Prólogo

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Prólogo

- Algo tem que ser feito quanto a isso.

- Concordo plenamente.

- Já passou da hora, se minha opinião realmente importa.

Os três anciões se olharam, os olhos semicerrados e uma fumaça cinzenta saindo de suas bocas, os cabelos grisalhos caindo sobre as costas, e decisões importantes a serem tomadas, o mundo pesava sobre eles, Sempre fora assim naquele lugar.

A lua saiu cinzenta de trás dos montes, sozinha em seu reinado, noite sem estrelas, noite de maldição e de morte, longe daquelas cavernas dentro do coração da montanha algo terrível começava a acontecer, como que fosse a origem de todo o mal, mas o mal nunca se origina do nada, dentro de todos existe o bem e o mal. No entanto em dados momentos, a grande maioria optava pelo mal, quem poderia julgá-los? Sendo que o caminho mais fácil é sempre mais atraente.

E assim foi, a lua no alto sem estrelas, em poucos momentos se tornou vermelha de sangue, os anciões continuavam olhando, o mal despontava em uma nova era, e o futuro para todo o mundo seria sombrio.

- Afinal de contas onde esta ele?

- O mensageiro?

- Sim.

-Se acalme meu caro, ele logo chegara.

Um vento gelado começou a soprar, o fogo ardia para mantê-los aquecido, era a espera o que mais maltratava, era o velho sábio que não saia de seu lugar, era o oráculo que tinha sumido, e ali somente os anciões, e eles não sabiam o que fazer.

- O velho sábio tem estado quieto por tempo demais, vocês não acham?

- Ele tem feito o que sabe de melhor; Pensado. O que mais poderia fazer?- Um breve silêncio se fez após esta frase.

O cavalo dava seu máximo, guerreiro como sempre, cavalo e cavaleiro fugiam o mais rápido que podiam, seus ferimentos não importavam, tinham que cortar a noite em cavalgada, cavalo e cavaleiro dando o máximo, e sabiam que muita coisa dependia daquilo, os ferimentos doíam, é claro que doeriam. "Cada cicatriz, cada corte e cada gota de sangue, Conta uma própria historia" dizia o velho provérbio.

Cavaleiro, anciões e um povo amargurado, sonhavam com dias melhores, e por aquele objetivo em comum, até a vida dariam, e não diriam ser isso loucura, quem ousaria duvidar da coragem deles? O cavalo seguia implacável, como tinha que ser, o braço sangrava incessantemente, o mundo começava a girar, ele piscou seus olhos negros tentando mais uma vez focar o caminho, o cavalo conhecia bem o destino, tudo o que tinha que fazer era se manter firme na montaria.

E assim foi cortando noite adentro, os ferimentos a sangrar, os olhos querendo se fechar, a lua vermelha de sangue a cima de dele, cabelos esvoaçantes ao vento, como tinha que ser, já não era perseguido faz tempo e, ainda assim cavalgava sem trégua, quando as montanhas começaram a crescer em sua frente.

O cavalo se permitiu diminuir o ritmo, para um leve trote, em logo em seguida começou a marchar, quase que sem forças, cavaleiro também, alguns homens saíram ao seu encontro, no exato momento em que ele caiu, ao tentar desmontar.

- Um curandeiro! – Alguém gritou

- Não! – respondeu em um fio de voz – me leve aos anciões.

E assim foi feito, os anciões estavam em uma caverna, que servia como salão, sentados os três um ao lado do outro, a fogueira ao centro ardia em chamas, e estralava viva, irradiando cores vermelhas pelas paredes. Entrou na sala apoiado em outro alguém, o braço ardia de dor, disso somente ele sabia, os olhos tentando focar, procurado pelos três velhos homens, mas tudo que via era a fogueira, até que caiu novamente sobre seus joelhos.

Neste momento os três levantaram de seus acentos e foram ate ele.

- Você chegou meu jovem, têm boas noticias?

- Diga-nos logo, por favor- disse outro

- silêncio! – exigiu o terceiro – deixem-no respirar, e procurar as palavras certas.

O jovem cavaleiro agradeceu em silêncio, e levou a mão até pescoço, puxando uma pequena corda, com um pequeno embrulho.

- missão bem sucedida- alguém gritou.

Gritos de viva se seguiram antes do amanhecer, e uma parte fora concluída, uma grande parte, diga-se de passagem. Das dificuldades somente o cavaleiro conhecia, mas em nada disso pensava enquanto era levado ao curandeiro, os anciões estavam novamente em volta da fogueira, os olhos semicerrados, e o pequeno embrulho, faltava pouco, faltava o velho, o sábio, somente ele saberia o que fazer.

Mais uma vez a espera, com o tempo o velho perdeu a pressa, se nisso existia sabedoria, ninguém entendia, por o que o tempo não parava, enquanto tinha que esperar pelo velho, varias considerações na mente de todos, mas ninguém ousava falar. E lentamente o velho entrou pela sala, um homem alto e esguio, de olhos ligeiramente esbranquiçados pelo tempo, um dia foram verdes, apoiado em seu cajado.

- O jovem conseguiu não foi? Eu disse que conseguiria – sua voz era autoritária, e firme, não condizia muito com sua idade.

- É claro Nosrevelc, Como você disse.

- Desculpe nossas duvidas.

- Não devem desculpar-se pelas duvidas, as certezas que guardam o perigo - respondeu o velho - Deixem que eu veja o que ele trouxe – Completou.

Segurou firmemente na palma de sua mão, o pequeno embrulho que o jovem trouxera, como que considerando os próximos passos daquela caminhada sem fim, ninguém sabia ao certo sua idade, nem os muitos nomes que carregava sobre si, mas poucos duvidavam de sua sabedoria e suas palavras. Apertou o embrulho em suas mãos sentindo um pequeno pingente dentro dele, neste momento o silêncio era quase que total, e somente os estalos feitos pelo fogo quebravam a concentração de alguns.

- Então se renova a esperança meus caros, hoje temos motivos para comemorar, a esperança vira de outro lugar, um longínquo lugar, sobre o qual pouco eu conheço, e nem os outros que vieram antes de mim conhecem, mas lá tem muita coragem, eu sei que tem – uma breve pausa, considerando o que aconteceria a seguir – e é de lá que vira nossa esperança.

Abriu o embrulho, e dentro dele saiu uma pequena corrente prateada, que brilhava reluzindo o fogo a sua frente, a lua de sangue começou a mudar, voltar à cor original, brilhando prata e forte a ponto de cegar momentaneamente os desavisados. Nosrevelc levantou a corrente de prata para o alto de sua cabeça, e um pingente apareceu, uma lua nova na sua ponta, brilhando e pulsando viva, reluzindo o fogo. O mago fechou seus olhos esbranquiçados e começou a falar palavras, balbuciando muitas delas, a ponto de ninguém mais entender.

O pingente do luar brilhava cada vez mais, o velho prosseguia, perdido dentro de sua mente, ninguém nada entendia, ate que parece que o tempo parou, dentro daquele lugar. Em poucos momentos os olhos do velho se abriram, ele beijou o pingente, e suas palavras todos entenderam.

- A esperança de outrem, hoje é a nossa. A esperança se renova com sua vinda para nós, podemos vencer eu sei que podemos – novamente disse palavras que ninguém entendia jogou o pingente no fogo, e o tempo parecia seguir lentamente dentro daquelas paredes de pedra, as chamas de vermelhas amareladas, se tornaram azuis, o colar sumiu dentro de instantes tudo voltou ao normal, o dia começava a amanhecer.

- E agora?- um dos três perguntou.

- Qual o próximo passo Nosrevelc?- outro

- Nos aponte o caminho, qual a direção?

- Vocês parecem jovens - Começou o mago ainda perdido dentro de sua nebulosa mente - Nem tudo acontece tão rápido, algumas coisas têm o seu tempo certo, agora nos esperamos, vai chegar à hora de lutarmos, todos sabemos disso, mas no momento nos vamos esperar à hora certa. Não temam meus amigos, confiem, eu sei do que estou falando. Descasem e poupem suas forças, e vejam bem o que o destino nos trará, Vamos esperar.

Crônicas do reino perdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora