Capítulo 4 - Inglaterra

25 4 0
                                    

''O valente Gryffindor das charnecas...''

Godric Gryffindor andava bem devagar.

Naquele momento, é claro, Godric andava devagar. Com cuidado, olhando onde pisava, uma mão segurando a bainha da espada e a outra apertando a varinha nos dedos trêmulos. A luz da lua contornava seu corpo e jogava sua sombra no chão. Num outro dia qualquer, ele estaria com a janela do quarto aberta para admirar a imensidão do céu estrelado com um sorriso.

Mas aquele não era um dia qualquer.

Godric era bom em primeiras vezes: a primeira vez que beijou uma menina foi aos treze anos e ela gostou, apesar de ter sido desafiado pelos amigos. A primeira vez que lançou um feitiço fez fagulhas coloridas subirem no ar e explodirem no céu alegremente. Na primeira vez que treinou com uma espada, ele derrotou um homem com vinte anos de experiência. Na primeira vez que lutou num duelo ele terminou vencedor. Na primeira vez que discutiu com seu pai, ele conseguiu o que queria. Enfim, Godric era um homem de primeiras vezes e em todas elas ele se dava bem. Era de primeiras vezes pois era, acima de tudo, um homem de coragem. Uma coragem insanamente alta, o que o tornava quase estúpido, como seu amigo Salazar bem gostava de pontuar.

Godric Gryffindor era um homem de coragem e primeiras vezes, por isso era de se esperar que ele tivesse sorte com seu primeiro - e único - noivado.

Mas há uma primeira vez para tudo, até para o azar.

Seraphine Lavey era bonita. Ela tinha cabelos negros e olhos muito azuis, mas apesar de ser bonita, ela tinha um rosto que te fazia pensar duas vezes. Isso se devia a carranca arrogante que quase sempre Seraphine levava consigo. E é aí que o problema começa.

Seraphine era a filha única de um comerciante local, comerciante esse que era bastante rico pois vendia tanto para trouxas quanto para bruxos. Seraphine, por sua vez, era bruxa. E sendo filha única de um comerciante, tudo o que ela queria, ela tinha. Bastava dizer. Às vezes duas vezes, a maioria uma e nunca três. E Seraphine queria Godric desde que pusera os olhos nele, aos oito anos de idade, quando ele a salvou de despencar de um penhasco com um feitiço. Ainda que ela tivesse um noivo, era atrás de Godric que Seraphine ficava. E o queria tanto - obcecadamente - que acabou conseguindo: fez seu pai desmanchar o noivado com Matthew Parkinson e negociar a mão de Seraphine com Gandriel Gryffindor, o pai dele.

Godric não conseguia acreditar. Achava que Lavey e Parkinson eram um bom casal, sendo ambos desagradáveis e mimados. Achava, também, que seu pai riria da proposta e negaria, mas não: Gandriel não só aceitou, como achou um absurdo Godric detestar a ideia.

E, ah, como Godric detestava!

Por meses a fio tentou destruir o noivado de todas as maneiras que pudesse imaginar: fingiu estar apaixonado por Helga Hufflepuff: não deu certo. Fingiu ser uma pessoa odiosa: não deu certo. Foi grosseiro com Seraphine: não deu certo. Deu um escândalo: não deu certo. Fingiu que não conseguia treinar com a espada pois estava triste demais: não deu certo. Transou com outras mulheres e deixou Seraphine saber: não deu certo.

Gandriel fora categórico:

— Você vai se casar, não importa o que aconteça. Eu também não gostava da sua mãe, mas me casei, pois era o que eu tinha que fazer. Acabei me apaixonando, eh? Você vai se casar, Godric. É minha última palavra.

Mas há uma primeira vez para tudo, então Godric decidiu fugir. Decidiu não encarar seu destino.

Então, lá estava ele: fugindo, pela primeira vez, a passos lentos e cuidadosos, de cabeça baixa para que ninguém visse seu rosto. Para que ninguém o reconhecesse.

Os FundadoresWhere stories live. Discover now