Capítulo 3

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28 anos – Luke P.O.V

-Fala, pentelho. – Ouço a voz do meu irmão no celular.

-Fala, pentelho. – Digo a ele, limpando a garganta. Percebo que estou ficando doente. Parece que rasparam minha laringe com arame farpado. Não é disso que preciso no momento. – O que manda?

-Bom, pensei em te desejar uma porra de um feliz aniversário, seu puto.

-Certo. – Digo, fazendo um aceno com a cabeça que ele não pode ver.

Tiro as chaves do jeans e abro a porta do meu carro. Ao fundo, um helicóptero está levantando voo, e entro depressa no carro para ficar mais fácil ouvir Jack.

-Você está no aeroporto? Não vá me dizer que está trabalhando no dia do seu aniversário!

-A maioria das pessoas precisa trabalhar no dia do aniversário. – Observo.

Claro, Jack não trabalha dia nenhum, apenas fica rodando de carro por Manhattan, como um playboy. Alguns poderiam dizer que não sou diferente, mas pelo menos tenho uma carreira. Jack tem se escorado a vida toda no dinheiro e no status dos nossos pais. O engraçado é que ele é o mais velho, deveria me servir de exemplo. Acho que, sob certos aspectos, serviu: quando terminei o ensino médio, jurei que me tornaria o oposto de Jack.

-Você devia tirar o dia de folga. – Suas palavras são pontuadas por um bocejo, e posso imaginá-lo com os braços esticados acima da cabeça. – Você já falou com a mamãe e com o papai?

Suspiro e me recosto no banco. É abril e está um gelo. Mesmo tendo me mudado para São Francisco no começo dos meus 20 anos, ainda não me ajustei a seu clima bipolar. Em Nova York, as quatro estações estão numa ordem adequada. Em Sydney, Austrália, onde cresci, é a mesma coisa, numa escala mais amena. Aqui, é quente no outono, frio no verão e nublado a maior parte do ano. Fico tentado a ligar o carro e acionar o aquecedor, mas posso imaginar Michael caçoando de mim por causa disso.

-Não, faz algumas semanas que não falo com eles. – Digo.

E nós dois sabemos que isso significa que não tenho falado com meu pai há algumas semanas. Minha mãe nunca telefona, o que é pra lá de bom.

-Espero que não se esqueçam do seu aniversário. – Jack diz de um modo que significa que espera que esqueçam. – Pelo menos você tem um bom irmão.

Reviro os olhos:

-Pois é.

-Ouça – Ele prossegue, e pelo seu tom de voz sei que o verdadeiro motivo de ter ligado não é o meu aniversário -, estava pensando se você poderia me fazer um favor.

Fico alerta:

-Um favor?

-É, Luke, é o que um irmão faz pelo outro. Vou estar em São Francisco na semana que vem e vou levar minha namorada. Ela adora Alcatraz. Você acha que poderia dar uma carona pra gente até lá?

-Dar uma carona até lá? – Repito, atônito.

Que porra?

-É – Ele diz, como se não tivesse pedido algo ridículo. – Você sabe, de helicóptero.

Solto um longo e cansado suspiro, tentando juntar as ideias.

-Jack, escuta, trabalho para uma empresa charter. Não tenho de fato um helicóptero para te levar por aí.

O Pacto | MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora