Capítulo 9 - Ruído branco, que som horrível

375 36 39
                                    

Só havia silêncio no quarto da pousada assim como no mundo lá fora às quatro da manhã. Isabelle só ouvia os insetos com seu interminável soar e o ruído branco do mundo enquanto as pessoas dormiam.

Ela não sabia como se sentia, com o corpo nu enrolado em um lençol branco, a pele suada e a cabeça rodeada por pensamentos mistos. Sentia-se imensamente feliz em um momento e no outro voltava a se atormentar com o sentimento de culpa.
Amava estar ao lado de Harry, amava os lábios dele nos dela, amava o que tinham feito, amava-o. Mas assim que ele pegara no sono ela voltou a pensar nos pais, que deviam estar mais preocupados do que nunca, e em Will, que provavelmente estaria dormindo aquela hora. Doce Will que tinha sido, acima de tudo, alguém que lhe proporcionara grande felicidade. Não conseguia distinguir sentimentos até então, mas depois de Harry entendia a diferença de um para o outro. Ela também entendia que não podia apenas quebrar o coração do outro rapaz como se ele não tivesse significado algum para ela, como se ele mesmo não fosse ser profundamente machucado com essa traição. Ela não podia pôr suas necessidades acima das dos outros, não podia transformar pessoas em peças de tabuleiro.
Doía-lhe pensar nisso. O momento de distração passara e ela voltara à cruel realidade. Precisava fazer algo ou jamais perdoaria a si mesma.

Levantou-se com cuidado para não acordar o rapaz que dormia serenamente com a bochecha encostada ao travesseiro. Tentou não se importar com o fato de que estava nua e a brisa que entrava pela janela causava-lhe ondas de arrepio ao tocar-lhe a pele. Vestiu-se novamente e calçou os sapatos. Quando estava pronta agachou-se ao lado da cama, bem perto de Harry. Acariciou levemente o rosto do rapaz com as pontas dos dedos leves como pena. Ela amava-o, tinha certeza disso.

- Preciso fazer isso. - sussurrou a garota com a garganta dolorida - Voltarei para você, meu amor. Eu prometo.

Não o beijou, tampouco tocou-lhe. Sabia que se Harry acordasse jamais conseguiria concluir o que considerava ser a melhor atitude para com Will. Enquanto preparava Axel para a viagem só conseguia pensar que estava fazendo isso pelo rapaz de cabelos escuros, que era tão inocente na história quanto ela própria e Harry. Nenhum deles havia escolhido passar por tal situação. Will planejara estar no meio tanto quanto ela planejara se apaixonar por Harry.

Ela montou Axel e antes de alcançar a estrada rezou para que conseguisse seguir o caminho certo. Não aceitaria ter tanta coragem reduzida á uma falha no senso de direção.
Seguiu por horas pelo caminho que achava ser o correto, já não havia pegadas na estrada por conta da chuva, o que dificultou todo o processo. Ao menos ela sabia que Harry não havia andado tantos quilômetros, ainda estavam em uma área conhecida por ela. Andara de cavalo por aqueles campos com o pai quando era criança.

Isabelle não teve certeza de nada até finalmente enxergar o jardim da casa de campo. Era por volta do meio-dia, talvez mais tarde talvez mais cedo, mas a grama ainda estava molhada por conta da chuva da noite anterior e o sol lançava pouquíssimos raios de luz. Ela amarrou Axel logo na entrada da casa e se preparou para entrar. Precisava respirar fundo várias vezes, estava prestes à começar uma rebelião da qual não havia volta, pelo menos assim ela pensava, pois os pais jamais aceitariam Harry e ela não podia mais esconder, em respeito ao próprio rapaz.

Enquanto respirava fundo diversas vezes,  Isabelle encontrou o próprio reflexo em um pedaço de espelho grudado na parede, ela não fazia ideia de como ele tinha ido parar lá. A garota refletida no espelho estava horrível, o cabelo estava todo emaranhado e o rosto todo vermelho e suado da corrida até ali, além disso haviam profundas olheiras e um brilho medroso nos olhos, mas ela sentia-se mais quebrada por dentro e sua aparência parecia ser a coisa menos relevante no momento. Mesmo assim Isabelle não conseguia tirar os olhos do pedaço de vidro. Ela parecia selvagem, quase suja, já era alguém totalmente diferente. Enquanto isso, alguém já havia descoberto sua presença ali.

Mistery of Love - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora