Capítulo 4

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Eu chamei um Uber, era um sedan prata. A pus no banco de trás. Peguei as coisas nas mãos de Gabriel e guardei no porta-malas.
O motorista estava fedendo. Lembraria disso quando fosse votar. Olhei para ela, estava abatida. Não conseguia falar sobre o que estava sentindo.
Andressa era uma menina complicada, muitos não a entendiam. Muitos que a viam sorrindo, não a conheciam de verdade. Não sabia das suas angústias. Eu sempre tentei ser presente nos momentos de tristeza. Somente eu e Gabriel a conhecíamos como ela realmente era.
Assim como poucos me conheciam. Apesar de não saber o que se passava com Andressa, sabia, lá no fundo, que ela precisava de um tempo para digerir aquela informação. Ela não sabia reagir muito bem a algumas coisas. Aos poucos minha mente se projetava para tentar mostrar a ela que independente do que estava pensando, estávamos lá para o que der e vier.
Sabe era estranho, nós três tínhamos nossas "limitações", mas o amor era tanto que nos momentos difíceis um do outro, tínhamos sempre aquela palavra de conforto. Muitas vezes pensava que poderia ser um tanto hipócrita, mas sabia que independente desses pensamentos, a intenção ao falar essas tais palavras era na verdade mostrar que mesmo com nossas " limitações" amávamos uns aos outros e por isso estávamos falando aquilo.
A ida até a casa de Gabriel foi silenciosa, deixamos ele na porta de sua casa, ele pegou o violão algumas coisas no fundo do carro, e partiu despedindo-se apenas com um tchau. Sabia que ele também se abalara com aquela reação depois ligaria pra ele. Mas assim que o motorista arrancou o carro e saímos da casa de Gabriel olhei pra Andressa. Ela me conhecia muito bem. Sabia toda a representatividade daquele olhar, sabia o significado. Então ela me respondeu com outro olhar. Sabia muito bem o queria dizer aquela expressão facial. Conhecia o medo, e a ansiedade lutando dentro dela. O medo de confiar a ponto de contar e a ansiedade pelas palavras que queria despejar para fora de seu interior.
Respondi com outro olhar sincero. Aquele olhar que dizia que quando ela se sentisse a vontade poderia contar comigo. Mas independente dela contar ou não, eu era seu amigo e não a abandonaria.
Acredito que ela entendeu o meu recado, pois encostou em meu ombro e ficou ali, pensando, não tinha esse poder de ler os seus pensamentos, mas sabia que dentro dela havia uma guerra. Uma crise, a qual não havia um vencedor, por enquanto...
Quando chegamos na rua dela, ela levantou o rosto, enxugou algumas lágrimas, que eu, em meio aos meus devaneios particulares não tinha notado a presença. Arrumou o cabelo, e fingiu que nada havia acontecido. Seu rosto mostrava alegria por uma noite maravilhosa, mas eu sabia que era uma máscara, uma das boas. Andressa sabia como enganar alguém, mais especificamente sua mãe. Mas não tem problema, eu após alguns anos de prática sabia muitos de seus truques. Dei um abraço apertado nela, disse um "eu te amo" sincero,  e tirei suas coisas de dentro do carro. Ela abriu a porta e pegou as coisas de minhas mãos, eu falei:
- Vou deixar minha janela aberta, qualquer coisa é só me mandar um "torpedo".
- Está certo. Qualquer coisa eu te chamo. Vou descansar, amanhã a gente conversa. - Ela falou com uma voz fraca de quem tinha perdido as forças após um longo dia de uma jornada dupla de trabalho.
- Boa noite, Andy!
- Boa noite, Peu...
Segui para casa, meus pais já tinham ido dormir, eu subi para meu quarto. Mandei uma mensagem para Gabriel.

Para: Gabriel
E aí mano?! Cheguei. Deixei ela em casa. Como você está?

Me deitei na cama, tirei os sapatos. Tirei a camisa, tirei o short e fiquei de cueca. Levantei fui até o banheiro e tomei um banho. Tomei um banho demorado. Não porque estava em baixo dágua desperdiçando, mas sim porque havia me perdido em meus próprios pensamentos enquanto passava sabão. Fiquei olhando para os azulejos por um bom tempo, até que me lembrei de que precisava descansar. Liguei o chuveiro e tirei todo aquele sabão. Quando estava certo de que todo o meu corpo estava enxuto, segui para o guarda roupas. Peguei uma cueca e um samba canção. Me deitei e peguei meu celular. Gabriel havia respondido;

Para: Pedro

Oi mano, eu estou bem. Muito confuso para falar a verdade...

Para: Gabriel

Devastação pós-vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora