Capítulo 27

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Ouço água caindo de algum lugar.

Sequer me movo.

É apenas uma simulação. Deve ser uma simulação. É sempre uma simulação.

Saiam da minha cabeça...

Encaro a janela. Quero ver nuvens de chuva, quero ver estrelas brilharem, a lua cheia iluminar a cidade, ou até o Sol impiedoso aquecendo o asfalto. Quero ver isso tudo fora daqui, sem estar detrás de uma janela, quero poder sentir as gotas de chuva caírem no meu corpo e o vento gelado arrepiar meus braços.

Eu vou sair daqui.

Me recuso a acreditar que estou ficando louca.

Não sou louca.

Não sou como eles.

Não sou como aquela família.

O que me restou para ser?

Quando estou deitada é quando mais me lembro que estou viva. Meu estômago se comprime e me lembra de comer, meus ossos cortantes machucam a pele por encostar no chão, o pressão das algemas fica mais forte como se me empurrasse para a terra.

Me engula. Peço a terra. Me leve como os mortos e me tire desse sofrimento.

Não. Eu tenho que aguentar. Eu vou sobreviver. Vou fugir.

Preciso. Sair. Daqui.

As paredes parecem estar encolhendo. Cada vez mais próximas.

Num segundo tenho certeza: agora vão me matar. As paredes se aproximando vão me comprimir até a morte.

Me arrasto sem saber para onde ir. Minha respiração oscila, meus batimentos estão descontrolados. Não!

- Não! Não! Não podem fazer isso! - grito e bato no vidro suplicante, as paredes continuam se aproximando. Estão próximas demais, perto demais.

Abraço as pernas, fico o menor possível, quero encolher. Fecho os olhos com força. Repito pra mim mesma: não posso morrer assim. Não posso morrer assim.

Nada acontece.

Os abro. Tudo está normal. As paredes estão em seu devido lugar. Eu deveria estar aliviada mas a sensação de medo perdura, não saio da posição fetal, a respiração é a de alguém que está a beira de um ataque de nervos.

Tampo os ouvidos com força, tenho que dizer a mim mesma que tudo vai ficar bem, que as paredes não estão se aproximando, que eu vou sair daqui.

Duas mentiras, uma verdade.

Levanto meu olhar assustado para Sherinbew, o guarda me olha com pena, culpa, quando nota meu olhar sobre ele, põe os olhos em um canto qualquer da sala.

Olhe nos meus olhos, seu covarde. Veja o que estão fazendo comigo.

Ouço gritos do lado de fora.

Ele se vira para trás, isso me dá a certeza que eles são reais. Por que haveria gritos dentro do castelo?

Isso me dá uma pontada de esperança. Vou sair daqui e posso sair hoje.

O soldado pega o walktalk e tenta se comunicar. Há apenas chiados do outro lado. Mais uma dose de esperança.

As sirenes soam, alguém começa a chutar a porta furiosamente, um pequeno sorriso surge nos cantos da minha boca. Sherinbew saca a arma da cintura e se aproxima da porta pronto para atirar.

A arrombam, um vulto atira tão rápido no meu guarda que mal tenho tempo de acompanhar. É um resgate! Lince tem o rosto sujo de sangue e uma 38 nas mãos, ela usa uma roupa completamente preta e um cinto cheio de armas de todos os tipos.

Rayrah Scarlett: O Coração Pulsante de Evbád [RETIRADA EM 25/10/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora