiro pesado que saiu do peito de Rowena Ravenclaw se devia mais a um pesar do que cansaço, pois algo estava lhe chateando profundamente: Seu pai, o velho Rothad Ravenclaw, havia acabado de falecer. Ainda que por anos ele houvesse se negado a lhe ensinar o que quer que fosse além de feitiços muito simples, obrigando a filha a entrar escondido na imensa biblioteca durante a madrugada, lendo como se estivesse faminta, ele era seu pai, acima de tudo. Já faziam quase quinze dias que ele se fora, e mesmo que tivesse previsto por conta de seu estado debilitado, ainda sentia a perda. Rothad caira de cama há quase um ano e meio e, se Rowena não tivesse sido petulante o suficiente para se educar sozinha, ele teria morrido muito antes disso. Certa vez, ela decidira lhe contar a verdade sobre as idas e práticas escondidas à que se dedicava desde muito nova.

— Que bom que criei uma desobediente. — A voz fraca dele dissera, após tomar uma poção revigorante perfeitamente preparada.

Estava profundamente chateada com a morte do pai, e em segundo lugar, sua tristeza não lhe permitia que conseguisse ler nem uma palavra. Sua mente vagava outra vez para os olhos azuis de Rothad e ela perdia a concentração do que quer que estivera fazendo. Não conseguia ler, não conseguia escrever, a única coisa que conseguia era sentar-se na escrivaninha do pai e passear os dedos pelo papel, se forçando à voltar ao seu estado natural. Era inútil, entretanto.

Para piorar, esperava ansiosa pela visita de Helga Hufflepuff: ela sempre a visitava, visto que Helga viajava bastante, mas fazia um mês que a cabeça loura não passava pelo batente da porta da casa de Ravenclaw. Sabia que ela teria o poder de animá-la, inventando alguma poção complicada para fazerem ou alguma planta mágica para desvendarem, mas não. Helga não estava lá e a impaciência a consumia tão intensamente quanto a tristeza.

Rowena soltou os livros e se levantou, bufando. Fitou o diadema da mãe, apoiado numa almofada de veludo. Edelinne Ravenclaw morrera há pelo menos cinco anos, perfeitamente saudável quando picou o dedo num espinho venenoso.

— Senhora. — O elfo doméstico da família bateu na porta e entrou, a olhando cauteloso. — Seu banho está pronto.

— Obrigada, Gathev. Pode se retirar. — Ela ouviu os passos do elfo se afastarem enquanto fitava a janela, na esperança de ver Helga caminhando pelo gramado, mas não havia ninguém.

Já despida e afundando na banheira quente, Rowena fechou os olhos. Helga era sua única amiga, por partido dela, pois Rowena sempre estivera tão de cara enfiada nos livros ou fazendo tarefas domésticas que não tinha interesse algum em conhecer pessoas. As pessoas, no entanto, a conheciam. Tão inteligente Rothad era, diziam o mesmo da filha pelas costas do pai. Depois que ele adoeceu, no entanto, mais ainda se falava da linda e brilhante Rowena Ravenclaw. Se lembrava de quando saia escondida para duelar nas tavernas bruxas, sempre vencendo os homens - que de início duvidavam dela - e fazendo todos prometerem que manteriam segredo sobre suas aventuras noturnas.

Até o dia em que conheceu Helga, enfurnada no canto de uma taverna bebendo cerveja amanteigada sozinha, os olhos brilhantes observando a todos com muita atenção. Quando Rowena venceu doze homens e vestiu a capa azul escuro para voltar para casa, Helga se aproximou, segurando a caneca entre as mãos e sorrindo gentilmente. A convidou para se sentar e passaram horas conversando. Depois disso, as visitas da sua amiga peculiar eram quase certas, uma vez por mês. Rowena sabia que nem sempre era porque Helga estava desocupada: ela sabia que era a única amiga de Rowena e não queria lhe deixar sozinha. Sabia que visitava os outros dois bruxos de quem muito ouvira falar, Gryffindor e Slytherin, e por isso sabia que ela se organizava para dar atenção à todos.

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