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Gael D'Castilho

Me levanto  religiosamente as sete da manhã,  o expediente no escritório começa as oito e gosto de ser um dos primeiros a chegar. Tomo banho e faço minha higiene pessoal, em meu closet escolho um terno de três peças azul escuro , uso minha  loção após barba e  borrifo algumas gotas de um perfume exclusivamente feito pra mim por um perfumista  amigo meu, desço pra encontrar meu pai  lendo  o jornal com a expressão sisuda como sempre e minha mãe sentada do outro lado da mesa vestida com uma roupa de academia, os olhos marejados deixam escapar que chorou a noite como sempre.

E aquela dor que faz moradia em meu peito escolhe esse momento para dar as caras.

Desde que minha irmãzinha foi sequestrada aos dez anos e nunca mais se teve notícia dela, a minha mãe passa as noites chorando. 

Exatos doze anos se passaram e nunca mais se ouviu falar dela, meus pais contrataram os melhores detetives particulares no entanto nem mesmo  assim ninguém conseguiu acha-la .

O sumiço de Violet causou um ponto de ruptura em nossa família que eu acredito nunca mais voltara a ser a mesma . Minha mãe vive presa em seu mundinho onde lida com uma depressão recorrente de todo sofrimento vivido por mais de uma década longe da filha . Meu pai ficou ainda mais sombrio, distante e indiferente a tudo e já eu ...lamento todos os dias por não ter protegido minha irmã. A saudade da pequena travêssa é tanta que as vezes eu posso jurar ouvir sua risada ecoar pela casa .

Há alguns meses atrás minha mãe pareceu se conformar pois nunca mais se lamentou e dispensou os detetives.  A minha intuição me diz que ela encontrou ou descobriu alguma coisa que a fez parar de procura-la.

—Bom dia mamãe!  —saudo-a beijando o    topo de sua  cabeça . — Dormiu bem?—É apenas uma pergunta retórica porquê eu sei que ela não dorme bem á  anos. 

—Bom dia meu filho ,eu dormir muito bem obrigada —piscou tentanto disfarçar a mentira e apontou a cadeira ao lado da sua .—Sente-se que vou já servir seu café.

—Eu não sei por qual motivo  você tem que servir, se temos vários empregados para isso, inclusive uma copeira que é treinada especialmente para esse tipo de serviço— Meu pai diz com a arrogância sem tirar os olhos do jornal que lê.

Percebo minha mãe ficar tensa por um nano segundo por sua repreminda .

—Bom dia para o  senhor também meu pai. Nem vou perguntar se dormiu bem porque já vi que está de péssimo humor. —finalmente ele abaixa o jornal e me encara .

— Ai que se engana meu caro ...estou  no meu mais excelente humor, você é que não se dignou a me dar bom dia. Pareceu-me que só enxergava sua mãe.  Não que isso me importasse em absoluto. — provoca-me zombeteiro

—Lógico que não!  Apenas dei bom dia a ela primeiro, mas já ia cumprimenta-lo. —falo me sentando.

Ele se limita a voltar a leitura do jornal, desde sempre meu pai foi desse jeito, ele dirige uma empresa que fabrica perfumes, a Botica eau'Dparfum, para ele trabalham os melhores boticários de toda a Europa. Ele também é ligado aos assuntos da cidade,  sendo muito respeitado até pelo prefeito e pelos vereadores, em tudo eles pedem a opinião do meu pai, ele também é benfeitor em dois orfanatos e  uma casa  de meninas. Acho que ele se sente frustrado por não ter conseguido encontrar a filha.

Termino meu café ,e me despeço  dos dois .

Embora esteja um pouco atrasado eu  penso em passar e pegar a Hilary minha noiva , Mas acredito que ela ainda esteja dormindo, por isso acho melhor  deixa-la ir sozinha no próprio carro ,assim ela tem algumas  horinhas extras de sono.

Perfume/ VOLTARÁ EM JANEIRO DE 2019Onde histórias criam vida. Descubra agora