Epílogo

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A sala se encontrava mergulhada na penumbra, silenciosa como a noite que corria do lado de fora da janela, o que era bastante incomum para uma cidade desenvolvida. O silêncio preenchia o ar como música e, àquela hora, boa parte das luzes dos prédios residenciais já estavam apagadas. Orochimaru observou a vista que se desdobrava diante dos seus olhos e agitou a taça de vinho que trazia na mão.

Agora estava seguro de si de que todos os empecilhos haviam sido eliminados e nada se encontrava entre ele e o caminho para tomar a companhia Kurama. Como um dos beneficiários originais, agora tinha o poder necessário para comprar as demais partes e por fim, tornar-se o dono legítimo do todo. Mais uma peça sobre o seu comando. Em breve, todas as empresas da cidade estariam sob seu controle e ele sentaria acima delas apreciando tudo aquilo que conquistara.

Um leve rangido chamou sua atenção, mas como o local era guardado fortemente por seguranças treinados, ele associou o barulho ao vento passando pela janela entreaberta. Observou mais uma vez a vista, estendendo a mão para, com os dedos, abarcar tudo aquilo que seus olhos tocavam. Riu, satisfeito consigo mesmo, e levou a taça aos lábios.

Porém, antes que estes provassem o doce sabor da bebida, um sentimento frio o inundou acompanhado da sensação gelada de metal encostando em sua garganta. Engasgou com a surpresa e os dedos largaram a taça que veio a espatifar-se no chão em vários cacos delicados, espalhando o líquido vermelho escuro pelo tapete branco de origem persa.

- Olá, Orochimaru. - Uma voz fria o cumprimentou. - Tem um tempinho para me atender?

- Sasuke! - Ele reconheceu o tom e respirou mais aliviado. - Claro, porque não me solta para podermos conversar mais à vontade?

- Hum... - ele pareceu ponderar a ideia. Orochimaru sentiu a faca em sua garganta se afrouxar e relaxou. - É, acho que não. - A faca voltou com mais força, perfurando de leve a pele e deixando um fio de sangue escorrer pela tez branca e manchar o terno bem cortado.

- Ora vamos Sasuke, não há motivos para isso, não é? - Ele tentou sorrir, como se tudo estivesse sob controle.

- Escutei uma história interessante esses dias. Você gostaria de ouvir? - O mais velho engoliu em seco, sentindo o fio da lâmina ser pressionado ainda mais contra a pele. O corte feito ardia e continuava a sangrar. Tomando o silêncio do outro como concordância, Sasuke prosseguiu. - Era uma vez uma família, dona de uma modesta fábrica de brinquedo infantis. Essa família tinha ideias e grande potencial para ser tornar importante no mercado. Porém, a eles faltava capital para investir em algo grande. Algo lhe parece familiar? - Orochimaru manteve-se calado. - Não? Então vamos prosseguir. Um dia, como se convocado por mágica, um importante empresário e investidor bateu a porta do casal e ofereceu uma grande quantia a fim de financiar os negócios. O casal viu aquela atitude como uma benção e agradeceu imensamente ao seu salvador. Usaram o dinheiro para abrir uma companhia e logo estavam fazendo sucesso no mercado. Consegue adivinhar o que o tal benfeitor fez em seguida?

- Ele voltou para cobrar o que lhe pertencia. - Orochimaru explodiu. - Se eu não houvesse dado o dinheiro, aquela companhia sequer existiria. Ela devia ser minha! Eu quem a fiz nascer do nada!

- Então, quando o casal, ao invés de lhe dar a companhia, deu-lhe apenas uma parte das ações, você se irritou, não foi? – Inquiriu, sabendo que o fim dele se aproximava. Precisava apenas ouvir as palavras saírem de sua boca. - E decidiu que eles tinham que morrer. Por isso plantou uma bomba no carro que eles usariam para a viagem.

- Era o plano perfeito! Os restos se perderiam no meio do mato e ninguém desconfiaria de nada. Mas...

- Mas você não esperava que o filho deles sobrevivesse, não é? Então ele assumiu os negócios e você não tinha conseguido o que queria ainda. Por isso me mandou matá-lo.

- E você fez! Você o matou! Não eu! - Uma risada escapou dos seus lábios. - As suas mãos estão sujas com o sangue dele. Quem diria que o grande Sasuke Uchiha seria dobrado por um moleque daqueles... - As palavras se perderam em meio a um engasgo de dor. Sasuke, em um movimento ágil, havia movido a faca e lhe perfurara uma das mãos, cravando-a nas laterais da cadeira. Puxou outra faca do cinto e fez o mesmo com a outra mão.

- Tem razão. O sangue dele corre pelas minhas mãos. Mas será esse sangue que terá sua vingança esta noite.

- E o que vai fazer? Me matar? - Orochimaru riu. - Não se esqueça que sou EU quem pago pelos seus serviços. EU! - Gritou. A expressão de Sasuke permaneceu inalterada.

- Sim, tenho ciência disso, mas nada me impede de me autocontratar para um pequeno serviço. - O Uchiha sorriu, sombrio, apreciando o medo que agora se fazia presente naquelas pupilas verticais.

- Não pode estar falando sério.... Não pode fazer isso! - Tentou recuar, mas se encontrava bem preso pelos braços fortes do Uchiha que seguravam seus ombros. A cada movimento, as facas perfuravam mais a pele, aumentando o corte, deixando o sangue verter e pingar no tapete.

Você não é merecedor de uma morte indolor. Essa é uma honra que lhe será negada. - Segurou os longos cabelos do mais velho e os puxou com força, arrancando alguns fios no processo, forçando-o a inclinar a cabeça completamente para trás e deixar a garganta completamente exposta e vulnerável. O medo se encontrava refletido no olhar.

Com um movimento de pulso, a adaga escondida sob a manga escorregou para a mão e ele a moveu cortando os fios tão estimados por Orochimaru. O outro gritou e Sasuke aproveitou o gesto e enfiou a adaga na região entre as costelas, perfurando o pulmão direito que, imediatamente, começou a se encher de sangue. Orochimaru engasgou e tossiu.

- Não! Eu não quero morrer! - Lágrimas começavam a escorrer pelo rosto - Por favor, pago o quanto quiser, mas pare com isso! - Implorou. O desgosto e o desprezo eram visíveis no rosto de Sasuke. Rodeou a cadeira para olhar bem nos seus olhos, posicionando a adaga no espaço entre as costelas do lado esquerdo.

- Você é patético. Ao menos Naruto me encarou com seriedade o suficiente e não implorou pela vida. Pense nisso no caminho para o inferno. – E, dizendo isso, enfiou a ponta metálica na carne macia.

Afastou-se do corpo e ficou observando seus últimos minutos. Orochimaru tentou gritar por ajuda, porém toda vez que expelia o ar, gotas vermelhas jorravam dos buracos feitos no pulmão. No fim, ele gorgolejou e morreu engasgado no próprio sangue.

- Fraco. - Sasuke disse apenas, sem lançar um último olhar para o corpo.

Limpou o sangue das facas no tapete e saiu pela janela, usando as sacadas como apoio até a cobertura. Era uma queda alta, mas Sasuke tinha plena confiança em suas habilidades. Parou no topo, apoiando a perna direita na beirada e olhando para baixo, para a cidade que se estendia sob seus pés. A vingança estava feita. Esperava que pudesse ter dado ao menos um pouco de paz a Naruto.

Ele abrira seus olhos quanto ao tipo de pessoa que habitavam esse mundo e o tipo de vidas que ele tirava. Como sua mãe dissera, certas pessoas não haviam nascido para morrer, elas deviam ser protegidas. E agora, mesmo que não soubessem, teriam um protetor a olhar por elas. 

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