Capítulo 7 - Como Heféstio, que morreu amante de Alexandre

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Isabelle ansiava por ver Harry como jamais ansiara por coisa alguma. O sentimento que se espalhava por seu ser era agonizante, uma tensão que subia dos pés a cabeça. Ela não conseguia parar quieta e a mãe já começara a notar que algo mudara.

- Tens as bochechas coradas, Isabelle.

- O sol está radiante lá fora. - ela respondia sempre com poucas palavras e frases evasivas.

O que causava tamanha tensão na garota era o pleno conhecimento que adquirira ao ler as linhas do romance de Catherine e Heathcliff. Não era estúpida, tampouco passiva, jamais fora boa em ignorar qualquer que fosse o tópico que a incomodava, sabia que não poderia simplesmente deixar para lá. Assim como sabia que ceder aos tortuosos pensamentos que rodeavam sua mente era como jogar a si mesma na fogueira e deixar queimar. Deixar os desejos tornarem-se realidade era como como atiçar mais fogo e tudo queimaria, como sua pele queimava ao pensar em Harry com afeto.

No fim do dia, as nuvens grossas que decoravam o céu finalmente cederam e fizeram derramar um verdadeiro dilúvio sobre a casa de campo. Isabelle estava no estábulo com os cavalos quando as primeiras gotas caíram, precisava de um lugar silencioso onde pudesse pensar com clareza. Quase chegou a convencer a si mesma que somente temia o relacionamento e as responsabilidades que viriam com o casamento, e que seu cérebro pregava-lhe peças para deixá-la insegura. O sorriso havia voltado aos seus lábios e ela voltara a ver beleza na vida. O sol brilhando mesmo enquanto a chuva caía era um verdadeiro espetáculo e ela amava Will e se casaria com ele, e essa decisão estava tomada.

Mas as dúvidas voltaram com a mesma rapidez com a que as gotas de chuva engrossaram. Harry aparecera para guardar os cavalos e o coração da garota disparou ao vê-lo.

- O que você está fazendo aqui? Esta chuva está muito forte!

- O que você está fazendo aqui então?

- Estou fazendo o meu trabalho.

Harry trabalhava com mãos ágeis enquanto fechava os cavalos em suas baias e servia comida e água limpa. Ele tinha suas roupas molhadas e seu cabelo úmido, algumas mechas grudavam-se em sua testa. O coração de Isabelle voltou a apertar.

- Vá para casa, Isabelle.

- Vou te ajudar antes.

- Já estou terminando.

- Vou colocar água para o Axel.

- De qualquer maneira, acho melhor esperarmos a água diminuir.

Raios partiram o céu enquanto a chuva fazia barulho no telhado do estábulo. Isabelle não sentia medo, mas estava incomodada com a intensidade daquela chuva enquanto acariciava as costas de Axel.

Harry, já tendo finalizado seu trabalho, olhava para o céu lá fora, com os braços cruzados e o olhar longe distante de Isabelle. A tensão no ambiente era quase tão pesada quanto as nuvens que agora se aliviavam. Isabelle precisava de alívio, queria chover palavras em cima de Harry; verdades, segredos, lágrimas. Queria que ele fosse seu melhor amigo agora, embora soubesse que ele também não tinha solução para seus problemas.

- Você me perguntou se eu estava feliz.

- Nós já falamos sobre isso, Isabelle.

- Faria diferença para você se eu não estivesse?

Harry virou-se lentamente para a amiga, tremia ligeiramente que a umidade das roupas causava.

- Faria toda a diferença. - havia uma sinceridade crua em suas palavras e também tristeza- A única coisa que peço de você é que faça algo que te deixe feliz para sempre. Não viverei em paz sem ter essa certeza.

Mistery of Love - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora