Capítulo 02

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APENAS 5 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.

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Acordei com alguém cantando e um barulho. Abri os olhos e Fred estava na sala, com um fone de ouvido, cantando muito alto e desafinado, enquanto arrumava a sala. Chamei por ele, mas ele não ouviu, então me levantei e arranquei os fones do ouvido dele.

-Que merda, Fred! Dá pra parar com essa gritaria?

Ele sorriu.

-Sabe pequena, que eu me lembre, você era bem mais divertida. A Julia era a careta e você a divertida, acho que vocês inverteram os papeis.

-Não me chama de pequena.

Subi e tomei um banho. Quando desci, a sala estava quase limpa.

-Parabéns! – falei.

-Cara de pau. Você deveria estar ajudando, não me parabenizando.

-Você dormiu aqui, tem que pagar pelo teto que cobriu sua cabeça de alguma maneira, não é?

Ele abriu um enorme sorriso.

-Vamos fazer um trato, pequena. Eu durmo mais uma noite aqui e arrumo a cozinha também.

Cruzei os braços.

-Você não tem pra onde ir.

-Você me pegou. Eu odeio arrumar cozinha.

-Porque não fica na casa da Julia?

A expressão dele fechou totalmente.

-Ainda não quero vê-la. Não acredito no que ela fez com você, não acredito que ela seja assim.

Aquilo me assustou. Ele não sabia que eu havia inventado tudo?

-Você não tem falado com sua mãe esses dias?

-Não. A última vez que nos falamos ela começou a defender a Julia e eu não quis mais ouvir. Ela tem que ouvir, a Julia tem que saber que o que fez não tem perdão. Vocês são como irmãs, Diana. Ela não podia ter feito isso.

Me desesperei, me aproximei dele para desmentir tudo o que eu havia inventado, mas ele me puxou e me abraçou. E quando seus braços fortes me rodearam, esqueci o que queria falar. Fechei os olhos e deixei que ele me embalasse. Ficamos assim um tempo, até que ele falou, ainda sem me soltar.

-Eu sinto muito Diana. Sinto muito que a sua vida seja sempre essa merda. Mas admiro a forma como você é forte e segue em frente. Espero que um dia possa perdoar a Julia por tudo o que ela te fez.

Eu tinha que falar. Tinha que contar a verdade. Me afastei dele, mas ele pegou minha mão.

-Vamos comer alguma coisa.

Fomos até a lanchonete perto da minha casa e só então me dei conta de como estava faminta. Devorei três panquecas em poucos minutos e ele ficou tirando uma com a minha cara:

-Você come igual um homem.

-Cala a boca.

-Por falar em comida, não acredito que você use drogas depois de tudo o que passou com a sua mãe.

Olhei para ele e ele estava sério.

-Diana, você quer ter a mesma vida que ela?

-Você não sabe do que está falando.

-Eu sei o que eu vi. Eu cheguei na sua casa e havia camisinhas espalhadas pela sala e pela cozinha, cada alimento na despensa estava batizado com alguma droga e sua geladeira, tem mais bebidas alcoólicas que água. Isso é por causa do seu noivo? É pela traição da Julia?

Eu queria responder que não, que não era nada disso, que eu era idiota mesmo, sem precisar de um motivo. Mas algo que ele me disse, ficou martelando na minha cabeça. Eu tinha a mesma vida que a minha mãe, a mesma maldita vida. As bebidas, drogas, os homens, a gravidez indesejada. A mesma coisa. Seria como ela. Constatar isso revirou meu estômago e a ânsia me tomou. Larguei o prato com as panquecas e saí correndo. Ouvi Fred chamar por mim, mas não quis mais ouvir. Corri para casa e vomitei tudo o que havia comido.

Depois de tomar outro banho, me joguei na cama e chorei. Fred bateu na porta e me chamou, mas não respondi. Ele ficou ali por horas, batendo na porta e chamando por mim. Até que eu adormeci.

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