Capítulo 1

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Todo bairro tem um mercado pequeno

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Todo bairro tem um mercado pequeno. E sempre, sem sombra de dúvidas, existe alguém que persegue outro alguém. Ana atravessou a pista correndo, deixando atrás de si um motorista velho, dentro de um carro tão velho quanto, soltando alguns palavrões enquanto apertava freneticamente sua gasta buzina. Era de se esperar esse comportamento, a cidade não era tão movimentada. Com certeza, a atitude impensada da Ana resultaria em uma notícia sensacionalista no pequeno jornal do bairro. Logo na esquina estava o seu ponto de trabalho nada convidativo, com o sobrenome de um dos donos em letras verdes, gastas pelo sol e chuva.

— Está atrasada, mocinha.

— Conta uma novidade, Hanah. Cadê a coruja?

Nos últimos dias Ana Laura - ou apenas Laura, como gostava de ser chamada - se aperfeiçoou na arte de se atrasar. Se ajeitou na cadeira, tirou a placa de caixa fechado e ajustou seu lenço vermelho no cabelo.

— Próximo!

A fila dissipou enquanto a senhora Margô caminhava pelo corredor com passos curtos e apressados. Medindo 1,55 de altura e de formato rechonchudo, fazia jus ao apelido recebido.

— Hum, hum! Atrasada novamente, senhorita Gabriela? — Falou olhando por cima dos seus óculos redondos. Ela sempre a chamava pelo nome de uma antiga funcionária.

— É Laura, Ana Laura! — Retrucou corrigindo-a — E só cheguei 3 minutos atrasada. O cachorro da vizinha comeu algo estragado e vomitou na porta da minha casa. A senhora acredita nesse azar? Tadinho, nem sei se ele se recuperou.

Enquanto ela discorria sobre o incidente oscilando entre o próximo cliente e amiga do caixa ao lado, Margô foi se afastando, fazendo caras e bocas como se estivesse tendo flashes de memória.

— Acho que meu sapato ainda está sujo, olha isso aqui.

Quando Laura virou-se, Margô já não estava mais lá. E no caixa do lado Hanah não conteve o riso.

— Amei a história! Quando crescer quero ter sua imaginação. E qual era a raça mesmo?

— Qualquer uma que ponha uma coruja para correr, ou voar.

Ambas sorriram e trocaram cumprimentos, havia nitidamente um complô contra a gerente Margô. Enquanto isso os clientes começavam a passar suas compras.

O final do expediente estava se aproximando e alguns funcionários já tinham apressado seus passos. Junior ia para a faculdade, Cris pegaria sua filha na creche e Kira... bom, Kira ia para a primeira balada ou barzinho que visse pela frente.

— Oi, Laurinha. Você está tão bonita hoje...

Igor comentou com sua voz baixa e tímida. Ela sorriu sem graça em resposta. Nunca fez mal ser educada. Mas ouvir seu nome no diminutivo lhe causava pequenos ataques de raiva. Fora que só olhar para a camisa verde por dentro da calça, já dava agonia em qualquer garota. Igor era conhecido como o cara do estoque. Todo mês se apaixonava por uma garota diferente. E era paixão mesmo, daquelas que faz alguém escrever cartas, comprar flores e montar lista de presentes do casamento. Fazia algumas semanas que a presa era a Laura, que se desviou dele, torcendo para Hanah não ter visto a cena.

Florescer *DEGUSTAÇÃO"Onde histórias criam vida. Descubra agora