Capítulo 7

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  Eu não sou uma pessoa que costuma enjoar da música no meio dela e trocar, eu normalmente as ouço até o final, porém naquele momento uma aura de impaciência me circundava e eu realmente não aguentava mais aquela música, ou talvez eu só estivesse com sono e irritado por não conseguir dormir.
  Tentei passar de música, mas quando percebi estava passando foi da estação de rádio já que eu não tinha como passar de música na rádio...
  Me senti tolo por não lembrar que estava na rádio e não no YouTube. Até porque passei para uma estação que não tinha nada a ver comigo, eu sou bem eclético, mas naquele momento em que eu queria uma música calma e relaxante, música eletrônica não era a melhor escolha.
  Me levantei da cama e fui ao banheiro lavar meu rosto, liguei a água e tomei um choque ao sentir aquela água extremamente gelada. Me toquei e percebi que eu que estava muito quente. Fui pegar um termômetro e verifiquei minha temperatura. 38°. Isso explicava minha necessidade insana de usar um edredom no calor que todos diziam que estava naquela noite.
  Resolvi tomar um banho gelado para quebrar essa quentura, pus uma música no meu celular e liguei o chuveiro. Após cinco minutos recebendo aquela água em minha pele, saí e verifiquei minha temperatura novamente e estava vinte e sete graus. Muito melhor.
  Me enxuguei e me deitei. Voltei a ouvir a rádio que estava ouvindo e estava tocando uma música um pouco triste, me senti deprimido, comecei a chorar, flashs passados se rastejavam em minha mente, e eu comecei a me encolher em minha cama, puxei o lençol para perto de mim novamente e cobri minha cabeça, estava tudo silencioso, meu celular havia descarregado, comecei a sentir calor e simplesmente empurrei a coberta novamente e me sentei.
  Estava tendo crises como essa por toda a semana, não queria ver ninguém, ficava no meu quarto o dia todo. Desenhando e ouvindo música, as vezes mandava umas mensagens para Andressa e Gabriel. Eles insistiam em querer vir aqui em casa ou me chamavam para ir na casa deles, mas eu insistia que estava tudo bem, e que estava cansado e não queria sair nem ver ninguém porque iria cochilar.
  Eu me deitei novamente pensando em tudo que aconteceu esta semana e tomei um susto quando o sol bateu em minha janela. Me levantei para pegar meu celular para ver as horas, e lembrei que ele estava descarregado, mas quando o peguei ele estava no carregador e dizendo que a bateria já estava cheia, então parei para respirar e lembrei que durante essa madrugada que passei acordado eu o pus para carregar.
  Olhei as horas e fiquei realmente assustado quando o relógio marcou dez horas da manhã. O tempo passou tão rápido desde ontem à noite. Sabe aquela sensação de que tudo ao seu redor está sem vida, quando na verdade você que está morto? Eu acho que é o que está acontecendo. Tudo aquilo que importava parece... Sem vida. O pior de tudo é que saber que estou morto não é o pior, e sim não saber como retornar. As coisas se decompõem aos poucos,   ninguém desconfiava de que Andressa faria aquilo, e quando ela fez ela levou uma parte minha. Talvez a única parte que restou depois de anos de composição. Não a culpo, mas a parte que sabia que eu vivia para tentar ajudar minha família, e sim ela e Gabriel são minha família, morreu, pois percebeu a minha incompetência em "ajuda-los".
  Me assusto quando alguém bate a porta me tirando dos meus devaneios. Caminho lentamente, até abri-la passa-se uma eternidade. Me deparo com minha mãe, ela carrega um olhar de dúvida. Acho que se sente perdida com o meu comportamento. Uma hora totalmente bem, outra totalmente mal. Ela abre a boca pra falar algo mas a interrompo:
— Aconteceu alguma coisa? Posso ajuda-la? — Observo-a com um olhar calmo, não querendo transparecer que estou morto.
— Na verdade, eu vim perguntar se está bem. Não veio tomar café, e estou te chamando a alguns minutos para almoçar, mas você não respondia. Já faz uma semana que você está trancado aqui em cima, depois da festa de comemoração pela volta de Andressa no hospital e...
— Eu estou bem, estava com fone de ouvido por isso não ouvi a senhora, não estou com fome, mais tarde vou a cozinha e como algo. — A interrompi.
— Não acho que esteja bem. Não quero ser invasiva, mas você não parece nem. Espero que saiba que sou sua mãe e pode confiar em mim. Sei que as vezes não tem tanta confiança em seu pai quanto tem em mim para conversar algumas coisas, então saiba que pode conversar comigo. Sempre pode confiar em mim. Okay querido?
— Sim, mãe. Estou bem, só cansado. Obrigado pela preocupação.
— Bem tome um banho e saia, tome um ar fresco. Você está pálido. Sente no jardim, tome um sol, desenhe. O que seja... Só saia desse casulo. Seja alegre como você é. Te amo!
— Também te amo mãe. — Era verdade, só não falei como se fosse. Eu estava sem emoção nenhuma. Não tinha força para transparecer emoção alguma.
  Fiz o que ela mandou. Tomei outro banho, o dia estava quente. Peguei meus materiais de desenho, fui a cozinha, comi e depois fui para o jardim.
Comecei um desenho. Era triste, tinha muita sombra, quando terminei percebi que havia me desenhado, mas como se fosse uma paisagem. Me desenhei, um bosque, com vários cipestres. Comecei a pintar. Fazia diligentemente, com cuidado, querendo transpor tudo aos mínimos detalhes. Ouvi alguém tossir. Como quando você quer chamar a atenção para avisar que está ali presente.
Olhei para trás e vi meu irmão com uma bandeja. Tinha doces e um suco de laranja, o meu preferido.
— Posso ficar com você? Faz um tempo que não ficamos juntos. Estou com saudades. — É engraçado como as crianças têm esse jeito verdadeiro. Sem malícia. Sempre transparentes com o que sentem.
— Você ainda pergunta? Mas é claro que pode. Senta aqui. — Pensei em afastá-lo, mas sei o quanto ele está se esforçando para me deixar um pouco feliz, e aos poucos aquele sentimento de que sou amado, de que faço falta, voltava um pouco ao meu coração.
— Bom, trouxe chocolate, do seu preferido e suco de laranja. Espero que vc goste. Não foi a mamãe que fez, mas me esforcei bastante, então não deve estar péssimo.
— Acredito que está uma delícia! Vamos me dê. — Peguei o suco da bandeja, tomei um gole, e estava muito bom. Imagino o quanto ele se esforçou para fazer isso por mim. Não me contive e lágrimas caíram dos meus olhos. Como uma nascente de um rio. Ele se assustou.
— Está tão ruim assim? Que você chega chorou? — Fico calado e bebo mais do suco. — Não precisa beber se não gostou é só jogar fora. — Continuo bebendo e calado. — Ande Pedro diga alguma coisa! — Ele perde a paciência e grita.
— Está maravilhoso! Melhor que o da mamãe. Muito obrigado! De coração muito obrigado!
— Ora seu... Por que não fala nada? Quer me matar do coração? Eu não acho que posso fazer melhor que o da mamãe, mas... — O interrompo.
— Mas é claro que você pode! Você pode tudo se lutar para conquistar! Nunca mais pense nisso, ok?
— Tudo bem... Você está bem?
— Eu vou ficar. E você? Como está?
— Eu estou bem. Comecei a jogar aquele jogo e...
Passamos a tarde conversando. Acabei esquecendo de pintar o desenho. Quando anoiteceu mamãe nos gritou e mandou entrarmos. Disse que não deveríamos ficar no sereno pois poderíamos ficar doentes. E ela fez questão de gritar para que não restassem dúvidas que ela não queria nós dois gripados. Assentimos e entramos.

   (...)

  Me deitei. Peguei meu celular e resolvi encarar meus amigos. Mandei uma mensagem para o nosso grupo perguntando se estavam ocupados. Esperei um tempo pelas suas respostas. Coloquei uma música para tocar, era romântica. Eu não penso muito em romance. Não para mim mesmo, tento ajudar Gabriel e Andressa a ficarem juntos, mas não penso em alguém para mim mesmo. Sou despertado pelo som de notificação do meu celular. Eles dizem que não estão ocupados e que já chegavam lá em casa. Ouço a campanhia tocar, e me sobressalto com a rapidez que levaram para chegar. Foram o que? Dez segundos após a mensagem? Desci para abrir a porta e eles já haviam entrado. Subimos, disse a minha mãe que íamos resenhar lá em cima no meu quarto.
— Como você está? Estávamos preocupados! Você não queria falar com a gente. Pensamos que poderíamos ter te magoado... — Andressa falava tão rápido, a interrompi.
— Calma! Eu estou bem, ou pelo menos vou ficar. Só precisava de um tempo. E vocês como estão?
— Nós estamos bem, preocupados, mas bem! — Dessa vez foi Gabriel quem falou.
— É estamos bem...
— Que bom, não? — Falei rindo.
— Ótimo, na verdade! — Eles riram e se olharam, coraram.
— Ok, que estranho. Mas tudo bem.
  Comecei a longa jornada de contar sobre minhas crises de ansiedade, e meus ataques de pânico sozinho no meu quarto. Eles faziam umas caras de triste, culpados. Mas disse que eles não tinham como saber e que não tinha como eles saberem. Aceitaram, não gostaram de eu ter escondido tudo isso deles, mas o que está feito está feito. Deixei claro que eu confiava neles, mas que precisei de um tempo. Conversamos sobre planos para o resto de férias que teríamos, marcamos outro lual. O ano novo estava chegando, mas dessa vez iríamos fazer no quintal do fundo da casa de Andressa. Seria mais como um acampamento do que um lual, mas tudo bem. Concordamos em chamar de lual. Quando estivesse muito tarde, Gabriel poderia dormir lá em casa e Andressa voltaria pra casa dela ou iria com a gente. Tudo dependia dela.
Nos despedimos, e eles foram pra casa antes que fosse muito tarde. Quando se foram, lembrei que chegaram muito rápido e mandei uma mensagem no nosso grupo perguntando o porquê. Eles não responderam. Eu me deitei e fui dormir.







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Como vão leitores?
Voltei depois de muito tempo, mas voltei, quero acabar essa história para começar outra, e depois fazer a continuação desse livro. Espero que estejam gostando. Se tiverem críticas podem fazer, opiniões podem dar. Se acharem algum erro pode sinalizar. Votem e comentem, isso ajuda muito!!

O que acharam desse final? Com tudo se ajeitando finalmente? Eu estou ansioso para que Andressa e Gabriel fiquem juntos.

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⏰ Última atualização: Jan 01, 2019 ⏰

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