I

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Mal iniciara a tarde quando o barulho incessante de saltos grossos começaram a soar, para lá e para cá no grande salão principal do castelo.

Todos sabiam: era A Rainha.

E ela estava nervosa.

Senhorita Lu, sua dama de companhia, suspirou, balançando a cabeça. Nenhum empregado ousara adentrar o salão — todos ocupados demais com as próprias obrigações e receosos com as represálias que poderiam receber, pela simples ira da Rainha —, por isso, se dava ao luxo da falta da informalidade que pouco poderia usufruir.

— Minha Rainha, por favor... — murmurou, vendo este continuar seus passos incessantes pelo piso lustroso, andando em círculos, claro — KyungSoo, eu juro que se não cessar esse barulho infernal, farei com que engula estes saltos!

— Não me chame assim aqui, Lu. Sabe que alguém pode te ouvir. — pronunciou-se pela primeira vez desde que adentraram o local, suspirando e sentou-se no estofado — Desculpe, mas não têm como manter a calma em uma situação como essa.

— Não estou pedindo para que fique calma, apenas quero que aparente isso. — frisou o verbo, acariciando a mão que tremia levemente — Sei que não deve ser fácil, mas você sabia que isso iria acontecer, Soo. Agora precisa se recompor e manter a pose que seu título lhe obriga a ter.

E, mesmo que sua vontade fosse a de voltar para os seus aposentos e se trancar ali, apenas suspirou mais uma vez, fechando aos olhos e assentindo para o pedido feito. Não teria outra opção; iria enfrentar aquilo.

— Em que bela enrascada nós nos metemos, meu caro Lu Han. — disse em tom baixo, rindo satírico de sua própria desgraça.

— Não fora tu a dizer que alguém pode nos ouvir? Não deveria me chamar assim, Rainha Kim Sooyung. — zombou.

— Nada importa agora, você sabe disso.

— Tem razão. — encararam-se por alguns minutos, logo rindo. Os sorrisos nostálgicos permanecendo nos lábios pintados com batom por algum tempo — Estamos em uma bela enrascada, mas creio em não me arrepender de nada.

— Nem eu. Foi uma bela aventura, devemos admitir. — e Lu Han novamente riu, em concordância — Mas já passou da hora de acabarmos com isso. Voamos alto demais, minha cara. Já está na hora de pararmos, antes que a queda cause mais prejuízos do que já causou.

— És realmente sábia, minha Rainha. Mas ainda hoje tudo será resolvido, não? — sentiu o mais novo apertando sua mão — Tenha fé, Soo!

O silêncio reinou pelo salão, trazendo consigo a nostalgia dos acontecimentos que transformaram tanto a vida dos presentes no recinto.

KyungSoo relembrava de quando ainda era um garoto — sim, garoto — pobre de um vilarejo qualquer da província coreana. Trabalhava no campo desde muito jovem, em uma vida sofrida com sua família indiferente a si e ao seu desgaste físico, mesmo tão novo. Não, jamais sentiria falta daquele tempo onde ele e Lu Han — seu vizinho e melhor amigo — sofriam tanto, mas sentia calafrios ao lembrar da crueldade que a pobreza os obrigara a passar.

E, então, sorria sozinho, lembrando-se de JunMyeon. Kim JunMyeon, um forasteiro por qual se apaixonara perdidamente enquanto este se cativava por si. Como KyungSoo, naquela época, poderia imaginar que aquele jovem que conhecera por pura coincidência seria um Príncipe?

Em pouco tempo, sentiam-se como almas gêmeas. E é em momentos assim que a realidade desaba sobre os pobres jovens apaixonados. Do KyungSoo era apenas um camponês, homem, e JunMyeon logo seria Rei de toda uma província, não poderia permanecer eternamente naquele pacato vilarejo vivendo uma paixão às escondidas com o Do.

Queen [KaiSoo]Where stories live. Discover now