sétima

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estou dando adeus.

porque a única coisa que me fazia querer ficar
era ela.

e estou cansado de dizer
ela

tudo parece um borrão.
tudo parece alto demais — e juro que não estou chapado.

embora tudo que eu tenha escrito
tenha sido
sob os efeitos
de drogas ilícitas
e aqueles pensamentos
amarrotados de poemas exasperados.

eu perdi tudo.
eu a perdi.
e,
droga,
eu me perdi junto.
se é que é possível.

os olhos azuis se fecharam,

os carinhos com mãos quentes cessaram e eu congelei, como nós sempre havíamos temido.

a risada dela sumiu e só sobrou o silêncio dentro das paredes que eram cheias de perfume de cereja.

o meu primeiro som favorito era o da voz dela dizendo que me amava da terra até a ponta de todas as estrelas.

e eu sentia que
seria e poderia
viver pra sempre.

e sem as mãos e sem os risos e sem olhos
e sem ela
eu também não era nada
daqueles versos
sobre como eu poderia vencer o mundo.

e também
não era nada
além do choro
e do som dos meus soluços
ouvindo Belchior e Smells Like Teen Spirit.

talvez eu deva fugir para o Alasca e morrer congelado
ou talvez eu deva ir pro Saara e ver se o calor do deserto pode me aquecer como ela aquecia.

poderia tentar buscar o amor
mas tudo parecia preto no branco
depois de passar tanto tempo em um mar colorido.

há uma oitava coisa,
que não foi citada como tal
mas era o modo
em como ela dizia
que estaria lá
no fim na queda.

eu me sentia tão alto.
mas tudo bem.
tudo bem.
tudo bem.

se eu pudesse sentir de novo
seus braços quentes
ao redor da minha cintura.

cartas escritas sob efeito de drogas ilícitas | √Onde histórias criam vida. Descubra agora