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–  Arielle

  

    Sempre gostou de cuidar e de ajudar as pessoas. Arielle, uma rapariga de cabelos loiros brilhantes e olhos azuis penetrantes, trabalhava numa pastelaria pertencente aos seus falecidos avós, com a ajuda dos seus pais. Quando um cliente aparecia na porta de entrada, um sorriso curvava-se nos lábios da rapariga e ela acenava de mão aberta, transmitindo logo bom humor às pessoas que por lá se deslocavam. Mas havia uma pequena excepção... Um rapaz de cabelos aloirados e olhos também azuis, da cor do mar, passava sempre por lá, bem de manhãzinha, quando a pequena pastelaria era aberta por Arielle. Cinco minutos depois de tudo estar preparado, esse tal adolescente cujo nome ela não sabia, entrava lá dentro. Arielle não lhe acenava nem lhe sorria, pois o rapaz, de certa forma, intimidava-a. Ele usava sempre roupas escuras e tinha um piercing no seu lábio inferior. Arielle não era o tipo de rapariga que costumava julgar as pessoas, mas havia algo de diferente neste rapaz. Algo mau para ela. Então, limitava-se a ser fria, mas não demasiado.

    Hoje, digamos que era um dia entediante para ela. Encontrava-se sentada na pequena cadeira de madeira onde tinha passado as manhãs dos últimos dois anos. Desistira da escola para trabalhar com a ajuda dos seus pais. Parece absurdo, não é? Mas Arielle adorava. Arielle adorava poder satisfazer as pessoas nem que fosse apenas por dois minutos. Ela tinha imensa compaixão e era uma pessoa grata pelo que tinha. Não pedia por mais, sabendo que estava feliz assim. Podiam considerá-la uma pessoa rara, procurada... Porém, ela sentia que não era. Nos seus dezoito anos de existência nem um rapaz lhe demonstrou algum interesse. Ela presumia que o 'amor da sua vida' fosse aparecer quando menos esperasse. Oh, e até tinha razão.

    "Um café" – uma voz apareceu do nada. A rapariga olhou para cima de imediato, cruzando olhares com o tal adolescente, provavelmente indecifrável. Este era o pedido dele. Um café. Arielle supunha que ele tivesse uma paixão por café, já que pedia sempre o mesmo.

    "Ouviste?" – a mesma voz masculina voltou a ouvir-se, fazendo a rapariga despertar rapidamente do seu habitual estado. Levantou-se da pequena cadeira e dirigiu-se até à máquina, retirando um café. Entregou o mesmo ao rapaz e voltou a sentar-se, à espera que ele lhe desse o dinheiro.

    "São sessenta cêntimos..." – Arielle disse com a voz baixa e trémula. O adolescente à frente dela lançou-lhe um olhar irritado e ela encolheu-se na sua cadeira, suspirando longamente.

    Ele não saiu do lugar onde estava enquanto bebia o seu café. O seu olhar estava preso no da rapariga inofensiva, como se ele tentasse descobrir o que ela pensava. As suas mãos agarravam firmemente na pequena chávena de vidro enquanto um dos seus pés batia impacientemente no chão.

    "Podes parar, por favor?" – Arielle acabou por pedir gentilmente, referindo-se ao barulho irritante que ele fazia. O rapaz formou um meio sorriso ao ouvir a frase dela. Não estava habituado a ouvir a sua voz.

    "Oh, estou a incomodar-te...?" – olhou a rapariga à sua frente nos olhos, debruçando-se um pouco, de modo a poder ver o pequeno medo que predominava no seu olhar. Ela abanou devagar a sua cabeça e engoliu em seco, estendendo a palma da mão ao adolescente para que ele lhe desse os sessenta cêntimos já pedidos. Ao invés de lhe dar o dinheiro, ele traçou as linhas da palma de Arielle com as pontas dos seus dedos, gostando de a ver naquele estado. Ele gostava de intimidar as pessoas.

    "Dá-me a porcaria do dinheiro e vai-te embora" – a frágil rapariga disse por entre dentes, removendo violentamente a sua mão da dele.

    "Mas este é um local público..." – fez uma breve pausa – "Arielle."

    Os olhos da rapariga arregalaram-se assim que ela ouviu o seu nome a ser pronunciado. Ergueu uma sobrancelha, perguntando-se a si mesma como é que o rapaz sabia tal informação. E, depois apercebeu-se. O seu primeiro nome estava gravado na camisola que ela tinha vestida. Soltou um suspiro de alívio, não sabendo bem porquê, e fez contacto visual com o único adolescente presente neste espaço – sem contar com ela.

    "Sou o Luke" – o tal rapaz disse passados alguns segundos. Retirou três moedas do seu bolso das calças e colocou-as no cimo da mesa. Assim que Arielle levou as mãos à mesma para pegar nas moedas, ele voltou a retirá-las com os seus dedos. A rapariga grunhiu em frustração e pousou a cabeça entre as suas mãos.

    "O que ganhas com isto?" – perguntou num suspiro. Luke abanou a cabeça negativamente e um sorriso aflorou-se nos seus lábios.

    "Diversão" – encolheu os ombros, pousando as moedas sobre a palma da mão de Arielle, que as arrumou imediatamente na caixa registadora.

    "Vai procurar outra pessoa que se queira divertir contigo" – ela balbuciou, um pouco cansada. Esperou alguns segundos antes de olhar para cima, e, quando o fez, Luke continuava a olhar para cada detalhe dela.

    "Não me parece" – proferiu, dando ênfase às suas palavras. Piscou o olho direito a Arielle, que semicerrou os olhos, não entendendo o significado da frase dele.

    Mas, Luke não pareceu querer explicar-lhe o que pretendia, pois segundos depois virou as costas à inocente rapariga e começou a caminhar até à saída, desaparecendo depois do campo de visão de Arielle.

Reckless ➤ Luke Hemmings [Dropped]Onde histórias criam vida. Descubra agora