CAPÍTULO UM

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- Não, dona Mirtes

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- Não, dona Mirtes. Não tem problema, está seco... parece molhado, mas está seco. É que eu quis deixar a madeira brilhante pra senhora, isso é o verniz. Pode colocar a mão!

- É o quê??? - a velhinha do brechó do fim da rua, a mais simpática de toda a Olaria, - e também boca suja -, inclina a cabeça como se isso fosse ajudá-la a ouvir melhor.

Ela pega o pequeno banquinho pelo estofado e meu coração se espreme. Não que eu tivesse feito um trabalho mal feito e ele se desprenderia da base circular, mas aquele pequeno banquinho estava em sua família há gerações. Se ela não o tratasse com carinho, eu o tomaria para mim e jamais devolveria. Mentira.

- PEGUE AQUI, POR AQUI! - eu levanto um pouco a voz e sorrimos um para o outro.

- Desculpe, filho, eu não escuto muito bem. - ela confessava sua deficiência sempre que podia, era como se nós, seus vizinhos, por algum motivo se esquecesse daquele detalhe sempre. Mas dessa vez eu realmente esqueci. - Aqui?

- ISSO MESMO, AQUI. PODE LEVAR QUE ESTÁ PRONTO PARA USAR. PODE COLOCAR DE VOLTA AO LUGAR DELE!

- Obrigada, meu filho. Você é um anjo. O banquinho da bisa ficou lindo! - ela dá uns tapinhas em minha face e sorri pra mim.

- Quer... QUER AJUDA PRA LEVAR?

- Não, está tudo bem. Eu dou conta, pensa que sou fraca? Está me chamando de velha!?

- ESTOU SIM!!! - eu zombo só pra ela soltar seus palavrões e ela tenta me bater.

- Mas é um filho de uma boa mãe, tu me respeita garoto! Vá chamar assim teu passado, aquelas vaaaaa-gabundas! Eu não sou tuas quengas!

- O QUE É DONA MIRTES!? - a velha Mônica entra na loja pelos fundos gritando feito louca, já adorava gritar naturalmente, com dona Mirtes então... Ah! Ela era a dona Môni para os mais íntimos. - SE ESTIVER TE ENCHENDO O SACO, PODE SURRAR!!!

- Está me chamando de velha. Não deu educação pra esse menino não, Môni??? Tem que dar! Veja bem isso, veja bem... - a velha sai resmungando e a outra velha ri alto.

- Essa dona Mirtes... - gargalho negando.

- É a melhor pessoa. - minha mãe afirma e se aproxima do balcão pelo lado de fora. - Como dormiu hoje? - ela nunca perguntava, a não ser que tivesse me ouvido gritar devido aos pesadelos.

- Qual foi!?

- Sonhou com ela de novo?

- Não me lembro. - não me lembrava mesmo.

- Fazia um bom tempo que não ficava tão agitado. Precisa esquecê-la, Lucas. Ela ainda não te faz bem nem depois de ter se mandado daqui.

- E quem disse que eu não esqueci??? - entro na oficina pela porta dianteira da loja que nada mais era que nossa antiga garagem, mas ela me segue.

Seu colo, Meu lar - DISPONÍVEL AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora