VI - ALÍVIO, OU CURA [ Pte. 1]

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Síria. Cerca de 800 a. C.

Se era dia não sei, tão pouco se era noite quente ou fria, mas uma coisa com certeza se ouvia:

Sobre a terra árida; cascos e rodas levantavam terra e poeira, enquanto o peso de carros e cavalos fazia tremer o chão.

Não muito acima das patas musculosas dos cavalos de guerra estão soldados que testam arcos, manejam machados, levantando escudos enquanto outros cavalgam desembainhando espadas.

O terreno típico do Oriente Médio, é cheio de altos e baixos, mas nada impede este exército que vem subindo os montes.

Guiados por um comandante destemido, os sírios cavalgam rumo à vitória que parece certa!

Seu alvo, logo surge ao longe. Jerusalém; uma cidade murada, capital de um país famoso por abrigar um povo que serve a um Deus único, e que embora invisível, já fez coisas grandes e terríveis.

No entanto, toda esta fama de "povo escolhido" e "geração eleita", não é capaz sequer de intimidade este inimigo que logo adentra Israel, desferindo mais um de tantos ataques. Porém, desta vez, algo diferente vai acontecer.

Em meio a homens mortos ao fio da espada, casas e comércios possivelmente saqueados e mulheres arrastadas de suas casas - cenário horripilante, mas integrante do ofício da guerra...
Uma menina israelita (talvez dentre muitas outras crianças) também foi separada de sua família, e levada cativa.
Imagine-se; o caro leitor - se for capaz - olhando para os lados e vendo-se cercado por cavalos que debulham tudo por onde passam, enquanto pessoas desconhecidas entram em sua casa, humilhando e agredindo, talvez até assassinando seus entes queridos.

Inerte, você então; simplesmente é levado para um lugar distante e totalmente desconhecido, talvez com pessoas que falam uma língua igualmente desconhecida.

No entanto apesar da história desta jovem sem nome ser comovente, não é exatamente dela que vamos falar, mas sim daquele comandante que levou seus homens a mais uma vitória sobre Israel.

De volta à Síria; o grande e venerado líder militar e seus soldados são devidamente honrados, como mandava a tradição local.

Findas as festas, todos então vão para suas casas, levando seus despojos e cidadãos cativos.

Antes no conforto de sua casa, não sabemos se era de família simples, não sabemos se era da nobreza... Mas aquela garotinha sem nome agora se via na casa de uma mulher, totalmente estranha, para a qual tinha que trabalhar para viver e sobreviver.

Não se sabe ao certo quanto tempo depois, mas é certo que a jovem adaptou-se à nova vida, já que - continuemos a imaginar - num dia possivelmente fatídico, mesmo em meio a afazeres, ela corre para abrir a porta da casa, e eis que o dono da casa, o comandante amado por todos, e venerado pelo próprio rei adentra o recinto.

Cansado ele não fala muito e logo se recolhe aos seus aposentos.

Enquanto a moça corre para avisar a patroa que "o senhor" Naamã, marido dela chegou...

Tudo que aquele homem valente desejava agora era descansar.

Porém, ao fechar a porta do quarto, e tirar seus trajes de batalha, o comandante de repente reencontra-se com antigo e familiar inimigo, infiltrado na Síria, em sua cidade, dentro de sua casa, bem ali no quarto e refletido, possivelmente na lâmina de sua espada: Uma terrível doença de pele!

Muitas tradições bíblicas alegam que Naamã era leproso, mas a julgar por seu vigor físico, posso acreditar que se trata de alguma doença até então sem tratamento, graças às evidentes limitações da medicina para a época.

Embora os egípcios já tivessem feito avanços em muitos campos de ciência, a medicina encontraria um terreno amplo, milênios mais tarde.

Voltando ao foco, independente da doença, ali estava um homem que sofria de um mal, desagradável não somente para ele, mas para a esposa, e para a família que com certeza o amava e não gostava de vê-lo sofrer.

É sabido que o comandante tinha uma boa índole, um bom caráter, como preferir, já que num dado momento... Até a própria escrava de sua esposa, se compadeceu da situação dele (2 Rs. 5:3).

Mas voltemos ao homem solitário. Não ao comandante valoroso, mas ao Naamã, despido e talvez trancado no próprio quarto, olhando para a figura adoecida cuja imagem contrastava com a do líder destemido, cidadão respeitado por todos, homem admirado pelo próprio rei.

Na ausência óbvia dos banheiros e chuveiros atuais, com certeza ele precisava se banhar em algum rio onde nem todos pudessem vê-lo, e para tratar de possíveis hematomas ou incômodos causados pelo que muitas traduções denominaram como lepra; o comandante recorria a formas primitivas de tratamento como compressas com ervas medicinais, azeite e vinho para feridas, ou óleos como ungüentos e bálsamos, que proporcionam "alívio" aos sintomas daquela doença.

Avancei praticamente... Três mil anos no tempo, e então me deparei com algumas perguntas:

Alívio ou cura?

Do que aquele comandante realmente precisava para ser livre?

O que seria definitivamente eficaz, para aquele homem que mesmo estando livre, não conseguia se livrar de algo que o prendia de dentro para fora?

Como era para um símbolo de coragem e talvez liberdade de todo um povo, ser também portador de uma doença que lhe causava medo?

Mas; há três mil anos não havia tratamentos tão eficazes para doenças na pele, e aquela situação desagradável continuava se arrastando, e mesmo sendo um bom homem, como o registrado na Sagrada Escritura, Naamã não conseguia se livrar daquilo.

No entanto, num dado momento, a Palavra do Senhor menciona que a própria escrava se compadece do dono da casa. Embora tenha vivido possíveis séculos antes, ela daria uma lição no próprio profeta Jonas, que recusou-se a anunciar a mensagem do Senhor ao povo de Nínive! ( Jn. 1.3)

Ao contrário do profeta que mesmo tendo seus motivos, decidiu fugir, deixando milhares de vidas à mercê da Ira de Deus, a menina indica que havia em Samaria, um profeta que poderia curar o comandante.

O rei rapidamente toma conhecimento do caso, e se dispõe a ajudar o homem que tanto admira (2 Rs. 5:4-7).

Já o rei de Israel no entanto, apesar de saber tudo que seu Deus já tinha feito pelo seu povo, ainda desconhecia algo que nós, apesar de desfrutarmos, nos dias de hoje, preferimos fugir: A Graça!

SOU, OU ESTOU LIVRE?  REDESCOBRINDO JESUSOnde histórias criam vida. Descubra agora