cartas perdidas

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O relógio daqui parece que parou
não estou certa, mas, as horas não estão corretas.
As paredes estão rachadas,
as portas estão condenadas pelos cupins,
a minha pequena vitrola está quebrada. Não tenho mais nada. Apenas o vazio compartilhado por mim e essa casa que um dia foi a nossa felicidade.
Desde o dia em que você saiu pra servir a Pátria e com a voz mais doce me disse "espere por mim, voltarei em breve", estou esperando bem aqui, sentada na nossa velha poltrona empoeirada. Todos os dias faço o nosso café, e os biscoitos que você gosta. Meus cabelos ficaram brancos querido, sou a única morando na rua fitsgerald, todos que conheciamos se mudaram pra outros países, e a cassia nossa vizinha perdeu o seu querido marido. Só hoje ela me ligou cinco vezes pra me convencer de ir embora daqui, ela me disse que você não vai voltar, eu fiquei triste, mas, eu sei que ela só está chateada.
Hoje faz exatamente oitenta e quatro anos que aguardo notícias suas, estou anciosa pra te contar do gatinho que eu adotei, da lisie que vai se formar, da luise que se mudou com o marido, dos netinhos que nós temos. Estou com saudades querido, já perdi a conta de quantas cartas te enviei. Todos os dias tenho que andar 7 km para pegar as correspondências, pois o carteiro não passa mais na nossa rua, ela ficou vazia, mas, eu ainda estou aqui, esperando por você.
Eu acredito que você esteja bem, e é por isso que tenho que ficar aqui e te esperar, penso que não saberás me encontrar se eu me mudar, então estou aqui. E sempre estarei.

Com amor: sua querida Anne.

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