Quem é quem em Rosewood

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Antes de continuar com a minha conversa com Melissa, acho melhor explicar um pouco sobre como é nossa querida Rosewood. Nossa cidade é, provavelmente, como qualquer outra cidade habitada pela alta sociedade. Rosewood está localizada na Pensilvânia, cerca de 20 milhas fora da Filadélfia. Pode ser uma cidade pequena, mas temos o nosso próprio jornal diário, o The Rosewood Observer. Rosewood também é o lar da universidade local, Hollis College. Temos lindas paisagens, belas construções e estão todos sempre felizes; bem, pelo menos era o que parecia. Nossos passatempos e divertimentos podem ser descritos em três palavras: "segredos, mentiras e fofocas".

Entre as casas mais importantes em Rosewood, estão a dos Kahn, que Jenna havia herdado do marido e a dos DiLaurentis, pertencente a Alison DiLaurentis.

Alison sempre fora minha vizinha e melhor amiga — e ocasionalmente minha prima — , e a grande Abelha Rainha do colégio havia se tornado uma verdadeira rainha.

É claro, Ali não entrou de fato para a realeza ou coisa do tipo; ela assumiu os negócios da família DiLaurentis, fez uma série de investimentos bem sucedidos e se tornou extremamente influente, não apenas em Rosewood, mas no país inteiro, ganhando o apelido de Rainha dos Negócios. Ela já está com seus 26 anos de idade, está sempre com um sorriso alegre e esbanjando gentilezas. É unha e cutícula com o corpo estudantil, contribui generosamente para os fundos educacionais de Rosewood e apoia causas sociais como abrigos para animais e orfanatos. Ela, na verdade, havia se tornada a vida e a alma de nossa bela cidade de Rosewood.

Quando tínhamos apenas 18 anos de idade, Ali descobriu que era irmã mais velha de Charlotte DiLaurentis, que ela acreditava ser apenas sua amiga das férias de verão, CeCe Drake. Mas eis que, quando tínhamos 23 anos, descobrimos que eu, na verdade, não era filha de minha mãe e sim de Mary Drake, irmã gêmea da falecida mãe de Ali, que por sua vez era a real mãe de Charlotte o que a tornava minha irmã e prima de Ali. Pode parecer complicado, mas é algo comum de se acontecer com os habitantes de Rosewood.

Charlotte tem agora uns 24 anos. Ali continuou tratando Charlotte como sua irmã, mas desde que ela saiu do hospital psiquiátrico Welby, antes mesmo de descobrir que éramos irmãs, Charlotte tem sido uma rebelde sem causa e uma constante fonte de preocupação e problemas para mim e Ali. Porém, mesmo com os eventos que a levaram a ser internada em uma clínica psiquiátrica, todos em Rosewood deram apoio e demonstram gostar muito de Charlotte.

Como eu disse antes, em Rosewood todos estão sempre prontos para fofocar. Todos sabiam que Alison e Jenna não se davam bem no ensino médio, afinal Alison foi responsável pelo a acidente que causou a cegueira de Jenna, mas todos perceberam uma aproximação repentina entre elas. Depois da morte de Noel, a aproximação ficou ainda mais visível. Elas eram sempre vistas juntas, e especulava-se que, ao final de seu período de luto, Jenna tomaria um cargo importante nas empresas DiLaurentis. Aparentemente isso seria correto. Com a morte de Noel, os negócios da família Kahn ficariam às traças, uma vez que Jenna não tinha noção de como administrar uma empresa, e a família iria a falência. Alison que estava indo com suas empresas de vento em poupa, poderia conceder um cargo de certa importância a Jenna, deixando o passado de lado.

Os comentários envolvendo Alison e Jenna começaram fazia pouco mais de um ano, porém um redemoinho de fofocas envolvia Ali havia muito tempo. Ao longo de todo o período de tratamento psiquiátrico de Charlotte, Alison teve uma série de interesses amorosos, e todos eram suspeitos para Melissa e suas companheiras de fofoca. Não é exagero dizer que por pelo cinco anos toda a cidade acreditava assiduamente que Ali se casasse com um desses ricaços da costa leste. O último deles, um médico do Welby chamado Archer Dunhill, com quem Ali namorou por cerca de um ano e chegou até mesmo a noivar do sujeito. Todos achavam que, se não fosse pela oferta de emprego que Archer recebeu de um hospital muito requisitado da Califórnia, Alison dificilmente teria escapado de subir ao altar. Isso e um outro fator: a volta inesperada da Califórnia de sua cunhada acompanhada de seu irmão mais novo. Outra de nossas melhores amigas, Aria, esposa do irmão mais velho de Ali e meu também, foi morar na casa dos DiLaurentis enquanto Jason passava uma temporada na África fazendo serviços humanitários e conseguiu, segundo Melissa, colocar Archer em seu devido lugar.

Não sei exatamente o que ela quer dizer com "seu devido lugar", mas sei que Aria não gostava nem um pouca da ideia de um homem desconhecido tomando o controle das empresas da família DiLaurentis, comprometendo assim, sua parte nos negócios da família.

Não sabia exatamente o que Aria pensava sobre Jenna assumir um cargo importante nas empresas dos DiLaurentis quando soube disso. Obviamente era vantajoso para ela que Ali não fizesse isso. Aria era sempre agradável — considerando o nosso histórico — com Jenna quando se encontravam. Mas Melissa diz que isso não prova nada.
Essas eram nossas preocupações em Rosewood nos últimos anos. Discutíamos sobre Ali e seus romances sob todos os angulos.

Mas o universo tinha dado um giro de 360 graus. De conversas tranquilas sobre prováveis contratos de trabalho entre Jenna e Alison e discussões sobre possíveis presentes de casamento que Ali receberia fomos lançados à uma tragédia.

Remexendo esses e outros diversos assuntos em minha mente, fiz minhas conclusões de forma lógica. Eu não tinha nenhum caso em especial para cuidar, o que foi ótimo, pois meus pensamentos sempre voltavam ao mistério da morte de Jenna. Ela teria mesmo tirado a própria vida? Claro que, se tivesse feito isso, não teria deixado um bilhete para explicar o que tinha feito?

Quando foi que a tinha visto pela última vez? Não fazia mais de uma semana. Ela me parecia normal, considerando, bem, considerando tudo. De repente me lembrei de que a tinha visto, mesmo que não tivéssemos nos falado, ontem mesmo. Ela estava caminhando com Charlotte, o que me deixou surpresa porque não fazia ideia de que ela estivesse em Rosewood. Eu achava que ela havia brigado com Ali, não a tínhamos visto por aqui pelos últimos seis meses. Elas caminhavam lado a lado e Jenna falava com uma expressão bastante preocupada. Posso afirmar sem dúvida alguma que foi nesse momento que tive uma previsão dos eventos futuros. Nada concreto ainda, mas uma vaga sensação sobre como as coisas estavam se encaminhando. Essa aproximação entre Charlotte e Jenna no dia anterior me impactou de forma desagradável.

Eu ainda pensava nisso quando me vi diante de Alison.

— Spence! — ela exclamou. — Exatamente quem eu estava procurando. Que uma situação horrível.

— Então você soube?

Ela assentiu. Eu podia perceber que ela estava afetada pelo ocorrido. Ela tinha uma aparência cabisbaixa que destoava de seu habitual jeito alegre e juvenil.

— É pior ainda do que você imagina — ela disse baixinho. — Preciso muito falar com você, Spence. Você pode vir comigo agora?

— Sério? Tenho três consultas marcadas, e devo voltar ao meio-dia para ver
os pacientes no consultório.

— Então está tarde, ou melhor, venha jantar comigo esta noite. Às 19h30? Tudo bem para você?

— Ótimo! Mas o que há de errado? É algo com a Charlotte?

Não sei por que disse isso, talvez fosse porque frequentemente era sobre a Charlotte.

Ali me olhou confusa como se não tivesse entendido. Comecei a perceber que havia algo muito errado. Há muitos anos eu não via Alison tão perturbada dessa maneira.

— Charlotte? — ela disse. — Ah! Não, não é sobre a Charlotte. Charlotte está na Filadélfia — ela se apressou em dizer. — droga! Lá vem a sra. Reynolds. Eu não quero ter de falar com ela sobre esse assunto. Vejo você hoje à noite, Spence. Às 19h30.

Sacudi a cabeça afirmativamente, e ela saiu apressada e me deixou pensando. Charlotte na Filadélfia? Mas ela estava com certeza em Rosewood na tarde anterior. Ela deve ter retornado para Filadélfia ontem à noite ou hoje cedo pela manhã, ainda assim o jeito de Ali me passou uma impressão bastante diferente. Ela falou como se Charlotte estivesse longe dali há meses.

Não tive tempo para pensar mais sobre esse assunto. Sra. Reynolds já tinha me alcançado, sedenta por informação. Sra. Reynolds tem todas as características de minha irmã Melissa, mas lhe falta agilidade para pular direto para as conclusões, o que dá um toque de superioridade às fofocas de Melissa. Sra. Reynolds estava sem fôlego e inquieta.

Não era triste o que havia acontecido com a Jenna? Muitas pessoas estão comentando que, com toda a certeza, ela consumia drogas havia muito tempo. Era tão maldosa a maneira como as pessoas comentavam. E, ainda assim, o pior era que havia sempre um tom de verdade em algum lugar dessas teorias conspiratórias. Estão dizendo também que Ali havia descoberto isso e havia rompido o contrato de trabalho — porque segundo as teorias existia um contrato de trabalho. Ela, Sra. Reynolds, tinha provas incontestáveis disso. É claro que eu deveria estar sabendo tudo a respeito, os médicos sempre sabiam. Mas alguma vez comentavam por aí?

Tudo isso era dito com os olhos atentos sobre mim, para ver como eu reagia a essas declarações. Felizmente o longo convívio com Melissa tinha me ensinado a manter um rosto sem expressão, e eu estava pronta pra fazer pequenas observações que não me comprometessem.

Por fim, parabenizei Sra. Reynolds por não aderir a fofocas maldosas. Um ótimo contra-ataque. A deixei confusa, e antes que pudesse retrucar, eu já tinha seguido adiante.

Fui para casa pensativa, para encontrar vários pacientes me esperando no consultório.

Já havia dispensado o último e estava no jardim pensando por alguns minutos quando percebi que mais uma paciente me aguardava. Ela se levantou e caminhou na minha direção enquanto eu permanecia surpresa.

Não sei por que deveria estar surpresa, mas Paige McCullers me parecia ter uma saúde de ferro, ela parecia estar acima de simples males estares.

Paige havia se tornado treinadora em um instituto de natação que Alison havia criado há uns dois anos, quando decidiram esquecer o passado por um bem profissional. O apartamento de Paige havia sofrido uma infestação de cupins há alguns dias atrás e Alison oferecera um quarto de hóspedes em sua casa para que ela não precisasse pagar por um hotel; tem como ser mais amigável que isso? Paige possuía uma aparência ameaçadora, ela tem um olhar severo e um sorriso pouco expressivo que fez com que me sentisse como se eu fosse uma das empregadas da casa dos DiLaurentis que precisaria correr para salvar minha vida sempre que a ouvisse chegar.

— Bom dia, Spencer — disse Paige. — Eu gostaria que você pudesse examinar meu joelho.

Dei uma olhada, mas, para ser sincera, não fui esperta ao fazer isso. O relato de Paige sobre supostas dores era tão pouco convincente que se tratasse de alguém de caráter duvidoso eu diria que era uma história falsa. Passou pela minha mente por um instante que Paige poderia ter simplesmente inventado essa dor no joelho com a intenção de me interrogar sobre a morte de Jenna, mas logo percebi que, ao menos nesse momento, eu havia feito um mal julgamento. Ela fez apenas um breve comentário sobre tragédia e nada mais.

Porém, ela parecia disposta a ficar por ali conversando.

— Bem, muito obrigada por essa pomada, Spencer — ela disse por fim. — Não que eu ache que vá ajudar em alguma coisa.

Eu também não achava, mas defendi por obrigação. Afinal, atrapalhar não iria, e devemos abraçar às ferramentas da profissão.

— Eu não acredito em todas essas drogas — disse Paige, seus olhos corriam com desprezo pela minha coleção de frascos. — Drogas fazem tão mal. Veja o hábito das anfetaminas.

Eu senti uma pequena indireta no comentário da Pururuca, digo, Paige.

— Bem, no que diz respeito a isso...

— É bem comum na alta sociedade.

Tenho certeza de que Paige estava cheia de segundas intenções. Não tentei argumentar com a desgraçada.

— Apenas me diga, Spencer — disse Paige. — Imagine que você seja uma escrava das drogas. Existe alguma cura?

Que mulher dissimulada! Mas não se pode responder a uma pergunta dessa assim de improviso. Fiz uma pequena palestra sobre o assunto, e ela ouviu com bastante atenção. Eu ainda achava que ela estava atrás informação sobre Jenna.

— Agora, por exemplo, o Xanax... — continuei.

Mas ela não parecia interessada em Xanax. Ela mudou de assunto e me perguntou se era verdade que existiam certos venenos muito raros que não podiam ser detectados.

— Ah! — eu disse. — Você andou lendo livros de suspense.

Ela admitiu que sim.

— A essência de um livro de suspense — eu disse — é ter um veneno raro, se possível algum da América do Sul, do qual ninguém ouviu falar, algo que tribos selvagens usam para envenenar suas flechas. A morte é instantânea, e a ciência ocidental é impotente para detectá-lo. É a algo assim que você está se referindo?

— Sim. Isso existe?

Balancei minha cabeça em resposta.

— Creio que não. Existem algumas substâncias, é claro.

Dei várias informações sobre essas substâncias, mas ela parecia mais uma vez ter perdido o interesse. Ela me perguntou se eu tinha algum veneno em meu consultório, e, quando disse que não, acho que caí em seu conceito.

Ela disse que tinha que voltar, e eu a vi passar pela porta do consultório no instante em que o alarme do meu celular anunciava a hora do meu almoço.

Eu jamais suspeitaria que Paige gostasse de histórias de suspense. Depois de tudo que nós passamos na adolescência, achei que nenhum envolvido gostasse mais. Era de um tanto pitoresco imaginá-la saindo de seu quarto de hóspedes para brigar com uma empregada delinquente e então retornar a uma confortável leitura de Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado, ou algo do gênero.



Pretty Little Liars: It Happened That NightOnde histórias criam vida. Descubra agora