13. sinking in blue

1.1K 131 52
                                    

— Terra numa tentativa fracassada de contatar Millie Brown — me cutucou, mordiscando em seguida seu sanduíche aparentemente suculento. Mas eu não me importava com o que ela desejava de mim. Estava ocupada demais com meus próprios pensamentos, preferindo naquele momento estar presa dentro de minha cabeça com os tais — e, embora não fosse algo que eu costumava fazer muito, me parecia o melhor lugar para se estar. Eu possuía uma enxurrada de coisas pendentes para resolver comigo mesma. —  Ei, está tudo bem com você? Porque não diz nada? Millie!

— O lobo comeu sua língua, por acaso? Ah, mil perdões. Eu digo, o gato — a voz irritante de Noah ecoou ao meu lado, e eu logo pensei que sua companhia havia voltado a ser exaustiva como antes. Mas as coisas bem que podiam voltar ao normal também, tão rápido. — Brownie, que droga! Fale alguma coisa, faça alguma coisa!

— Eu estou bem — eu não estava nada bem. — Não faço e falo nada porque não tenho nada para fazer ou dizer. Quer que eu pague uma de Noah Schnapp e saia rastejando pelo chão agora? — e eu tinha sim muito a dizer. Mas nem tudo era para eles, sobre eles.

— No crédito ou no débito, doçura? — ele deu um violento revirar de olhos, a cabeça logo sendo enfiada entre os braços sobre a mesa, depois de algum tempo de silêncio reclamando da dor de cabeça que sentia, devido ao burburinho do local.

— Os meninos, onde foram, Sasa? Acham que teria algum problema se eu fosse embora sem a companhia deles? Porque, nossa, estou tão cansada.

— Mesa oito, atrás de você — Sadie bufou, os olhos rolando como Noah fizera, enquanto ela apoiava indelicadamente os cotovelos na mesa e a cabeça em mãos. Ela deslizava as unhas pela mesa plastificada do food truck em que nos encontrávamos, parecendo talvez até mesmo mais desanimada que eu. — Mas não te aconselho a esperá-los e nem a olhá-los. É uma péssima ideia. Eles são um bando de idiotas insensíveis. Se quiser ir, apenas vá.

— Posso questionar o porquê disso tudo, senhorita? — ergui as sobrancelhas de forma que, segundo a tal ruiva, apenas eu sabia erguer, e que na maioria das vezes fazia com que ela se sentisse pressionada a dizer algo. Mas aquela não era minha intenção. Eu nem mesmo sabia se desejava entender o que ela dizia.

— Não questione, também é uma péssima ideia — a voz abafada e arrastada de Noah soou de repente, e a ruiva bufou.

— Eles não estão sozinhos — Noah finalmente levantou a cabeça, e ambos olharam por cima de meus ombros. E eu, muito tentada a olhar, depois de algum tempo obviamente o fiz. Então crispei os lábios, franzi as sobrancelhas, contraí o maxilar, fiz tudo o que alguém exposto a tamanha situação de estresse faria. Estávamos sentados à mesa da barraca mais cheia de todo o parque de diversões, mas eu não ouvia nada além de batidas descompassadas. Minhas batidas descompassadas. Eu perdi a conta de quantas vezes me ajeitei naquela cadeira que de repente tornara-se desconfortável.

É, eles não estavam sozinhos. E eu não sabia que algo podia me afetar tanto. Tinha certeza de que havia sido substituída, porque era aquilo que a loura, tão próxima a Finn que quase sentava-se em seu colo, me mostrava. E eles pareciam tão eufóricos, animados com a conversa como se a conhecessem há tempos. Ela era realmente bonita. — Maravilha. Agora ela empedra de vez, Sadie!

— Casa... — murmurei, mal conseguindo pronunciar tal palavra de tão estática. — eu vou para casa. Estou esgotada, definitivamente vou para casa. 

— Não, não, nem pense! — Noah exclamou. — Mesmo que tudo o que eu mais queira nesse mundo é que você diga isso sempre que me vê, eu não terei quem perturbar se você for embora agora. E ela... — ele encarou Sadie. — É muito bruta comigo.

— Eu não sou nenhuma pacifista, mas você bem que poderia colaborar mais para que ser tão "bruta" fosse desnecessário — murmurou ela em sua defesa.

— Que eu saiba, não se domestica cobras com delicadeza, Schnapp — então me ergui da cadeira, agarrando meu adorno de pulso ao encarar a loura outra vez, e ainda com mais força ao vê-la retribuir meu olhar. E não demorei a começar a me dirigir para longe dali, ainda que Noah implorasse para eu ficar. — Vejo você amanhã, Sasa!

— Millie! — ele chamou-me inúmeras vezes, a voz de fato desesperada, até que se tornasse apenas mais uma em meio a multidão.

Eu não gostava de ignorá-los, mas era o que minha situação pedia. E cruzei o parque de diversões, realmente cansada. Cansada daquilo. Deles. Física e mentalmente. Deixei o local que tanto desejei visitar, tendo junto a mim pensamentos tão desanimadores que até mesmo Tristeza, de "Divertida Mente" pareceria mais contente que eu naquele momento, e carreguei por um bom tempo a imagem de olhos azuis na mente. Como dois imensos oceanos. Da mesma forma ela me sufocava.

ventured to say ˓ fillieOnde histórias criam vida. Descubra agora