Killer

A vítima

Naruto não vinha dormindo direito desde que presenciara a cena no beco. Acordava no meio da noite, suado e ofegante, após continuar sonhando repetidamente com aqueles olhos e o rosto a que pertenciam. Ele havia presenciado um assassinato, não devia estar com medo? Não devia temer pela sua vida?

Mesmo consciente disso, aqui se encontrava ele, sonhando com o assassino e desejando vê-lo mais uma vez. Fascínio. Atração. Era isso que sentia. Sua cabeça dizia não, porém seu corpo não lhe dava atenção e ansiava pelo toque dele.

Expeliu o ar em uma lufada e enxugou o suor do rosto, passando os dedos pelo cabelo. Fixou o olhar nos gráficos que piscavam na tela do computador, tentando não dar atenção as imagens do sonho que piscavam por sua mente. Tinha trabalho a fazer e sabia que Shikamaru, sentado à sua frente com uma expressão aparentemente desinteressada, o observava com atenção. Ele sempre sabia quando Naruto matava o trabalho e depois disso dava um jeito de revidar, dobrando a carga da papelada, apenas para fazê-lo aprender uma lição. Lição essa que, aliás, ele teimava em não aprender. Tentou manter a atenção no que se encontrava a sua frente, porém seus olhos teimavam em percorrer o ambiente sem se deterem em nada.

Shikamaru lhe lançou um olhar avaliativo e suspirou. Acendeu o cigarro, mesmo sabendo que Naruto odiava quando o fazia, e soltou a fumaça em uma longa baforada. Passou os dedos pelo cabelo escuro, amarrado no alto, e comentou como quem não quer nada.

- Caras problemáticos sempre foram a sua perdição.

- O quê? - Naruto engasgou, retirado subitamente dos seus devaneios e surpreso pelo amigo ter colocado a questão daquela forma. Que ele perceberia sua distração disso não tinha dúvidas, mas claro que ele saberia até a causa.

- Eu pensei que tinha se resolvido com esse mau hábito. - Não havia tom que aproximasse as palavras de um sermão, mas Naruto podia sentir o cansaço na voz. Como se discutir aquilo exigisse muito dele, mas o faria mesmo assim.

- Se não me engano, foi você quem me inscreveu naquela terapia maluca. - Naruto resmungou, tentando não morder a isca.

- O que mais eu ia fazer? Você deixou aquele cara apontar uma arma para a sua cabeça!

- Ah, o Pain só estava fazendo uma brincadeira. - O loiro torceu a boca em um bico. - Não tinham balas de verdade ali.

- Fala que eu acredito. - O Nara revirou os olhos, claramente não acreditando. - Afinal, que fim tomou aquela terapia?

- Aquilo? Nunca nem apareci. - Naruto sorriu satisfeito. Shikamaru suspirou e lançou um olhar para o teto, pedindo paciência.

- Vê se não vai fazer nenhuma besteira dessa vez.

- Não posso prometer nada. - Naruto respondeu de forma séria. - Mas você sabe que se algo me acontecer, a empresa é sua.

- E começou.... Não venha com essa agora, você tem que ficar bem vivo para a exposição da Kurama Pet amanhã bem cedo porque eu, definitivamente, não irei entrar naquele círculo cheio de crianças choronas e barulhentas.

- Você seria um pai terrível. - Naruto sorriu, voltando a olhar para os gráficos de vendas.

- Eu já sou. - Shikamaru reiterou. - Afinal, você nunca me deu ouvidos mesmo.

***

Mais tarde que o habitual, com a orelha quente de tanto ouvir os resmungos de Shikamaru quanto a administração do evento do dia seguinte, Naruto enfim deixou o prédio, saindo para o ar límpido da noite. Ao menos era o que gostaria de encontrar. A fumaça e o cheiro de borracha queimada impregnavam o ar noturno. A causa: um engarrafamento naquela rua devido a um acidente envolvendo um carro e uma bicicleta.