Dor

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-Kacchan, Kacchan!! Vamos brincar! - Disse o pequeno esverdeado com um sorriso tão grande quanto sua cabeça. Ele adorava aquele loiro rabugento mais que tudo no mundo.

-Porque eu iria brincar com um "Deku" como você?? Haha, não me faça rir! - Disse o garoto com um tom de deboche. Aqueles dois garotos sempre foram amigos, muito amigos mesmo.
E claro que como dizem... tudo que é bom dura pouco, não é mesmo?
A partir de seus 10 anos, Katsuki começou a se envolver com pessoas... um tanto... diferentes? Não sei se essa palavra define bem, mas, sem dúvida era o "diferente" no sentido ruim.
O loiro começou a ser bem agressivo com todos que o tiravam do sério, mas principalmente com Izuku, que era a sua pessoa mais próxima.
Era meio que uma forma de se defender do tal sentimento "irritante" que sentia pelo pequeno.
E claro que como tudo o que lhe irritava era motivo de agressão, Midoriya foi quem mais sofreu com isso.

Mas pequeno não ligava, ele ainda tinha esperanças de que Katsuki voltasse a ser gentil consigo.
Todo dia ele ganhava um machucado em um lugar diferente, tinha vezes que voltava para casa quase sem conseguir andar direito.
Sua mãe não percebia, ela nunca ligou muito para Izuku, a mesma sempre estava fora de casa enchendo a cara com amigos, depois de mais um dia chorando pelo abandono do marido.
Midoriya ficava sozinho...
Sem ninguém para tratar de suas feridas infeccionadas, ou preparar uma comida quentinha quando a casa estava fria.
Era duro aquilo, mas ele nunca se deixou levar pela tristeza.
Ele ainda tinha esperanças de que tudo melhorasse.

Garoto bobo...

Certo dia, Midoriya foi mais uma vez tentar falar com seu amigo arrogante, mesmo já sabendo a resposta que o mesmo lhe daria.
Saiu de casa não muito animado, mas ainda assim determinado.
Ele geralmente usava roupas longas para esconder seus machucados horríveis, de qualquer um que o olhasse na rua.
Seus braços e pernas estavam todos enfaixados, e sua cara tinha alguns esparadrapos.
Midoriya era um menino muito magro, pois muitas vezes deixava de comer, ou comia muito pouco... sua mãe não estava lá para ver.

Dessa vez, Bakugou estava com um grupo de amigos, em uma praça perto do bairro onde moravam.
Assim que o esverdeado o avistou, foi correndo em sua direção.

-Ei Bakugou, aquele não é o menino patético que fica te enchendo? - Falou um dos meninos do grupo, assim que viu Izuku vindo na direção de onde estavam.

-Ah, é só ignorar esse Deku idiota, se ele não for embora, eu dou um soco nele. - Bakugou no fundo, torcia para que o pequeno fosse embora.
Ele já estava cansado de bater nele, era doloroso vê-lo machucado.
Mas mesmo assim, Izuku como sempre não foi embora.

-Kacchan... v-vamos bri-brincar hoje? - Disse o pequeno, já gaguejando de medo.
Mas antes que Katsuki fosse responder alguma coisa, um dos garotos já foi pra cima de Midoriya.

-NÃO SE ATREVA A CHEGAR PERTO DA GENTE, SEU SER REPUGNANTE! - Gritou um dos garotos, já danto um soco em seu estômago, fazendo-o cair.
Bakugou sentiu uma enorme vontade de falar para o amigo parar, mas o orgulho era ainda maior.

-Galera, o que acham da gente bater nesse nojento até ele não aguentar mais, pra ver se ele deixa de encher nosso saco? - Argumentou um outro garoto daquele grupo.
Todos concordaram com aquilo, afinal, amavam bater em pessoas. Tinha 5 garotos naquele grupo, contando com Bakugou, que estava morrendo de vontade de dar um soco na cara do menino que deu a ideia.
Quatro garotos começaram a bater em Izuku, enquanto o loiro assistia.

-Ei Bakugou, vem ajudar a gente seu idiota! - O loiro não queria fazer aquilo, não queria mesmo.
Mas ele tinha que se mostrar digno, então, ignorando toda a razão, o garoto de olhos de rubi, começou a bater no ex-amigo.

-Parem por favor!! Está doen- AAAHHH! - Tinham acertado bem em sua costela, provavelmente ela estava quebrada.

-Vê se cala essa boca seu Deku maldito! - Falou Bakugou, que continuou socando o estômago do pequeno.
Midoriya começou a cuspir sangue, seus braços estavam roxos, haviam torcido provavelmente.
Seus joelhos estavam sangrando, e seu nariz estava sangrando.
Era tanto sangue...
Mas os garotos não paravam, principalmente Katsuki.
Chegou um momento em Bakugou pegou algumas pedras, e começou a jogá-las em Izuku.

-Bakugou... acho que já está bom... você vai acabar ma-

-CALA A BOCA SEU INÚTIL, EU QUE DECIDO A HORA DE PARAR! - Ele já estava fora de si, começou a tacar as pedras no esverdeado.
Sua cabeça começou a sangrar por causa das pedras, mas ele não saiu...

-EU TE ODEIO SEU DEKU MALDITO, MINHA VIDA SERIA MUITO MAIS FÁCIL SE VOCÊ NUNCA TIVESSE NASCIDO!! VÊ SE FAZ UM FAVOR PARA O PLANETA E MORRE DE UMA VEZ! - Aquelas palavras... Bastava Katsuki abrir a boca para dizer isso, para fazer o coração de porcelana do menor quebrar por completo... A dor física de seu corpo, não era nada, comparada a dor dos cacos de seu coração espalhados pela seu corpo.
Lágrimas começaram a descer, ele não havia derramado sequer uma, durante a agressão, pois aquela dor seria passageira.
Porém, agora a dor estava bem mais profunda do que só uns arranhões idiotas no joelho.

Um dos meninos ali do grupo foi parar Bakugou que já estava descontrolado, e logo depois foram embora, deixando o esverdeado todo ensanguentado, deitado no chão.

O sangue escorria de todos os lugares, mas a dor causada pelo peso daquelas palavras superava tudo.
Voltou para casa perfeitamente, apesar de suas lesões... ele não sentia mais nada... nada além da dor em seu peito.
Passaram-se anos... Ele nunca mais voltou a falar com Bakugou.

Desde então, o garoto sardento, começou a se machucar frequentemente, para ver se alguma dor iria conseguir encobrir aquela de seu coração.
Mas nada funcionava, seu sangue, era do tipo extrovertido.
Ele adorava sair de dentro do seu corpo, e socializar com o mundo de fora.
Era um sangue já experiente.
Tinha um gosto azedo, mas sua cor era vermelha como a das pétalas de uma rosa bem cuidada.

Sangue era uma coisa fascinante, ele precisava conhecer mais tipos sanguíneos, socializar...
Primeiro, foi conhecer o de sua mãe.
Era um sangue podre, e infeliz, não queria sair do corpo da mesma.
Então ele teve que tentar por vários lugares.
Os gritos da mesma eram incômodos... Ela estava assustando o sangue.
Mas ele conseguiu finalmente conhecê-lo, mas se arrependeu no mesmo minuto, pois era um sangue deprimente, sua cor era escura e chata.

Então lhe veio a grande ideia de conhecer o sangue da pessoa que lhe causava tanta dor, seria uma experiência divertida.
Quem sabe os sangues dos dois se tornassem amigos?

Então naquela noite escura, o pequeno garoto dos olhos de esmeralda, foi em direção da casa de seu tão amado recipiente de sangue...

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