Capítulo 3

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Enquanto desço a rua em direção ao supermercado, me pego atordoada com o que acabava de acontecer. Eu realmente tenho como vizinho um cara super famoso! E eu tentando fingir costume... provavelmente devo ter falhado miseravelmente! Ele parece ser gente boa, pelo menos. Ou deve ter sido só educado mesmo pra que eu não encha o saco dele no futuro, o que é bem razoável...

— Cara, que surreal! – pensei em voz alta, enquanto ria de nervoso e um pouco incrédula, apesar da empolgação que o inusitado traz.

Resolvo manter meu dia interessante colocando meus fones de ouvido. Acho que A-ha – Take on me é uma boa escolha para manter a animação enquanto navego pelos corredores do supermercado em busca dos ingredientes para as tarefas do curso. Enquanto me seguro para não fazer uma performance inesquecível da música que ouvia para os pacatos londrinos fazendo de um alho-poró um microfone, a música é interrompida por um breve segundo para sinalizar uma mensagem em meu celular. Era Bruno.

"Desculpe por ontem... Foi um erro ter mandado aquela mensagem. Talvez eu tenha entendido tudo errado mesmo. Vamos só esquecer o que aconteceu e seguir em frente, ok?"

Oi? Entendeu errado? Erro? O que ele quis dizer? Afinal de contas, o que diabos minha mãe disse pra ele? Se tem uma coisa que eu não gosto é de disse-me-disse e tanto minha mãe quanto Bruno sabem disso.

Estaciono meu carrinho em um corredor menos movimentado do mercado e, decidida a acabar com essas mensagens malcriadas, chamo minha mãe no Facetime. Após várias chamadas, me deparo com minha mãe com o semblante de quem acabara de acordar.

— Cecília? O que houve? São cinco e meia da manhã! – mamãe mudou seu semblante para uma careta de preocupação.

— Ah, mãe... desculpa pela hora.... ainda não me acostumei a pensar que aí é tão mais cedo. Mas eu queria te perguntar uma coisa.

— Sim, claro, pode falar! – os ruídos no fundo eram o de uma chaleira apitando com água quente.

— Mãe, você tem falado com o Bruno? - resolvi ser direta.

— Como você sabe, ele te falou alguma coisa? – a imagem da câmera de mamãe embaçou por alguns instantes, o barulho de fundo agora era de café sendo coado.

— Mãe, ele tem me mandado umas mensagens bem inconvenientes... falando que a senhora falou sobre mim para ele, que ele sente a minha falta, daí depois diz que foi um erro ele ter falado comigo depois que eu respondo.... o que a senhora falou pra ele?

— Ah, nada demais, filha! Só contei que você tinha chegado bem por aí, estava bem instalada e que parecia feliz em estar aí.... – mamãe parou de olhar para a t.la do celular e pareceu estar concentrada demais para quem fazia um simples café.

— Sei... nada além disso? – pressiono, com a sobrancelha direita levantada.

— Ah, filha... ele é um menino tão bom, e se sente tão sozinho! E você também está sozinha aí. Eu fico preocupada, sabe? Você precisa de uma companhia por aí. Vai que acontece alguma coisa com você e...

— Mãe! O que você disse pra ele? – Meu tom de voz alterou-se o suficiente para que um casal de idosos que procurava pelo melhor preço de feijões enlatados se assustasse e me olhasse com olhar de julgamento.

—Disse que queria que vocês conversassem – mamãe deixou escapar um suspiro, como de quem dá o braço a torcer – eu queria que vocês se entendessem....

Eu não queria brigar com a minha mãe... ela deve estar sentindo a minha falta, além de estar preocupada por eu estar sozinha aqui. E bom, ela confia no Bruno...

— Olha mãe, eu entendo a sua preocupação – digo, esfregando os olhos – mas... não faz isso de novo, tá? Ele deve ter ficado com alguma esperança de eu querer voltar pelo que a senhora falou... e você sabe o que ele me fez passar me fazendo escolher entre ele e os meus sonhos, não sabe?

— Eu sei, minha filha... me desculpa, tá? Não vou fazer isso de novo... – diz, reticente.

— Mãe, tá tudo bem? – tenho a impressão de que falta alguma coisa.

— Tá tudo bem sim, filha... Eu só tô com sono, mas deve melhorar depois desse café aqui. – ela ergue a xícara como se sugerisse um brinde em direção à câmera, seguido de uma careta confusa – Você.... tá no mercado?

— Por alguns momentos esqueci, mas aparentemente ainda estou. – eu olho à minha volta, para me certificar de que não há nenhum gringo me achando louca por perto. – É que eu não ia conseguir esperar chegar em casa pra gente conversar sobre isso. Mas acho que já vou... tenho que terminar as compras e fazer as receitas da semana.

— Tudo bem, minha mãozinhas-de-fada! Faz o que você tem que fazer! Bom dia, mamãe te ama! – seu sorriso doce conseguiu arrancar outro sorriso do meu rosto.

— Também te amo, mãe!

Segundos depois de encerrar a chamada, me lembro que podia ter contado à mamãe sobre o encontro inusitado com meu novo vizinho-celebridade para arrancar umas risadas dela. Mas preferi não ligar novamente para que eu pudesse acumular mais coisas boas para contá-la na próxima vez que ligasse para ela.

Ao sair do facetime, a tela em segundo plano é a da mensagem de Bruno.

— Quer saber? – penso alto – Essa mensagem foi mesmo um erro.

Num gesto rápido de dedos, toda a conversa com Bruno foi apagada. Decido retomar em meus fones a música que estava tocando. Nada daquilo iria estragar o meu sábado, que estava apenas começando. Após passar meus itens pelo caixa e pagar minha conta, retomo o meu caminho para casa, cantarolando junto com a música.

Waiting at your doorstep | Tom HollandOnde histórias criam vida. Descubra agora