Capítulo 2

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Eu estava levando Annabeth, Percy e Grover até minha casa, ainda pensando que estava sonhando, tá certo, se isso fosse verdade seria incrível, conhecer todos os heróis dos meus livros favoritos, mas eu nunca fui muito sortuda, aposto que tinha algo de ruim nisso tudo.

- Χάρη της Ήρας - xingou Annabeth em grego, depois de pisar em algo, um tanto... "desagradável" - aquela mulher me persegue até no Brasil.

- Ei, - falei lembrando de algo - como você aprendeu a falar português tão rápido?

- Bem lembrado – Annabeth exclamou, tirando um pequeno fone da mochila – Use isto, assim você vai conseguir entender o que os meninos falam.

- Eu e o Grover ganhamos um presentinho de Hefesto – esclareceu Percy, enquanto retirava um outro aparelho, igual ao que Annabeth me dera, do ouvido – É um tradutor automático, traduz todas as línguas em tempo real.

Nós chegamos ao portão de minha casa, e Annabeth me parou:

- Seus pais estão em casa? - ela perguntou.

- Não, eles foram fazer compras em outra cidade.

Nós entramos na casa e nos sentamos no sofá da sala.

- Por onde vamos começar? - perguntei.

- Primeiro temos que te treinar - falou Grover.

- Ah, não se preocupe, eu li todas as histórias sei exatamente como matar os "grandes vilões" – falei, rindo das minas supostas habilidades.

- Mesmo assim, você precisa de uma arma - falou Annabeth.

- Isso eu posso resolver, acho que tem uma espada aqui em algum lugar...

- Fala sério, você tem uma espada em casa? - perguntou Percy.

- Sim, meu tataratataratataratatara avô lutou em canudos antes de vir pra Minas, mas ele foi apenas um covarde que sobreviveu se escondendo – soltei uma risada cínica ao me lembrar das histórias que ouvirá sobre ele – é normal na minha família.

Me dirigi à parede onde ficavam os quadros com fotos de família onde removi o maior deles, revelando um cofre onde estava guardada a espada. Os três se entreolharam.

- O que foi? - perguntei - Só vocês semideuses podem ter armas em casa?

- Acho que nós podemos começar então - falou Percy.

Annabeth concordou com a cabeça.

- E onde é o portal? - perguntei.

- A profecia dizia, que é no ponto mais longínquo da cidade, tem ideia de onde pode ser? - perguntou Annabeth.

- A cidade não é muito grande, provavelmente fica na ponte do listrado, mas ela fica em propriedade particular.

- Isso não é problema, estamos acostumados a invadir - falou Grover.

Eu os levei pela estrada de terra que beirava o rio, andamos por pelo menos dois quilômetros até chegar a ponte do listrado.

- E então? - perguntei - O que faremos agora?

- Não sabemos - falou Annabeth - vamos confiar esta parte a você.

Eu olhei para ela com cara de você-só-pode-estar-de-brincadeira, mas seu olhar entregou que a partir desse ponto eu teria que assumir e descobrir a saída por conta própria. Eu encarei a ponto esperando que a resposta simplesmente surgisse em minha cabeça, ou que algum deus ou ser imaginário chegasse e me mostrasse a saída, mas só obtive o barulho de um peixe pulando para a superfície e nosso reflexo turvo nas ondas que se formaram.

Minha cabeça estava a ponto de explodir, se isso fosse um desenho animado, faíscas estariam saltando da minha cabeça, depois de todos esses anos lendo ficção, ansiando por viver uma aventura, quando, finalmente tenho uma oportunidade, sou parada por uma maldita ponte.

Me sentei na beira da ponte e deixei meu corpo pender-se para trás, firmando meus braços nos suportes de metal, deixei-me observar as nuvens por alguns segundos enquanto sentia os 3 me olhando esperando pela resposta que talvez nunca viesse.

Quando estava preste a desistir reparei em um raio entalhado no metal, foi então que meu coração se encheu de esperanças, aquilo poderia ser o indicador do portal, afinal, quem em sã consciência entalharia um raio em uma ponte no meio do nada?

- GENTE!!! – gritei sem poder conter a esperança – Olhem isso, vocês acham que pode ser o indicador do portal?

- Béééééé - baliu Grover – Não parece comum.

- Mas... um raio, o que será que isso significa? – Percy se ajoelhou ao meu lado e analisou o desenho, como se fosse um verdadeiro filho de Atena desvendando um mistério. – Será que Zeus está envolvido nisso?

- Claro que não – Annabeth, a verdadeira filha de Atena, era quem analisava a figura agora – Minha mãe foi bem clara quando disse que os outros deuses não sabiam e não podiam saber. Mas é realmente estranho, não tem motivos para isto estar aqui.

- E ele não parece ter sido feito com nenhum objeto que eu conheço, olha a perfeição desses traços – eu passei a ponta dos dedos pelo desenho que, instantaneamente começou a brilhar.

- Acho melhor nos afastarmos, pode ser uma armadilha – Annabeth falou enquanto assumia uma posição defensiva.

- Não, eu estou certa do que estou fazendo – não sabia como e nem porque, mas eu, realmente, tinha certeza disso.

A luz que saia do raio aumentou até que não era possível enxergar mais nada, eu me sentia como se estivesse na página em branco de um mangá prestes a ser rascunhada e viver um capítulo totalmente novo e inesperado.

Não sabia para onde iríamos, mas sabia que a partir daquele momento, Anne Prince e sua vidinha miserável nunca mais seriam as mesmas e pela primeira vez eu sentia que estava sendo útil para alguma coisa.

Do mesmo jeito mágico que meu mundo se transformou em uma página em branco, outro mundo se refez enquanto a luz brilhava cada vez menos até ser substituída pela iluminação tremulante de uma lamparina que, inutilmente, tentava clarear um beco cercado por dois prédios altos e mau cuidados.

No céu onde deveria estar a lua, havia somente um véu negro que parecia prestes a desabar a qualquer instante julgando os trovões estrondosos.

- Acho melhor procurarmos um lugar para ficar até que consigamos descobrir onde estamos.

- O problema será achar um lugar sem saber onde procurar.

Apesar desse empecilho, nós três concordamos que a pior das ideias era ficar ali com a chuva iminente e saímos da escuridão do beco para uma cidade movimentada, mas ainda assim, com ar de velha.

Estávamos exaustos, depois de uma hora de caminhada sem rumo a chuva resolveu cair e nos forçou a nos esconder sob uma ponte em um parque nem um pouco amigável.

Não pensava que viver uma aventura fosse algo tão... chato! Normalmente as coisas são tão convenientes nos livros e os heróis não parecem se importar com intempéries naturais, mas sentada debaixo daquela ponte com fome, frio, sono e perdida (bônus: completamente encharcada), a única coisa que eu queria era minha casa, onde eu poderia deitar confortável em minha cama e apenas ler sobre situações desagradáveis.

Annabeth pareceu notar o meu estado e veio sentar-se ao meu lado para me acalmar.

- Não se preocupe – ela falou me puxando para um abraço – nós vamos conseguir, nós sempre conseguimos... somos os heróis de nossos próprios universos. 

Os Discípulos de AtenaOnde histórias criam vida. Descubra agora