Indiscutível verdade

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Liguei pelo menos umas 37 vezes pro telefone dele, mesmo sabendo que ele só não atendia de birra. Motivos pro casamento, motivos pra banda? Eu passei a noite inteira sem dormir em busca de algum! Minha incapacidade em compor e de ficar na banda não era por não aceitar Kou e sim por não conseguir mais ficar sem ele. Eu o queria sempre mais e cada vez que desejava isso aproximava mais Aika de mim.

Nossa primeira vez foi realmente por acaso, algo que aconteceu tão naturalmente que eu não poderia negar, eu já namorava Aika. Foi meu primeiro erro, não via problema em ele ser um homem, não seria a primeira vez que iria para cama com um.

Kou tinha uma visão tão bem focada daquilo, eu teria sim deixado Aika enquanto ainda éramos apenas namorados. Mas Uruha era mais centrado do que eu, aquilo era sexo e terminava para ele depois que gozávamos, mas era eu que não tornaria mais a esquecer os toques do loiro, atualmente moreno e mais lindo do que nunca.

Depois que aconteceu, eu consegui ficar três meses sem a presença do corpo de Kou, apresentei Aika a banda pra ver se com isso deixava claro que eu amava outra pessoa e foi graças aos esforços dela que nosso namoro ficou sério. Três meses e lá estava eu novamente em sua cama, eu já sabia que aquilo era só sexo e foi mias fácil fingir, guardando os detalhes de seu rosto tão lindo expressando o quanto sentia prazer. Eu sabia que não o amava tão bem como sabia que não poderia mais te-lo até que aquela atração fatal se tornasse mesmo em algo forte. Para mim, Uruha sabia bem o que era sexo.

E mais três longos meses se passaram, meu carinho por Aika não diminuiu, mas meu desejo sim. E mais uma vez me vi na cama daquele loiro tão perfeito e o desespero passou a fazer parte da minha vida. Não chegou a passar dois dias para eu arrumar mais uma desculpa esfarrapada qualquer que me levasse ao apartamento dele, bem como no dia seguinte e no outro.

Entrei em crise e pedi Aika em casamento, me sentia tão bem ao lado dela e desejei buscar nela forças para não me apaixonar por quem não podia, o cara que nunca gostou de manter relacionamentos, o cara que sabia tão bem fazer apenas sexo. Procurei pelo desejo esquecido que tinha por Aika e jurei a mim mesmo nunca mais acabar na cama de outra pessoa.

Duas semanas, foi o tempo que agüentei. E então novamente a mesma desculpa no dia seguinte, jurando ao guitarrista loiro que nunca mais aconteceria. Dois dias depois eu estava lá e o fantasma de Kou me perseguiu em todos os lugares em meus pensamentos e então o dia de ontem, quando mais uma vez nos consumíamos como dois animais famintos, me exaltei no que foi a nossa transa mais gostosa, se é que tinha como melhorar. Eu disse que o amava entre o efeito do orgasmo arrebatador, mas aos gritos Kouyou não ouviu, ao que agradeci muito depois.

– Eu só posso estar enlouquecendo – disse ao nada desistindo de vez de falar com ele pelo telefone.

– O almoço está... Ué onde está Kouyou-san...Oh por Kami, Yuu você está chorando, o que houve? – vi Aika correr até mim num instante.

Chorando? Não percebi, não sei se são lágrimas de raiva ou de dor... provavelmente raiva de mim mesmo. Kou estava certo, não podia estragar o The GazettE por uma fraqueza tola.

– Aika-san me desculpe – disse tirando o pequeno anel dourado do dedo, convenhamos, era o melhor a se fazer, eu ia ser um saco pesado atrasando a vida dela e toda essa pressão e culpa estava acabando com minha vida profissional. Se tivesse que escolher entre qual dos meus problemas ia resolver primeiro, desfazer esse casamento era a primeira a ser feita. – Você é uma ótima pessoa – deixei a aliança em cima da mesa e segui na direção da porta.

– YUU – o grito dela saiu como uma coisa só, como que se ela estivesse segurando o ar involuntariamente e então me no chamado no desespero. Parei sem olhar para ela. – Eu não entendo, o que fiz de errado? Foi porque chamei Kou-san aqui? Me desculpe eu só queria que vocês ficassem bem – mesmo sem vê-la eu podia diferenciar as palavras ditas entre soluços e lágrimas. No fim ela só queria ajudar.

– Você não fez nada de errado não. Sou eu quem não posso. Com licença, tenho muito trabalho a fazer. – Eu ficaria com vontade de me socar e com razão, mas tinha que ser feito.

.:.

– Por favor Yuu é importante mesmo, se tiver só de cueca vem assim como ta, mas chega logo aqui – A voz de Kai estava desanimada pra caramba, a reunião terminou mais cedo e ele chamou a todos com urgência no estúdio.

Corri pra la, não estava pronto para encarar Kouyou eu estava com muita vergonha, mas não tinha escolha e tínhamos trabalho a fazer. Pelo menos pela hora que já era eu já tinha feito alguma coisa e espero que Uruha também tenha feito. Por outro lado, também devido ao horário aposto que vamos passar a noite na gravadora!

O clima na nossa salinha não era dos melhores não, mas Ruki e Reita tentavam animar as coisas. Eu não entendia por que estávamos ali na mesa e não na acústica dedilhando coisas que se encaixassem. Não entendi, principalmente, por que Uruha tinha decidido se sentar justamente na minha frente. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, ele também deve ter chorado de raiva pela minha ignorância.

– Kai por que estamos aqui e não la com os instrumentos? – vi Uruha fazer a pergunta que dançava em minha mente. Na verdade a banda nem precisava estar ali a base na bateria já estava pronta.

– Porque tive uma longa e exaustiva reunião, dobrar aquele cara não é fácil – respondeu o baterista cansado.

– E nosso atraso vai nos custar o que? – quis saber Reita

– Férias – Kai respondeu direto e não apenas eu, mas todo mundo o olhou com espanto, não era assim tão bom tirar férias quando a banda estava em alta, pois bandas com talentos diferenciados surgem às vezes da noite para o dia. – Claro que não são féééééééééééérias, mais especificamente até o casamento do Aoi na terça que vem.

– Pêra aí o que uma coisa tem a haver com a outra? – perguntou Ruki.

– Ah eu fiquei sem alternativa pra justificar todo esse atraso, louco pra dizer ao diretor que não temos uma melodia pronta é que eu não sou. Aí me agarrei na única coisa diferente que está acontecendo...

– E o cara engoliu numa boa? – Ruki falando impressionado, acho que todos estávamos.

– Ele está se divorciando – Kai revirou os olhos deixando claro que não se importava nem um pouco com a vida pessoal do diretor da PS – Aí ficou me contando de como foi quando casaram – Kai fez sinais com os dedos abrindo e fechando ante uma orelha – E que imaginava por tudo que o Shiroyama está passando e bla bla bla férias pra banda até o casamento porque um noivo estressado estressa também tudo ao seu redor e então temos até cinco dias depois do casamento pra entregar o trabalho fechado já.

– Oh! – foi tudo o que disse, é claro que o diretor não fazia a menor ideia de TUDO o que eu estava passando, até porque meu casamento IA ser todo tradicional, em outras palavras Aika já tinha cuidado de tudo, até o kimono que eu deveria usar. – Bem... – comecei, tinha que esclarecer pelo menos o mínimo para eles – O problema Kai, é que na verdade.. er.. não vai mais ter casamento – justifiquei minha fala erguendo a mão direita onde não repousava mais a aliança de noivado, tão leve e delicada aos olhos, mas tão pesada enquanto estava em meu dedo.

Tentei sobre tudo não olhar para Kou, mas foi inútil, pois o outro guitarrista me olhava de uma forma que eu não podia decifrar. Quando percebeu meus olhos sobre si, ele saiu da mesa imediatamente e eu já esperava por isso, mas ainda o segui com o olhar até ele parar diante da geladeira e procurar algo para tomar. 

Irresistível atraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora